A máfia da blogosfera
24
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:53link do post | comentar

Concordo totalmente com Mario Rizzo sobre a questão do casamento (casamento, ponto - não estou a falar do casamento consoante o género dos outorgantes). Deixo aqui o primeiro parágrafo:

 

«I suggest that it should be the same as in contract law. In other words, the State should not define the terms of the relationship. It should allow the parties to do that for themselves and then simply enforce it. The current one-size-fits-all civil marriage should be abolished except as a default option for those who do not want to build their own contract.»

 

[via O Insurgente]


17
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:09link do post | comentar | ver comentários (8)

Subscrevo a maior parte, e apenas não digo a totalidade porque não conheço todas, as reinvidicações dos LGBT. Penso que é ridículo um Estado de Direito ter desigualdades com base na orientação sexual presentes na lei. No entanto, dou por mim a perguntar se fazem sentido as marchas de orgulho gay. Provavelmente, numa fase inicial, esta foi a única forma encontrada para mostrar à sociedade aquela realidade, mas neste momento, em que a sociedade já está alerta para a questão, não faz sentido que os LGBT continuem a «caricaturar-se» desta forma. Não tem a ver com preconceitos. A questão é que essas marchas são levadas a pontos que se tornam absurdos. Pensem no que seria uma marcha de orgulho hetero, então a malta ia para lá, cheia de pêlo, camisa aberta, a coçar a micose do escroto, e a cuspir para o lado enquanto o cabelo grande e despenteado que não vê água há três semanas fica a emanar odores pestilentos. Toda a gente é livre de se manifestar, mas as manifestações pretendem-se benéficas para a causa e estas manifestações, que reforçam, por culpa dos próprios agentes, os estereótipos e preconceitos criados, apenas causam um efeito perverso.


11
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:17link do post | comentar | ver comentários (10)

O dia de ontem e o de hoje, conjugados, são metáfora mais que perfeita para descrever o que somos. Um país que vive no limbo entre a memória do passado e o fervor da fé. Os dois dias são feriados e se o primeiro ainda pode ser aceitável, por ser da nação, e mesmo assim muito discutível, o segundo, o de hoje, é absurdo. Não a celebração, que de crenças e fés, cada um sabe de si. O que é absurdo é o feriado no dia de hoje. Institui-se que toda a nação festeja, mais passiva ou activamente, pouco importa, uma celebração religiosa. Só por si não é errado. É, no entanto, profundamente injusto para as outras religiões. Um indivíduo com uma outra religião, usufruindo destes feriados que não lhe dizem coisa alguma, tem de tirar do seu bolso para poder festejar os seus. Temos, perante a lei, uma desigualdade com base na religião, isto num Estado que se diz laico há trinta anos. Um católico tem os seus dias de celebração garantidos, muitos, poucos, não interessa, tem-nos garantidos, sem que tenha de tirar do seu bolso. Um não-católico que queira celebrar os seus feriados tem de perder um dia de férias ou, simplesmente, perder um dia de salário. É uma desigualdade que não salta à vista, principalmente porque há muito poucos a queixarem-se e os que há são geralmente desprezados. Que parvoíce. Seria, no entanto, muito interessante que houvesse um sério debate sobre esta questão. Sobre se perpetuaremos esta situação ou se faremos algo para a mudar.

 

Na imagem: Jews Praying in the Synagogue on Yom Kippur, de Maurycy Gottlieb (1878)


14
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:55link do post | comentar | ver comentários (14)

Quando acontece algo como o que aconteceu no Bairro da Bela Vista vem logo, a correr, que isto não é gente de andar devagar, um certo tipo de bem-pensante lusitano gritar, para o povo ouvir e, se não for muito incómodo, votar: Isto é um problema social, têm de se aumentar os apoios sociais. Que é um problema social ninguém nega, o que é importante aqui é que se pense se as políticas sociais, ou melhor, estas políticas sociais resolvem alguma coisa.

