A máfia da blogosfera
20
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:16link do post | comentar | ver comentários (4)

Na sua visita ao continente africano, o Papa Bento XVI fez uma declaração que tem estado nas bocas do mundo - literalmente - sobre o uso do preservativo. Segundo o Papa, e de forma resumida, o problema da SIDA em África não se resolve distribuindo preservativos, mas sim com uma mudança civilizacional. Que mudança civilizacional? Uma que leve os africanos a tornarem-se bons cristãos: castos se solteiros, fiéis se casados.

Obviamente, para a maioria das pessoas isto não faz qualquer sentido. Não há nenhum fundamento lógico para que se considere o sexo imoral, quando não é praticado com uma companhia vitalícia. No entanto, há que compreender que o Papa apenas repetiu a doutrina da Igreja. É naquilo que ele acredita e foi para espalhar a palavra que foi eleito. Pedir que um Papa não condene o preservativo é demasiado. No entanto, acharia muito proveitoso pedir à Igreja que discutisse alguns dos seus fundamentos. Aí, talvez, não tivéssemos os fracturantes e os beatos a escrever constantes absurdos.


14
Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:40link do post | comentar | ver comentários (1)

O Ocidente, amedrontado, cede gradualmente o seu direito à liberdade de expressão para não irritar os extremistas islâmicos. O fenómeno não é de agora e o Economist tem um excelente artigo sobre o que tem sido todo este processo.

 

Two decades ago, on 14th February 1989, Salman Rushdie received one of history’s most notorious Valentine greetings. Ayatollah Khomeini, then Iran’s Supreme Leader, issued a fatwa (a religious edict) calling for the death of the Indian-born British author in response to his novel, “The Satanic Verses”. Khomeini called on all “intrepid” and “zealous” Muslims to execute the author and publishers, reassuring them that if they were killed in the process, they would be regarded as martyrs.

Rarely had a book stirred up such intense feelings. Hitoshi Igarashi, its Japanese translator, was stabbed to death. Ettore Capriolo, the Italian translator and William Nygaard, the book’s Norwegian publisher, were stabbed and shot respectively, although both survived. Bookshops were bombed and the tome was burned in public across the world. Mr Rushdie, fearing for his life, was forced into hiding. (...)

 


30
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:37link do post | comentar | ver comentários (3)

'Que se tenha o máximo de documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, em algum ponto ao longo da história, algum idiota se erguerá e dirá que isto nunca aconteceu'

 

General Eisenhower

 

Nunca esta frase proferida por Eisenhower há 60 anos quando se deparou com o horror dos campos de concentração nazi foi tão pertinente como agora.

O bispo Richard Williamson, excomungado pelo Para João Paulo II em 1988, é conhecido pelas suas declarações negacionistas relativamente ao Holocausto. Segundo ele, "morreram cerca de 300.000 judeus, mas nenhum deles nas câmaras de gás". Loucos há em toda a parte e se o senhor insistia em defender o indefensável sem se basear em nada de concreto, que o fizesse longe da Igreja. Ora, sucede que Bento XVI levantou a excomunhão de Richard Williamson no passado dia 26, levantando uma onda de indignação na comunidade judaica, o que considero completamente normal. Mais grave que isso é ver outros clérigos virem em sua defesa e, pior, em defesa das suas declarações. É o caso de Floriano Abrahamowicz, que em entrevista ao La Tribuna di Treviso disse: "sei que as câmaras de gás existiram, pelo menos para desinfectar, mas não saberia dizer se elas causaram mortos ou não porque não aprofundei a questão".

Este tipo de declarações não teriam, em condições normais, importância nenhuma. Se eu fosse para a rua dizer que a gravidade não existe as pessoas não olhavam para mim mais que dois segundos. O problema é que a questão do Holocausto é forçosamente de tratamento delicado, mais não seja por ainda estarem vivas vítimas do terror nazi que viram as suas famílias morrer às mãos de quem mais não tinha contra elas a não ser ódio racial. Há questões de uma delicadeza que não permite um tratamento tão leviano como aquele que estes dois senhores lhe estão a dar. Seria interessante que Bento XVI revisse as suas opiniões.


