Não escrevi sobre a entrevista, então, escrevo sobre o Prós & Contras que se lhe seguiu. Foi um debate razoável, nao direi brilhante porque, efectivamente, não o foi. Provavelmente vou saltar muitos pormenores certamente caros a muitos, mas vou apenas deixar aqui umas notas.
Fiquei impressionado com o Miguel Portas. Apesar de vir de onde vem, não fez uso exagerado da demagogia e da crítica fácil. Para além disso, teve uma postura correctíssima no meio do circo que em determinadas alturas se tornou o debate. Esteve errado numa questão fundamental: a do investimento público. Apesar de concordar com ele na questão da errada política expansionista que tivemos nos anos 90, quando se deveria ter actuado em contra-ciclio e enveredado por uma estratégia retraccionista, não concordo com o facto de numa conjuntura como a nossa ser imperativo o investimento público. Segundo o conhecido bloquista, numa conjuntura em que não há crédito nem liquidez é importante que o investimento seja assegurado pelo Estado. Para já, isto que parece verdadeiro, é uma falsa verdade. O investimento não tem de ser assegurado pelo Estado, se a carga fiscal for reduzida, o investimento passa a ser feito por privados e o investimento privado é regra geral mais benéfico para a economia que o público. Isto acontece porque o investimento público é feito sempre em grandes obras, ou seja, uma grande parte dos recursos recolhidos pelo fisco a todos os contribuintes é investido em benefício de apenas uma parte, por exemplo, uma ponte sobre o Tejo ou uma linha Lisboa-Madrid vão, necessariamente, beneficiar mais a região de Lisboa que as outras, apesar de apenas uma parte dos impostos recolhidos a nível nacional vir desta parte do país. Adiante.
Nota muito positiva para o Nuno Guerreiro, que já me habituei a ler na Sábado, na crónica Mundos e Fundos. Introduziu para o debate a opinião do "perigoso liberal" no meio daquele monopólio da social-democracia.
O Rui Rio podia ter tido uma prestação melhor. Infelizmente entre ele e o Ministro dos Assuntos Parlamentares - Augosto Santos Silva - não havia assim tantas divergências de opinião. O bom velho centrão em todo o seu esplendor.
O Nuno Melo não foi brilhante, também não foi medíocre. A irritação que a companhia do lado lhe provocava não lhe permitiu chegar à excelência, sim, porque era provavelmente o único elemento do debate que tinha documentação que sustentasse a sua argumentação e foi o que fez maiores críticas à administração central, sem qualquer dúvida.
A insuportável Ilda Figueiredo foi, nitidamente, o elo mais fraco. Pedia para falar a toda a hora para repetir os mesmos lugares comuns e disse, a determinada altura, que o programa político do PCP é, e cito de memória, "aumentar as reformas, aumentar os salários..." e mais umas saídas demagógicas, bem ao estilo que o partido fundado por Álvaro Cunhal nos habituou.
A Fátima Campos Ferreira foi o habitual nojo televisivo. Desculpem se estou a ser duro, mas a verdade é que o debate tem tudo de bom: bons convidados, bons temas, até o cenário é bom. A única coisa má e que me faz muitas vezes nem prestar atenção é a prestação da moderadora que insiste em ir além daquilo que lhe compete e passa com frequência as suas opiniões, de todo desnecessárias no contexto.