Tudo isto aconteceu, e não foi a primeira vez, num bairro social, com famílias que recebem Rendimento Social de Inserção e, claro, outros tipos de apoios sociais. Não se pode dizer, de todo, que o Estado já faz muito: não pagam casa, não pagam educação dos filhos, não pagam serviços de saúde e ainda recebem um rendimento mensal. Esqueçamos, será possível?, os ganhos ilícitos noutras actividades que não dá jeito que sejam conhecidas pelas autoridades. Ora, com todo este apoio estas situações acontecem, com todo este apoio estas situações, a alterar-se, pioraram e ainda há quem defenda um aumento dos apoios. Seria regar fogo com gasolina.

O problema destes bairros e desta população, quanto a mim, e sem querer entrar no preconceito porque cada caso é um caso, é o facto de, em primeiro lugar, os colocarem num lugar só, qual guetto, criando, invariavelmente, um foco de violência; e, em segundo lugar, lhes darem tantos apoios sem que haja qualquer contrapartida, qualquer esforço para mudar de vida. Reparem, se nos dessem o suficiente para viver com um mínimo de conforto, e sabendo nós que ao trabalhar dificilmente ganharíamos uma grande diferença, trabalharíamos?


17
Abr 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:13link do post | comentar | ver comentários (21)

Numa sociedade livre, num Estado democrático, há certos valores que não podem ser, nunca por nunca, despiciendos. Um deles é o direito há privacidade. Ao aceitar revogar o sigilo bancário, o Parlamento português, que deveria ser a casa da democracia, deu uma machadada na nossa liberdade. Bem sei que não é algo que todos sintamos do mesmo modo, bem sei que não é algo que levará a manifestações populares (a menos que seja de contentamento), no entanto, não é só quando o povo protesta que algo está mal.

A falar sobre isto hoje, fiz a seguinte analogia. Imagine-se que nos obrigam por lei a ter paredes de vidro em casa, de modo a que o colectivo, a sociedade, o Estado, possam ver o que temos lá dentro. Provavelmente alguma esquerda diria algo como “não é segredo nenhum” ou “quem não deve não teme”. Pois não. Mas quem não deve também não tem de prestar contas a ninguém.
Caminhamos perigosamente para uma sociedade em que a segurança suplantará, ilegitimamente, a liberdade. Caminhamos perigosamente para uma sociedade em que a presunção é de culpa e não de inocência, uma sociedade inquisidora na qual cabe ao acusado provar a sua inocência e não ao acusador provar a culpa. Tivessem, tal como escreve o Carlos Loureiro, os deputados lido Orwell e perceberiam o problema de tudo isto.

12
Abr 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 15:32link do post | comentar | ver comentários (5)

Anda o país em alvoroço porque em terras algarvias se criou um código de vestuário numa Loja do Cidadão. Ai!, que as pobres coitadas não se podem vestir como querem. Ai!, o Salazar que ressuscitou, aproveitando a boleia. Ai!, as liberdades, os direitos e as garantias.

É tão bonito de se ver que são aqueles que mais atentam, lei após lei, contra as liberdades individuais, quem mais enche a boca com a bonita palavra quando dá jeito.
Na Loja do Cidadão não se cometeu atentado algum à liberdade individual. É perfeitamente legítimo que se criem dress codes nos locais de trabalho, porque o trabalho não é a vida íntima. Mais importantes se tornam estes códigos quando se trata de um trabalho de atendimento ao público. Seria admissível ter uma senhora de cinco ligas à nossa frente para fazermos o cartão único? Ou ter um indivíduo de boxer apertado para satisfazer os apetites das senhoras? Claro que não.
Na rua, por mim, até nus deveríamos poder andar. No emprego, principalmente se formos empregados, temos de respeitar as normas estabelecidas. Querem liberdade dessa? Saiam da repartição e vão para onde as minissaias, os decotes exagerados e os boxers apertados são bem recebidos.

13
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:05link do post | comentar | ver comentários (2)

Que os sindicatos em Portugal não funcionam, todos sabemos e esta manifestação de hoje, por mais paradoxal que possa parecer, é prova disso.

