A máfia da blogosfera
14
Jul 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:37link do post | comentar

Este ano houve mais 70% de miúdos a não saber o mínimo exigido, longe de ser o mínimo exigível, na disciplina de Português. Não sei a causa. Incompetência dos professores, falta de trabalho dos alunos ou a quantidade de estupefacientes que a trupe ministerial deve ter em tão boa conta.

O que preocupa mesmo é o facto de quase um terço dos miúdos portugueses não ser capaz de assimilar o que de mais básico há na língua portuguesa. Poder-se-á dizer que nem todos damos para a coisa. Pode, sim senhor. Mas isso não é argumento que permita concluir que é normal um terço dos alunos portugueses não ser capaz de tirar positiva naqueles exames. Tirar um reles 3 não precisa de jeito, apenas de umas horas de bom estudo e outras tantas de bom ensino e, claro, de um ministério saudável.
Todos se preocupam imenso com os Magalhães, com os quadros interactivos, com os projectores e televisões em cada sala, com as novas oportunidades, com isto, com aquilo, mas ninguém parece estar preocupado com o fundamental: as escolas públicas portuguesas estão a criar gente burra. Estão a criar gente que não é capaz de escrever um texto, e não estou a ser exagerado. Está a criar gente que não é capaz de compreender um texto. Está a criar produtos mecânicos, tecnológicos, que não conseguem aproveitar a beleza de uma obra-prima escrita.
Venha o futuro, venha. O pior é se o futuro que nos estão a impor é pior que o presente que já temos.

07
Jul 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:28link do post | comentar | ver comentários (5)

Depois do escândalo que foram os exames nacionais de 2008, com as associações de professores, principalmente a de matemática, a protestarem contra o facilitismo irresponsável das provas, ouvimos um governo inteiro e um bando de acólitos eunucos, que por mim seriam colocados num barquinho e zuca daqui pra fora, dizer que tudo aquilo era o Milagre de Maria de Lurdes. Elevada a santa educadora, Maria de Lurdes Rodrigues parecia ser mesmo aos olhos daquela gente exímia no cargo que ocupava. Tanto se pensou isto que Afonso Candal teve o desplante de no debate da nação dizer que estranhávamos uma média de 14 valores a matemática por estarmos «habituados a que os alunos sejam maus».

Este ano, obviamente, os resultados baixaram. E muito. Mais 50% de reprovações e menos dois valores de média geral. Se aquela corja que pensa que pode desgraçar a vida de miúdos para sacar votos tivesse um pingo de vergonha na cara viria admitir que aquilo tinha sido um disparate, teriam, no mínimo, pedido desculpa ao país e aquele bando de lambe-botas que orbitam à volta do líder teria a decência de nunca mais voltar a abrir a boca em matéria de educação. Infelizmente, pedido de desculpas nem vê-lo, apenas mais auto-elogio, e duvido que os bandalhos do costume se retractem. Caminham todos alegremente para o abismo, palmadinhas nas costas à excelente equipa que nos traça o destino. É triste. É isto que estão a fazer com a democracia.

 

(este post foi editado)


16
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:58link do post | comentar | ver comentários (24)

Tenho plena noção de que a educação sexual é essencial para o crescimento saudável. Aliás, só um tonto, deparado com as gravidezes precoces e as doenças sexualmente transmissíveis, pode afirmar o contrário. No entanto, isto não faz com que eu apoie a proposta de criar uma cadeira obrigatória nas escolas para educação sexual. Não apoio porque não se pode retirar aos pais a responsabilidade de decidir sobre o quando, sobre o como e sobre o quê.

Uma boa introdução desta disciplina nas escolas será tornando-a facultativa. Afinal, se é assim tão importante não haverá alminha que não queira lá o seu infante. Desta forma, os pais podem escolher colocar ou não os seus filhos conforme for a sua percepção dos resultados da medida. Pessoalmente, se na escola de um filho meu o professor de Educação Sexual não fosse um bom professor ou se eu considerasse que o programa da disciplina não era adequado gostaria de ter a liberdade de dizer que não queria que ensinassem aquilo daquela forma ao meu filho.