14
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 19:32link do post | comentar | ver comentários (1)

 

Sempre respeitei bastente D. José Policarpo, nunca considerei maus os seus discursos e intervenções e sempre considerei que não se "metia" onde não devia. Um Cardeal no mínimo pouco ortodoxo, tendo práticas que o afastaram de uma candidatura a Papa, como é exemplo o seu conhecido "apego" ao tabaco, mas que nada faziam com que destosgasse da sua pessoa. No entanto, na comemoração dos 125 anos do Casino da Figueira da Foz, numa conversa com a omnipresente Fátima Campos Ferreira, o Cardeal Patriarca de Lisboa fez umas declarações, diria eu, inaceitáveis, tendo "alertado" as jovens portuguesas para os "perigos" do matrimónio com muçulmanos. Numa rara demonstração de intolerância e de tendência para o fundamentalismo, D. José Policarpo fez uma denúncia muito válida - a do desrespeito pelos Direitos Humanos em relação às mulheres do Islão - de uma forma quase jucosa e que roçou o ridículo. É mais um tiro no pé da nossa Igreja Católica, cujos valores são os fundamentos de toda uma cultura que prima pela liberdade e pela democracia, mas que insiste em tiradas tudo menos dignificantes.

 

Ler também:

"mais do mesmo" no Delito de Opinião

"Montes de Sarilhos" no Da Literatura

post-post-scriptum: seriamente avariados da pinha

23
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:00link do post | comentar
«O Papa disse ontem que a homossexualidade e a transexualidade são uma "destruição da obra de Deus". Bento XVI apelou a uma "ecologia do homem", que garanta o respeito da distinção entre homens e mulheres tal como aquela é interpretada pela Igreja a partir da linguagem da criação.» (Diário de Notícias)
Depois de anos a fio com um papa, que não sendo propriamente liberal, era minimamente tolerante, é-me estranho ouvir do mesmo palácio que a homossexualidade e a transexualidade são destruições da obra de Deus. Eu sei que isto é mais uma luta ali dos Jugulares, mas creio que não se importarão que também eu expresse o que penso em relação a esta idiotice.
É que as coisas são simples senhor Ratzinguer, e isto para falar na sua língua, não somos todos filhos de Deus? Se somos todos filhos de Deus, também os gays o são. E tendo sido gerados por Deus, como é que podem ser uma destruição da sua obra? Incoerências, incoerências.
A regilião católica está a seguir o exemplo de tantas outras ao extremar as suas posições. Pena daqueles que ainda têm na fé algum amparo e que vêem esse amparo desaparecer em declarações estúpidas como esta.

11
Out 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:34link do post | comentar | ver comentários (3)

«Advogando, por crença doutrinária, uma sexualidade responsável a milhões e milhões de pessoas nos cinco continentes, a igreja é a maior, mais importante e mais eficaz organização no combate ao vírus da SIDA. Muito maior e muito mais eficaz que qualquer campanha de qualquer Abraço.» (Rodrigo Moita de Deus, no 31 da Armada)