Não cabe a um bom sidicato fazer política, não é esse o seu objectivo. Não cabe a um sindicato "lutar" contra a privatização de serviços ou contra qualquer outro tipo de política. Já existem organizações a fazê-lo, chamam-se "partidos". O objectivo de um bom sindicato, como há em bastantes outros países, deveria ser o de funcionar como "advogado" num processo de contratação: um trabalhador tinha um sindicalista a quem pagava 1% do ordenado e esse sindicalista, qual consultor, ajudava o trabalhador a obter o melhor trabalho e as melhores condições (até porque o ganho do profissional seria o seu ganho). Isto, obviamente, seria personalizado: nem todos os trabalhadores são iguais, como tal, não podem ser encaminhados para os mesmos trabalhos nem têm a mesma capacidade negocial. No entanto, os sindicatos portugueses insistem na massificação: vivam os contratos colectivos (e os despedimentos colectivos, já agora), vivam os aumentos generalizados quer a produtividade seja alta ou seja baixa, pois de cada um conforme as suas possibilidades e a cada um conforme as suas necessidades. E a podridão continua, os pobres continuam pobres e o Carvalho da Silva continua na televisão. Viva.


06
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:52link do post | comentar | ver comentários (1)

Uma volta pela blogosfera permitiu-me ler algumas opiniões que não estão assim tão desencontradas da minha.

 

Miguel Marujo, no Cibertúlia:

 

«La Palisse não escreveria melhor título, passe a presunção. Note-se: sou a favor do casamento gay. Mas por isso mesmo não entendo que se dêem os mesmos direitos (apenas estes, nunca os deveres) às uniões de facto como se estas fossem casamentos. Quer dizer: volta e meia tenho amigos que dizem que não estão para se casarem, que ninguém tem nada a ver com isso. Mas depois trepam às paredes quando lhes dizem que, se assim é, não podem ter os mesmos direitos. Querem direitos? Casem-se* porra!

 

* heteros, homos, como quiserem, mas casem-se.»

 

 

Daniela Major, no Câmara dos Lordes:

 

«Não percebo porque razão a Esquerda quer regular as uniões de facto. Se as pessoas vivem em união de facto é porque não querem ter uma relação regulamentada pelo Estado (a não ser nos casos dos homossexuais). Se quiserem assumir uma relação com direitos e deveres então casam-se. Esta mania do Estado meter o nariz em tudo, cada vez me irrita mais.»

 

 

António de Almeida, no Direito de Opinião:

 

«O melhor mesmo é cada um na sua, caso venha a ser aprovada a idiotice socialista de regular aquilo que é do foro privado. Sei do que falo, já vivi em união de facto por não querer precisamente assumir compromisso, terminando sem consequências quando entendi ter expirado o prazo de validade da relação. Cartão único, chip automóvel, uniões de facto, se não tivermos cautela caminhamos para a escravidão. Deixem-nos em paz!»


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:47link do post | comentar | ver comentários (2)

O debate parlamentar que houve sobre o aprofundamento ou não das Uniões de Facto não teria sido uma tarde perdida, caso não se partisse de um princípio por si só errado.

Tenho a confessar que esta ideia não é "original", aliás, surgiu em conversa de amigos e acabei por concordar.

A União de Facto tal como temos em Portugal consiste, simplesmente, em receber os benefícios do contrato do casamento sem dar contra-partidas, sem assumir os deveres. Um casal que viva em União de Facto vive numa situação em que não assumiu qualquer compromisso sério, em que não prometeu fidelidade ou qualquer outra coisa e, ainda assim, tem praticamente os mesmos direitos que um casal casado, perdoe-se-me a redundância, tirando os direitos sucessórios. Como é que se pode dar estatuto de viuvez a uma pessoa que viu o seu "acompanhante" falecer? Não é coerente que se dê àqueles que assumem compromissos e acordam deveres os mesmos direitos que àqueles que simplesmente não assumem nada e procuram apenas os benefícios.