Um disparate autêntico, esse sim sem qualquer base de sustentação, é a distribuição de métodos contraceptivos nas escolas. Isto chamava-se autismo, agora trata-se de alheamento da realidade. A JS ao propor uma coisa destas está a propor dar à escola o papel de centro de saúde. Sim, porque nos Centros de Saúde distribuem-se métodos contraceptivos de forma gratuita e é aí que, a ser oferecidos, devem sê-lo e não numa escola. Já para não dizer que nunca daria a um filho meu preservativos dos centros de saúde, porque a verdade é que o barato sai caro.


10
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:12link do post | comentar | ver comentários (8)

A Educação é, sem dúvida, um dos pilares essenciais numa sociedade. A nossa, em particular, dá-lhe tanta atenção que a nacionalizou, criando-se um monopólio do Estado que, como todos os outros monopólios, deu mau resultado. As decisões centralizadas, os programas iguais para todos, os exames nacionais, tudo isso e muito mais acabou por tornar a Escola Pública um fiasco. Mas, e tenho de o admitir, a culpa não é só do facto de ser pública, mas também do facto de a gestão pública ter sido muito má. Olhemos para as universidades portuguesas, também elas públicas, pelo menos as mais importantes. As universidades públicas em Portugal são, regra geral, muito melhores e muito mais creditadas que as privadas. Então, onde reside a diferença?

Autonomia é a palavra. As universidades portuguesas, ao contrário das escolas, têm liberdade na criação de currícula, na realização dos exames e, muito mais importante que tudo isto, há liberdade por parte dos estudantes para escolher a sua universidade. Com as escolas, nada disto acontece: o Estado determina os programas, escolhe os professores, realiza os exames e impõe a escola que cada um deve frequentar. Isto, obviamente, deu mau resultado pelo simples facto que não há concorrência e os erros sucederam-se. Por isto, e já que esta reforma deu tão mau resultado, julgo que algumas mudanças iriam melhorar substancialmente o ensino em Portugal: deixar ao critério das escolas a contratação de docentes, deixar ao critério das escolas a criação dos programas, deixar ao critério das escolas a realização dos exames e, por fim, permitir aos jovens escolher a escola para onde querem ir. Ao contrário do que se possa pensar, isto levaria a um aumento da exigência, tal como acontece no ensino superior, pois uma escola mais exigente é uma escola com mais crédito na sociedade e, consequentemente, mais procurada pelas famílias. Só através de uma verdadeira autonomia e descentralização da decisão se poderá ter uma Escola Pública melhor. Até se perceber isso, permaneceremos assim.


03
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:57link do post | comentar | ver comentários (3)

O João Pereira Coutinho, ontem no A Torto e a Direito - que está mil vezes melhor, perdoe-se-me a inconfidência - puxou para a discussão um assunto que me é caro. Quando estavam a discutir a questão da propaganda socialista feita com imagens do Ministério da Educação, o JPC disse, e cito de memória, que o que o escandalizava era o facto de não nos escandalizarmos ao constatarmos que há partidos a utilizar crianças nas escolas para fazer propaganda. E esta, depois da atribuição das culpas sempre necessária, deveria ser a questão. Como é que se admite que numa escola, que deveria ser um espaço de isenção onde as crianças aprendessem sem palas ideológicas, coisa que nunca se concretiza totalmente, mas para a qual se pode caminhar, possa haver gravação de vídeos de propaganda para partidos. Como é que se pode ir, e é mesmo esta a palavra, manipular os miúdos que são filmados e os outros miúdos que acabam por ver a gravação, metendo-lhes na cabeça que quem lhes dá cenas fixes é o PS. Dirão que é exagero. Foi a própria ministra da Educação, aquela senhora que tanto aprecio, que disse, segundo o Francisco José Viegas no mesmo programa, que tinha recebido uma carta de uma criança na qual ela se dizia tão feliz com o seu magalhães que iria votar PS quando adulta. Isto foi uma declaração pública de um membro do governo. Exige-se aos partidos, a bem de alguma credibilidade e de espírito democrático, alguma ética, pelo menos nos espectáculos propagandísticos. Exige-se que o Secretário Geral do PS e a Militante Maria de Lurdes Rodrigues não se confundam com o Primeiro Ministro de Portugal e com a Ministra da Educação. São exigências mínimas para que haja um bom funcionamento das instituições e da própria democracia.