12
Set 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:04link do post | comentar | ver comentários (3)
O Portugal Contemporâneo é um blogue que me suscita muitos acenos de cabeça. Escrito por conservadores libertários vem, não raras vezes, de encontro ao que penso. No entanto, dois textos dos últimos dias fizeram-me discordar, ao ponto de escrever este post.
Dia 11, ontem, o Rui Albuquerque escreve que a laicização do ensino trouxe um vazio educacional ao nível dos valores que muitas vezes os pais não conseguem preencher devido às circunstâncias da vida: emprego, incompatibilidade de horários, etc. Por isto, propõe um ensino com formação religiosa para que as crianças saibam distinguir o bem do mal, o certo do errado, o justo do injusto. Discordo totalmente. Em primeiro lugar, os pais têm o direito de escolher se os filhos podem ou não ter formação religiosa. Por exemplo, porque é que uma família muçulmana a viver em Portugal tem de ver o seu filho educado para o catolicismo? Não faz sentido. Tem tudo que partir da vontade da família. E existe espaço para que se faça a vontade: inúmeras igrejas têm a chamada catequese que dá uma formação religiosa aos jovens rebentos, por outro lado, mesmo na escola, existe a possibilidade de ter aulas de Educação Moral (exactamente a expressão que o Rui escreveu). Percorremos um longo caminho para a realidade actual, em que o estado não nos impõe a nossa religião. Curiosamente este texto até vai contra um que o próprio Rui escreveu há uns tempos, "o caminho da servidão", em que condenava a constante intromissão do estado nos assuntos privados dos cidadãos. Há algo mais privado que a ética e a religião?
Hoje, o Joaquim, muito na linha do que o Rui escreveu ontem, disse concordar com Sarah Palin quando esta defende o ensino do criacionismo nas escolas públicas. Disse que tinha mudado de opinião, que anteriormente não defendia tal coisa. O errado no ensino do criacionismo nas escolas públicas está exactamente no facto de ser uma crença religiosa e não uma teoria científica. A teoria evolucionista e da criação do Universo é supra-religiosa, não se relaciona com fé, por isso pode ser aprendida por todas as pessoas. Já a teoria criacionista faz parte da fé cristã e ensiná-la iria contra a vontade de muitas famílias americanas certamente. Questões que o Joaquim enunciou, como: "porquê o mundo?" e "porquê não o nada?", são perguntas para se formular em aulas de Filosofia (acho que na América há disso) e às quais não se deve dar uma resposta como verdade absoluta.
Ensinar os jovens com base em fundamentos religiosos iria só alimentar fanatismos, fechar mentes, e levar-nos de novo para uma Idade Média, onde o progresso e ciência ficariam completamente apagados. É bom que se pense nas consequências de coisas tão simples como o ensino religioso nas escolas públicas.

20
Ago 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:38link do post | comentar | ver comentários (4)
Diz-se de boca cheia que a República Portuguesa é um estado laico. Disparate! A verdade é que a igreja ainda tem uma influência em algumas regiões tão grande como no tempo do Cerejeira, principalmente nas regiões mais periféricas e nas pequenas aldeias em que o Senhor Padre manda mais que o Presidente da Junta. Apesar de estar instituído que na política portuguesa a igreja não deve intervir, ela fá-lo, sempre! E o pior é que vem sempre estragar o debate com os maiores disparates que se podem imaginar, desta vez, insurgem-se contra o divórcio por decisão unilateral, porque as pessoas devem ter a capacidade de "perdoar e de manter os compromissos, mesmo quando as condições mudam e exigem sacrifício (...)". Este tipo de declarações e o facto de a igreja se estar a colar a Cavaco só vêm descridibilizar o Presidente, que no seu comunicado não disse nada disto. Para ajudar às festividades, a percentagem de casamentos católicos em Portugal é cada vez menor, ou seja, o casamento é cada vez mais um contrato civil e não um contrato religioso, razão pela qual a nossa querida igreja devia abster-se de comentários infelizes. Aos senhores da igreja: tenham vergonha!

19
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:12link do post | comentar
No De Rerum Natura, a Palmira da Silva colocou um vídeo do GrandPa John (John Clayton) no qual este avô tenta através de um pickle e dois garfos provar a beleza do que é ser cristão. Simplesmente delicioso este clip:



Leiam o artigo da Palmira aqui.

16
Jun 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 12:05link do post | comentar
No outro dia vi um episódio da série Os Simpsons, no qual um indiano, o Apu, antes de se tentar suicidar foi ver, num pequeno mapa, quais seriam as reencarnações seguintes. Isto quase me passou despercebido, mas dei por mim ontem a pensar nisto de "reencarnar".

Quando morremos, tudo aquilo de que somos feitos se espalha por aquilo a que comummente chamamos Natureza. Todo e qualquer bocadinho de nós é incorporado noutras vidas, animais ou vegetais. Isto é um facto científico. Por isso, porque não acreditar numa "reencarnação", acreditar mesmo naquela velha e ultrapassada história que os nossos ente-queridos andam por aí a vaguear? Bem sei que isto deve ser alguma pseudo-ciência e pode ser considerado uma tentativa de validar as coisas escritas pelos teólogos, mas é um assunto que me fascina um pouco. Por exemplo, os monges budistas, pelo que vi no Canal História há uns tempos, quando morrem, são colocados no deserto para serem comidos pelos animais, assim darão o seu último (ou não) contributo à Natureza. Ideia tão reconfortante esta de que todos aqueles que já existiram e que existiram estão por aí, à espera de serem "montados" de forma a darem lugar a uma pessoa como nós.

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