É a lei do facilitismo que algumas forças em Portugal insistem em defender e assumir como verdadeira. É a lei do facilitismo que, mais tarde ou mais cedo, nos levará ao colapso.


23
Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:44link do post | comentar

Há uma coisa que tenho notado na blogosfera política portuguesa: há pouquíssimas mulheres. Basta uma visita rápida ao blogómetro e vemos que nos primeiros cinco blogues sobre política, por exemplo, há 69 bloggers e, desses, apenas 11 são mulheres. E, dessas 11, são muito poucas as que se destacam: provavelmente as únicas top of mind serão a Sofia Bragança Buchholz, a Ana Margarida Craveiro e a Helena Matos. Claro que mais para baixo há outras mulheres a destacar-se, como a Ana Vidal, a Fernanda Câncio, a Ana Matos Pires, a Sofia Loureiro dos Santos ou a Sofia Vieira. Ainda assim, ao olharmos para esse mar de blogues, vemos que encontrar mulheres, principalmente mulheres que se destaquem verdadeiramente, é uma missão extremamente complicada. Tenho francamente pena, pois gosto mais de ler algumas das mulheres que enunciei que muitos dos "autores de topo".

Se calhar, esta maior disposição/disponibilidade dos homens para se darem a este tipo de actividade em relação à das mulheres é sintomática de algum atraso que ainda temos no que respeita à participação por parte das mulheres na vida democrática. Problemas profundos, que se revelam nestas pequenas coisas.


22
Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:28link do post | comentar | ver comentários (3)
«A legalização do casamento gay implica contestar o princípio do casamento tradicional, definido como uma união entre dois indivíduos de sexos opostos e sem laços consanguíneos. Então, a lei resultante não deverá distinguir entre o direito de dois indivíduos do mesmo sexo, não aparentados entre si, a casar e adoptar filhos, e o direito de três indivíduos consanguíneos e do mesmo sexo à união matrimonial e à adopção. Dito de outro modo, será lógica e juridicamente inadmissível a legalização do casamento homossexual, caso se recuse o seu corolário mais extremo – nomeadamente, o casamento homossexual incestuoso poligâmico

 

Este é um excerto de um texto de Manuel João Ramos, publicado no Sorumbático. Decidi copiar para aqui por ser dos mais lúcidos textos que tenho lido sobre o assunto. Ele está coberto de razão na análise que faz. No entanto, apesar de não concretizar o seu posicionamento, creio que se retiram das entrelinhas que é contra a legalização do casamento homossexual, novamente por ter feito uma redução a um absurdo que não é absurdo.

 


21
Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:38link do post | comentar | ver comentários (5)

Sou a favor que o Estado permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E assumo esta posição por achar que é ridículo que o Estado vede o direito a duas pessoas fazerem uma coisa que não afecta absolutamente mais ninguém.

O Eduardo Nogueira Pinto levantou no Prós e Contras um argumento interessante: dado que, naturalmente, de uma relação homossexual não virá descendência, não faz sentido que o Estado interfira. Não faz sentido que o Estado se ponha na cama das pessoas, como ele várias vezes repetiu. E é verdade. O Estado não tem de se pôr na cama de ninguém e está a fazê-lo. Ao existir já um contrato disponível ou havendo a possibilidade de duas pessoas celebrarem um contrato similar, ao proibi-lo, o Estado está a interferir. Está, efectivamente, a pôr-se na cama das pessoas.

Um outro argumento utilizado é o da redução ao absurdo. É muitas vezes frustrante este argumento, pois como defende o Pedro Arroja, por cá não se consegue pensar no abstracto. Então a redução ao absurdo que se faz, por exemplo pelo Francisco Mendes da Silva é, em linhas gerais, dizer: se permitimos que haja casamento homossexual devemos permitir que haja poligamia. O problema é que não há aqui absurdo nenhum. Ainda ninguém me conseguiu explicar por que razão é que não é permitida a poligamia em Portugal. É moralmente errado um indivíduo assinar um mesmo contrato com várias pessoas?

