O Congresso do PS deste fim-de-semana foi, sem sombra para dúvidas, exímio no espectáculo mediático: o espaço, a gestão da imprensa, tudo. No entanto, muito honestamente, não vi um conteúdo minimamente ao nível da embalagem.
O grande partido da esquerda «moderada», «responsável» e «moderna», tal como se auto-intitulam, passou três dias a fazer o culto do chefe e a «malhar» no Bloco. Fez lembrar os minutos do ódio do 1984 de Orwell, no caso, o fim-de-semana do ódio. O único propósito era levar os militantes à catarse e à explosão, sem lhes incutir absolutamente nenhuma ideia nova. As melhores demonstrações de vontade de debate foram intervenções com poemas à Edite Estrela e com discursos de uma lógica rara, como o daquele senhor que não encontrava nenhum fundamento para o casamento homossexual por nunca ter visto dois cavalos a acasalar. Enfim, uma passerelle onde os proponentes às listas vinham entregar rosas (umas metafóricas, outras reais) ao Querido Líder que, inchado, sorria com o seu casaco pendurado e mangas arregaçadas. A política-espectáculo pura e dura. É isto que o actual Partido Socialista tem para apresentar: imagem. E o povo propõe-se a escolher, pelo melhor certamente.
[imagem retirada daqui]