22
Abr 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:52link do post | comentar | ver comentários (2)

É perfeitamente aceitável que uma sociedade imponha que os seus jovens tenham um determinado grau de educação. Os jovens não são independentes, as suas vidas dependem da vontade das suas famílias e se existe um consenso quanto à importância dos estudos, então todos os jovens devem tê-los, tal como têm alimentação.

No entanto, considero o alargamento do ensino obrigatório para os 18 anos extremamente incoerente. No nosso país, a partir dos 16 anos é possível trabalhar e ser responsabilizado pelos actos cometidos. Ora, o grau de responsabilização que a sociedade dá a um jovem de 16 anos é incompatível com este paternalismo que exige que esse mesmo jovem tenha de estudar. Das duas, uma: ou bem que consideramos que os jovens são irresponsáveis até aos 18 anos e ilegalizamos o trabalho abaixo desta idade e deixamos de os poder responsabilizar pelos actos cometidos, ou tomamos consciência que com 16 anos um jovem já pode, aliás deve, ter um grau de responsabilidade suficiente para que, juntamente com as famílias e a escola, possa decidir quanto à escolaridade que quer ter. Doutores à força não desenvolvem um país. No máximo dão maus primeiros-ministros.

16
Abr 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:41link do post | comentar | ver comentários (1)

O novo Estatuto da Carreira Docente, apresentado como uma verdadeira revolução no sistema de ensino nacional, é, manifestamente, um fracasso. A separação entre titulares e não titulares utilizando como base tudo menos a qualidade das aulas é um absurdo. Maior absurdo ainda se atentarmos ao facto de serem os titulares quem “avalia” os restantes professores. Ainda assim, admitir o erro foi sempre algo a descartar e desfazer o mal seria uma derrota política. Agora, que a questão saiu das televisões e já ninguém se lembra sequer que há escolas neste país, o Ministério, pela boca do secretário de Estado adjunto, vem ceder, deixando cair os pilares principais da reforma, alegadamente em troca de uma calmia nas ruas que já existe. A estratégia é óbvia. As eleições estão próximas e não se pode abdicar, agora que se vê por essa Europa fora a Esquerda a cair, de algumas centenas de milhar de votos. Já o povo diz “com papas e bolos se enganam os tolos”. Veremos se o charme colhe e se o adágio se confirma.


17
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:12link do post | comentar | ver comentários (6)

Numa escola básica de Barcelos o Ministério da Educação, através da DREN (que é sempre bom lembrar que não são organismos independentes), implementou um projecto inovador: juntar 17 ciganos numa turma e dar-lhes aulas num contentor separado do resto da escola. A bizarria não tem nome. Segundo os responsáveis, esta é uma "discriminação positiva", com o fim de dar aos alunos, cuja raça, ao que parece, os coloca numa situação escolar complicada, um tratamento privilegiado, para que possam ter melhores resultados. Com isto, aquele contentor tem miúdos dos 6 aos 18 anos que aprendem tudo juntos.

O pior de tudo isto é que a decisão foi tomada em Julho, sendo que desde Setembro que esta coisa está a acontecer e nem os pais, nem a Junta de Freguesia, nem o Conselho Executivo, nem sequer as concelhias partidárias foram capazes de denunciar esta situação. Passou-se tudo debaixo das barbas de toda a gente sem que ninguém se importasse com o assunto.

Certamente tudo isto será muito bom para os saudosistas do outro tempo. Eu por mim, estou envergonhado.