Colocados todos estes problemas ao casamento civil, não seria muito mais útil discutir o próprio casamento civil e os seus limites legais? Essa sim, seria uma discussão interessante.


13
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:49link do post | comentar | ver comentários (1)

Nunca gostei do "Nós por cá". Aquela rubrica no Telejornal da Sic era apenas um chamariz para quem vê nas miudezas notícia. É giro ver um candeeiro que fura uma varanda, ou uma placa trocada lá na Amareleja. Mas o problema é que a intenção nunca é a de ser engraçado, ter piada, ou mostrar as coisas como insólitas que são. A intenção é generalizar, dar a ideia de um país que é todo assim: com sinais de trânsito trocados, com candeeiros de rua que furam varandas ou com prédios todos esburacados. A ideia é dar uma má imagem do país que temos. Depois de algum tempo sem dar sequer nos telejornais, o "Nós por cá" aparece como programa, na verdadeira acepção do termo. Faz-se um programa de televisão a falar mal do país que temos. Democrático? Há quem diga que sim. Pessoalmente não vejo grandes diferenças entre um programa que só fala mal - "Nós por cá" - ou um programa que só fala bem - "Conversas em Família", ou assim. Falar mal de algo é ser democrático? Falar mal de algo é falar mal de algo, vale o que vale. Eu pessoalmente, do mesmo modo que não ouviria um programa que só falasse bem, não vejo um programa que só fale mal. Gosto do meio-termo.

post-post-scriptum: seriamente avariados da pinha

11
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:16link do post | comentar

Há pouco mais de um ano, no primeiro dia de 2008, entrou em vigor a nova lei do tabaco, que veio proibir o fumo em lugares públicos. Confesso que na altura achei a lei óptima, por puro egoísmo, eu não fumo e sabia-me muito bem a ideia de poder ir a um café ou restaurante sem ter de levar máscara. Mas agora, ao pensar melhor sobre o assunto, mudei de opinião.
Um café, um restaurante ou uma loja do que for, antes de serem lugares de acesso ao público são propriedade privada. Trata-se do meu café, do meu restaurante ou da minha loja. Posto isto, qual é o fundamento de o Estado, através de uma lei, decidir o que se pode ou não fazer naquilo que é meu? Eu tenho de ter o direito a decidir quem quero que frequente o meu espaço, da mesma forma que tenho o direito a decidir quem quero que frequente a minha casa. Se eu quero fumadores, deixo entrar fumadores. Se eu quero não fumadores, coloco um sinal a dizer "Proibido Fumar" e a coisa fica resolvida. E o estúpido argumento de que se sem esta lei um café não permitisse fumadores iria perder dinheiro é apenas isso: estúpido. Existiam já antes imensas pastelarias onde não era permitido fumar e não era por isso que deixavam de ter clientes. Para além disso, um espaço como esses seria muito apreciado por um certo público que não fuma - que ainda é um público enorme - o que permitiria uma estratégia de marketing diferenciado e até, quem sabe, acrescentar valor ao produto por isso. Mas isto nem sequer é relevante, o que é relevante é que temos um Estado pesadíssimo a intrometer-se a um ritmo galopante na vida privada dos cidadãos e temos uma sociedade que aceita isso como se nada fosse e que se habitua a ver a sua liberdade cada vez mais condicionada. Certos iluminados podem considerar que a lei do tabaco foi um passo em frente no caminho para um país mais civilizado, pessoalmente, considero que a lei do tabaco foi um passo enorme no caminho para a restrição da Liberdade neste nosso Portugal à beira-mar plantado.

