Sem grande relevância na televisão nacional, que por cá preferimos dar importância a outras coisas, do outro lado do mundo estão a passar-se coisas muito sérias.
Na República Popular da China, mais precisamente na região de Xinjiang está a assistir-se a uma guerra étnica como há muitos anos não havia na mais populosa nação da Terra. Localizada no pobre Oeste Chinês, que as excelentes políticas do Partido Comunista conseguiram criar duas Chinas: uma rica, à beira-pacífico plantada, e outra, no interior, que sobrevive mendigando o litoral; esta região era até há não muitos anos dominada, demograficamente falando, por muçulmanos. No entanto, com as políticas centrais, tem havido uma cada vez maior mistura de raças: os Han compõem já cerca de metade da população. Com esta mudança demográfica, criou-se um clima de tensão entre as duas etnias. Os Han, que dominam Pequim e constituem cerca de 90% da população chinesa, impõem aos Uighurs (os muçulmanos) o seu modo de vida. Aos muçulmanos não é possível cumprir o Ramadão, sendo-lhes imposto que comam, é dificultadíssima a peregrinação a Meca, os trabalhadores estatais não estão autorizados a cumprir os seus rituais religiosos e é-lhes quase impossível preservar a sua língua e cultura, devido às imposições do sistema educacional.
Por outro lado, os próprios Han, que impõem todas estas coisas, dizem-se injustiçados dado que os Uighurs se vêem autorizados a ter mais que um filho sem pagar as taxas obrigatórias e vêem-se ainda com outros benefícios, por exemplo, no acesso às universidades.
Claro que este cocktail explosivo de injustiças e desigualdades perante a lei só pode ter como resultado o que agora vemos. Já morreram quase 160 pessoas e mais de mil estão feridas. Hu Jintao viu-se obrigado a voltar à China quando estava em Itália a preparar a cimeira do G8. O clima de opressão é indesmentível e os desenvolvimentos dos próximos dias são imprevisíveis. Provavelmente, assistiremos a mais massacres em nome da ordem nacional e em nome do eterno ideal que já matou tanta, tanta gente naquela que é uma das mais antigas civilizações do mundo.