Se conseguir, dou-me um prémio.
- Um momento
ou seja a minha avó a pegar em mim como se fosse um coelho e não dei pela pancada na nuca nem pelo alguidar aos seus pés, dei pela palma que me afagava o lombo avaliando-me a carne, interessei-me
- Não ando magro senhora?
e a minha avó sem responder a pegar-me nas orelhas, a erguer-me no ar e quando o meu avô
- Depressa
a abrir-me de um golpe desde o pescoço à barriga
(retirado daquele livro ali ao lado)
Henrique Monteiro diz dele que é «o mais surpreendente colunista do Expresso». Qualquer pessoa que leia A Capirinha de Aron irá certamente concordar. Henrique Raposo, vindo directamente da geração atlântico e actualmente colunista no Expresso e co-autor em Clube das Repúblicas Mortas, é um sério caso de inteligência. As suas crónicas, que têm a maravilhosa particularidade de ser sobre política sem que haja politiquice, guerrinha partidária e todas essas coisas a que nos habituámos nos cronistas «tradicionais», demonstram o quão conhecedor do seu país é o autor. Divide-se em três partes, o livro, uma primeira sobre a relação difícil entre os portugueses e as regras da liberdade, uma segunda sobre o porreirismo e o estado social-porreiro e, por fim, uma terceira sobre a decadência intelectual dos europeus. Nos dois primeiros, um pouco indistinguíveis quanto a mim, o autor denuncia de forma certeira os principais problemas institucionais em Portugal, que basicamente se resumem ao desrespeito pelas instituições públicas e órgãos de soberania; e, também os principais problemas do porreirismo estatal em que vivemos, nomeadamente para os jovens que têm agora de pegar nas foices e nos martelos para poderem entrar no mercado de trabalho, porque com competência só não se supera os «direitos adquiridos». No último capítulo, esse sim já bastante diferente dos anteriores, podemos ler um retrato pintado a letras pelo autor sobre o mundo em que vive. Aponta aquilo que, para si, são as principais fragilidades da União Europeia e da sua burocracia e, pontualmente, escreve sobre o resto do mundo, essa abstracção onde podemos situar o Irão, os Estados Unidos, a China, o Afeganistão e tantos outros espaços. Tudo isto é temperado com um estilo na forma e na escrita como não há igual.
Mais do que por quem tem o liberalismo em «boa conta», este livro deveria ser lido por quem não tem. É um verdadeiro manual de fácil leitura para que se perceba as preocupações maiores em relação à liberdade e à justiça no nosso país e não só. [Henrique Raposo, A Caipirinha de Aron, Bertrand, 175 páginas]
Sendo um dos mais reputados filósofos da actualidade, com obra publicada em quase todos os quadrantes da Filosofia, Colin McGinn teve um percurso que nunca deixaria adivinhar tanto sucesso. Nascido numa pequena vila no norte de Inglaterra, no seio de uma família sem grandes posses, desde cedo demonstrou um certo fascínio pela Filosofia. No entanto, ia ser o primeiro universitário da família e, com medo de desiludir os pais, acabou por estudar Psicologia em Manchester. Apesar disso, o bicho da Filosofia permaneceu-lhe no espírito e, finda a licenciatura em Psicologia, correu a Oxford para tirar o seu B. Phill. Rejeitaram-no duas vezes e acabou por entrar numa pós-graduação menor. Apesar disso não baixou os braços, continuou a batalhar pelo sonho e tornou-se respeitado em Oxford enquanto aluno. Uma jovem promessa. Depois disso, teve uma vida repleta de altos e baixos, tendo ensinado em Londres, em Oxford, em Los Angeles - na UCLA -, e, actualmente, em Nova Iorque. O jovem provinciano inglês, rejeitado pela academia nos primeiros anos de actividade, acabou por se tornar o que se tornou hoje. Colin McGinn é um exemplo de como se pode ter sucesso, ultrapassar as adversidades e o seu livro, não sendo uma obra particularmente extraordinária do ponto de vista literário, é uma verdadeira enciclopédia de Filosofia e um manual de como encarar a vida, temperado com um excelente humor. [Colin McGinn, Como se faz um Filósofo, Trad. de Célia Teixeira. Bizâncio, 250 págs.]
Ontem estive na apresentação do livro do Henrique Raposo, A Caipirinha de Aron. Tirando o facto de o auditório da Feira do Livro ser um barracão, pior, uma barraquinha que mais parece uma estufa, foi bastante bom. A apresentação foi feita pelo Rui Ramos e pelo Pedro Mexia que, verdade se diga, são mestres na arte: os esperados elogios, mas também um bom humor que, com dificuldade, se batia com o ar pesado da sala. O Henrique foi o último a falar e, mais do que falar do seu livro, aproveitou para elogiar e agradecer ao seu Aron (Rui Ramos) e à sua Caipirinha (Pedro Mexia) - isto lá foi mais másculo, asseguro. No final, claro está, comprei o livro e pedi a dedicatória. A caipirinha, ó títulos enganadores, ficou para outro dia.
Celebrou-se ontem o dia mundial do Livro. Não vim a tempo, já passou. Mas bola para a frente, que quem sabe costuma dizer que é para aí o caminho, e falemos da feira do Livro que vai abrir daqui a seis dias e cujos preparativos já começaram. Está mudada a feira. Já no ano passado esteve, mas agora a mudança é mais radical. Os velhos contentores onde personagens sem nome e sem rosto, tê-los-iam certamente, mas para a minha memória não ficaram, estão mais modernaços, como dizem os que não são modernos. Agora é tudo muito Wright, tudo muito linhas simples e aproveite-se o espaço que é escasso. Já não há colorido: um espaço quase monocromático, e digo quase porque lá houve algum génio que se lembrou de intervalar o laranja com o verde, conjunção perfeita dirão os entendidos, e porque, verdade se diga, se há coisa que Lisboa não sente falta naquele parque é de cor. O espaço LeYa vai voltar a armar-se em fidalgo, dispondo de um espaço próprio, com barracas, quais barracas, se são da LeYa, são palácios, também elas próprias. O site já está aberto, mas ainda está muito esfarrapado, o coitadinho. Aguardemos, expectantes, pelo dia 30. Lá nos veremos.
Esta semana há duas excelentes notícias vindas das editoras portuguesas. Uma é O Caderno, que sairá amanhã e que reúne um vasto conjunto de textos publicados por José Saramago no seu blogue. Não leremos sobre Baltazares e Blimundas, sobre cegueiras nem tão-pouco sobre elefantes, serão o Saramago político e o Saramago pessoa os protagonistas. Não escondo que me encantam mais os textos sobre o segundo. Outra é um livro de crónicas do Henrique Raposo, A Caipirinha de Aron - Crónicas de um Liberal Triste, cujo lançamento será na próxima sexta-feira. Dois livros a não perder.
"Porta-livros" digitais, livros electrónicos, guerras para dominar o mercado. Apenas quero pedir uma coisa: digam-me que este ano ainda há feira do livro.
Pelo blogue da revista Ler, soube de um excelente artigo no New York Times sobre António Lobo Antunes, escrito por Dwight Garner.
O furor da obamamânia fez-me ter vontade de ler este livro. Já li um pouco e a única nota que deixo é que poderia ser um belo livro de economia, não se desse o facto de o autor o ter feito como se fosse um panfleto propagandístico. Vamos lá a ver o que é que o Obama quer mesmo fazer. Quando o acabar, faço um post com algumas notas.