05
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 17:31link do post | comentar
Um dos piores pecados da sociedade actual é o da ingratidão. É certo que nunca foi considerado isto um pecado capital por quem de teologia entende, mas atrevo-me a fazê-lo. E digo isto por ser isto que vejo de dia para dia, nomeadamente em relação aos nossos velhos. Sim, chamo-lhes velhos porque é este o termo que se aplica quando alguém tem muitos anos e porque a maldade não está na palavra, mas no sentido que lhe é dado. Os velhos que em tempos deram tanto a quem deveriam dar, porventura mais até do que podiam, são hoje esquecidos, despejados em lares baratos ou em hospitais e sem qualquer apoio da família. Não digo que seja obrigação dos filhos albergar os pais na velhice, a vida não o permite, é mesmo assim. Mas é repugnante ouvir dizer que há famílias que internam os velhos doentes e que depois os deixam lá, "em alta", à espera pelo que não irá acontecer. E actos destes não são justificados com stress do trabalho, com afazeres domésticos ou com os banhos do cão, estes actos nem são justificáveis, são apenas sintomáticos de que a ética e os valores estão cada vez menos na moda e que a nossa pretensa civilização está a cair aos bocados, de podre.

31
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:18link do post | comentar
Um fenómeno, se se lhe pode chamar fenómeno, que tenho vindo a observar é o da falta de pontaria que por cá temos quando responsabilizamos alguém por o que quer que seja. E isto é evidente na política.
Quando um governo governa mal, maldita oposição que não existe. O governo aprova um decreto-lei que permite a contratação directa, em relação às obras públicas, para contratos até cinco milhões de euros? Culpa da oposição que não se opõe e deixa isto acontecer.
Quando o Parlamento aprova por unanimidade uma lei inconstitucional, estando completamente ciente desse facto, a culpa não recai sobre os deputados, mas sim sobre o Presidente da República que não mandou a ordinária lei para o Tribunal Constitucional nem dissolveu a Assembleia da República.
Mas também na economia isto acontece. Veja-se o caso do BPN cujas administrações encobriam actividades obscuras e tapavam com tapetes autênticos poços. De quem é a culpa? Do Banco de Portugal que não soube fiscalizar.
E na polícia é outro carnaval. Há mais criminalidade, logo, a culpa é da polícia que não trabalha bem. Se um ladrão roubar uma bicicleta de quem é a culpa? Do ladrão que roubou ou do polícia que não o apanhou? A resposta parece-me clara.
E assim ficamos com os agentes feitos anjos e os ficalizadores feitos demónios, para que se continue a viver nesta admirável praia na cauda da Europa.

26
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:14link do post | comentar
É impressionante como os anos passam e as coisas continuam. Somos um país de picos nervosos.
Lembramo-nos dos pobrezinhos sempre na mesma altura: no Natal. E no Natal tratamos de ter pena, rezar um terço, dar qualquer coisa a qualquer instituição e ver com um sorriso os pobrezinhos todos contentes por terem a ceia de Natal, um sorriso de dever cumprido: eles têm uma refeição. Dia vinte e seis esquecemos tudo. Os pobrezinhos deixam de existir e se não deixarem de existir fingimo-lo, que dar uma refeição no Natal já é ajuda mais que suficiente, isto 'tá mau.
E lembramo-nos da sinistralidade nas épocas festivas. Felizmente este Natal só houve dois mortos. Há vezes piores. Lembra-me de um Natal em mil nove e setenta e oito em que houve para cima de uma pipa deles. Depois voltamo-nos a esquecer das pistas de street racing que se foram construíndo à conta do dinheiro europeu.
E há a Educação. Quando um vídeo aparece no youtube com "brincadeiras" com pistolas a fingir e telemóveis a sério, ficamos chocados! Violência nas escolas! Eu que nunca me tinha apercebido de nada! E ficamos revoltados e culpamos a professora, e o conselho executivo, e a DREN, e os pais, e o Obama safa-se, porque gostamos muito dele.
O Obama é outro. Um furor do catano durante as eleições e desde então nunca mais vi assim uma capinha dedicada ao senhor, uma abertura de telejornal a chamar a atenção para o peido sonoro que sua excelência havia acabado de dar.
E é assim que vivemos. Com tantos picos nervosos ainda acabamos por ir parar às estatísticas (ai as estatísticas! essas davam três postas iguais a esta com tanto nervo que provocam!) do país com mais problemas cardíacos.

24
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:21link do post | comentar
Cresci a ouvir que o Natal era a festa da Família (assim mesmo, com letra grande, sinal de suma importância). Segundo me diziam, e eu acreditava, no Natal a família está junta como em nenhum outro dia, a celebrar o nascimento de alguém que veio para nos salvar. À noite havia a ceia de Natal, durante o ano não havia nenhuma igual: doces, muitos doces, perú, bacalhau, polvo, hortaliças e um bom vinho, para se tirar a barriga de misérias. Aléluia que nasceu o menino! E nesse dia ofereciam-se lembranças aos mais chegados para que os mais chegados soubessem que nos lembrávamos. E nesse dia era-se feliz.
Mas agora olho à volta e vejo-me obrigado a chamar de mentirosos aos meus educadores.
Como de costume deixei as lembranças para a última. Não foi por mal. É que ofereço mesmo aos mais chegados e não gosto de encher a casa alheia de Ferrèro Rocher e Mon Cherri comprados à pressa num dia de avio. Gosto de escolher bem e de me certificar que as pessoas vão gostar daquilo que lhes ofereço. E não precisa de ser nada de muito caro. Como diz o Miguel Somsen, quando mais cara é a prenda, menos nos preocupamos com a sua beleza. Mas continuando. Deixei as prendas para a última e dei um salto ao Centro Comercial para as ir comprar. Como já sabia o que queria, demorei uma escassa hora. Mas o pior é que nessa curta (tão longa!) hora eu mal me consegui mexer. Era a Fnac atulhada de gente ensacada. Era o MacDonald's a servir refeições de Natal a uma Geração Rasca que não dá valor à tradição. Eram pessoas a andar de um lado para o outro num frenesim danado porque estava quase e ainda não estava nada feito. Era a Bertrand com uma fila enorme. E a fila para embrulhar à porta da já referida Fnac? Nem vos conto! E eram os autocarros a descarregar mais e mais crianças, adultos e velhos, gente de todas as idades. E eram escadas rolantes cheias para descer e vazias para subir. E era o caos.
E eu ali, sozinho, a comprar as minhas humildes lembranças, só pensava "tirem-me daqui".

17
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:45link do post | comentar
Pedro Arroja, no Portugal Contemporâneo

«Durante o tempo em que participei activamente na imprenda portuguesa, fui protagonista de numerosos episódios que, aos meus olhos, eram verdadeiramente insólitos. Assim, por exemplo, é caso raro na Imprensa, senão mesmo caso único, ver o director de um jornal a escrever no principal jornal da concorrência. Aconteceu com Vicente Jorge Silva, então director do Público, que decidiu escrever no Diário de Notícias, então dirigido por Mário Bettencourt Resendes:

As expectativas irracionais do sr. Arroja
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Por: Vicente Jorge Silva
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O colunista desse jornal sr. Pedro Arroja desenvolve na edição de domingo passado do "Diário de Notícias" uma interpretação bastante original da Teoria das Expectativas Racionais, de Robert Lucas, recentemente galardoado com o Prémio Nobel da Economia. Entre os exemplos portugueses que elegeu para essa interpretação, o sr Arroja - uma bizarra criatura de origem mais ou menos extraterrestre e que talvez por isso mesmo tenha adquirido um estatuto mediático absolutamente invulgar - aponta o "Público" como um caso típico da absoluta falta de influência dos meios de comunicação social sobre a decisão dos eleitores nas últimas legislativas, embora sublinhe, ao mesmo tempo, a orientação ostensivamente socialista do jornal que dirijo e de opiniões que exprimi durante a campanha eleitoral.
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Por uma questão de simples racionalidade, não perderei tempo a discutir com o sr. Arroja - conhecido pelo novo-riquismo das suas posições ultraliberais em matéria económica - o direito a ser "Chicago boy" em Portugal em 1995, quando a moda parece ter passado definitivamente, depois do Chile de Pinochet, passando pela América de Reagan ou a Grã-Bretanha da Srª. Thatcher. Acho apenas curioso que, para uma personagem tão descrente da influência dos meios de comunicação, o sr. Arroja se desmultiplique de forma tão frenética em intervenções na rádio e nos jornais para demonstrar, por puro masoquismo, o carácter anódino das suas opiniões. Ou será que, como herdeiro tardio dos "Chicago boys", o sr. Arroja é tão cínico que se preocupa apenas em facturar a sua irrisória vaidade como comentarista pago dos meios de comunicação onde colabora?
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O sr. Arroja tem todo o direito em classificar-me - e ao meu jornal - de "socialista" [1], como eu teria idêntico direito em considerá-lo um parvenu do reaccionarismo monetarista, que nada sabe da actual realidade portuguesa nem da história recente da imprensa deste país.
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Ele terá mesmo o direito democrático de não ler aquilo que tenho escrito, quer sobre o programa do Governo PS quer sobre os acidentes que marcaram a formação desse Governo. A ignorância e a má-fé ficam com quem as pratica.
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O que já me parece inteiramente inadmissível - e uma ofensa ao próprio jornal onde colabora - é que o sr. Arroja, no seu fervor "yuppista" de terceira classe, reduza a orientação das secções de cartas ao director à publicação das opiniões dos leitores que os responsáveis de cada órgão de informação julgam mais coincidentes com as suas próprias posições.
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Este propósito é claramente infamante - quer para mim, quer para o director do Diário de Notícias, Mário Bettencourt Resendes.
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E no que me diz respeito, gostaria de lembrar ao sr. Arroja que as opiniões de leitores do "Público" sobre os meus editoriais a propósito dos debates televisivos entre António Guterres e Fernando Nogueira foram maioritariamente críticas - por vezes, em termos violentos - das minhas próprias opiniões. Mas essa é, porventura, uma lógica que não encaixa nem no cinismo nem no gosto de manipulação com que o sr. Arroja - imaginando que os Portugueses são efectivamente patetas - trata leitores ou ouvintes que ele imagina "deslumbrados" com a bacoquice das suas divagações e expectativas irracionais.
(Diário de Notícias, 18 de Outubro de 1995; bolds meus).
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[1] O autor viria mais tarde a tornar-se deputado do Partido Socialista.»


02
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:54link do post | comentar
Uma piada sobre as coisas "modernas" do nosso dia-a-dia.

SABES QUE ESTÁS A FICAR UM LOUCO DO SÉCULO XXI QUANDO:

1. Envias um e-mail ou usas o GTalk para conversar com a pessoa que trabalha na secretária ao teu lado;
2. Usas o telemóvel na garagem de casa para pedir a alguém que te ajude a levar as compras;
3. Esqueces o telemóvel em casa (coisa que não tinhas há 10 anos atrás), ficas apavorado e voltas para buscá-lo;
4. Levantas-te pela manhã e quase que ligas o computador antes de tomar o café;
5. Conheces o significado de tb, qd, cmg, mm, dps, k, ...;
6. Não sabes o preço de um envelope comum;
7. A maioria das anedotas que conheces, recebeste por e-mail (e ainda por cima ris sózinho...);
8. Dizes o nome da tua empresa quando atendes ao telefone em tua própria casa (ou até mesmo o telemóvel!!);Digitas o '0' para telefonar desde tua casa;
10. Vais para o trabalho quando está a amanhecer, voltas para casa quando anoitece de novo;
11. Quando o teu computador pára de funcionar, parece que foi o teu coração que parou;
11. Estás a ler esta lista e a concordar com a cabeça e a sorrir;
12. Estás a concordar tão interessado na leitura que nem reparaste que a lista não tem o número 9;
13. Retornaste à lista para verificar se era verdade que faltava o número 9 e nem viste que há dois números 11;
14. E AGORA ESTÁS A RIR DE TI MESMO!!!
15. Já estás a pensar para quem vais enviar esta mensagem;
16. Provavelmente agora vais clicar no botão 'Reencaminhar'... é a vida...que mais poderias fazer?... foi o que eu fiz também...Feliz modernidade.

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