 

[na imagem, "outro exemplo de discriminação positiva" dado pelo Rodrigo Moita de Deus]


09
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:15link do post | comentar | ver comentários (4)

O magalhães está a ser protagonista daquilo que poderia ser um livro de aventuras. Desde as acções de formação que acabavam com verdadeiros hinos à magalhomania até às mais actuais notícias de problemas, a meu ver graves, com o software utilizado, o bichinho azul tem marcado a agenda mediática. Apesar de ser muito divertido falar sobre o magalhães, sobre o marketing excelente que José Sócrates faz em conferências internacionais e sobre as mulheres nuas que as criancinhas poderiam eventualmente ver por lá - como se fosse alguma novidade para os piquenos, penso que seria verdadeiramente interessante pensarmos seriamente sobre a base de tudo isto. Será que o magalhães foi uma boa aposta?

É esta a questão que carece de resposta. Certo dia, um Primeiro Ministro levanta-se e pensa: "que bonito seria todos os infantes desta nossa terra terem um computador na carteira". É bonito, sim. Faz-nos pensar que estamos a ficar próximos dessas Holandas longíquas. O problema é que para que na Holanda houvesse um computador por carteira, percorreu-se um longo caminho, caminho esse que ninguém está interessado em percorrer nesta terra.


25
Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:13link do post | comentar | ver comentários (1)

«A sensação generalizada na sociedade é que o ensino particular é uma coisa para ricos. Não admira, pois quem quiser escolher a escola dos filhos tem de pagar duas vezes, nas propinas a educação dos seus e nos impostos a educação dos outros. Isto até no ensino obrigatório, que a lei diz dever ser gratuito. Deste modo, o Estado recusa aos pobres a liberdade que a Constituição lhe confia.
De onde vem a limitação? "Não é a Constituição, nem a lei ordinária que impõem o monopólio escolar do Estado de facto existente, designadamente o monopólio do financiamento público; são as práticas governativas e administrativas, aliás em desobediência à lei" (p. 47). Sucessivos governos, apesar da evidência da catástrofe educativa, insistem em forçar o contrário da legislação.
Não se podem invocar razões económicas para tal, pois, como Mário Pinto demonstra, "dado que o custo médio por aluno na rede das escolas do Estado é mais elevado do que o custo médio por aluno nas escolas privadas (...), é mais económico para o Estado pagar o ensino nas escolas privadas do que pagar o ensino nas escolas estatais" (239). Acontece assim este paradoxo de os pobres terem uma educação mais cara que os ricos, com o Estado a esconder o facto e a expandir a solução ruinosa.»
 

 

João César das Neves, no DN


27
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:22link do post | comentar | ver comentários (2)

O Carlos Nunes Lopes escreveu uma série de posts onde apresenta uma situação verdadeiramente surreal. Parece que afinal o estudo da OCDE sobre o Ensino Primário é uma autêntica farsa. Está tudo podre.

 

A ler:

O "alegado" estudo da OCDE sobre a Educação

O "alegado" estudo da OCDE sobre a Educação (II)

O "alegado" estudo da OCDE sobre a Educação - os peritos independentes

O "alegado" estudo da OCDE sobre a Educação - a metodologia

O "alegado" estudo da OCDE sobre a Educação - quem contactou com os peritos?

uma amostra representativa


21
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:28link do post | comentar | ver comentários (2)

Se há quem diga que os blogues não têm importância nenhuma, como o Miguel Sousa Tavares, há também quem diga que tem mais poder no seu blogue que um secretário de Estado, como o José Pacheco Pereira. Num raro acesso não sei de quê, tendo a concordar com José Pacheco Pereira: os blogues são e serão cada vez mais fortes armas políticas. E um belíssimo exemplo é o do excelente Educação do meu Umbigo do Paulo Guinote, que, diga-se, é o quinto blogue mais lido em Portugal, e vai agora pedir um parecer jurídico a Garcia Pereira para que se avalie a conformidade da mais recente legislação vinda do Ministério da Educação com a Lei de Bases do Sistema de Ensino. Nada mais simples: um blogue com mais de 5000 visitas diárias criou um grupo de 50 para núcleo duro e vai criar uma conta para a qual quem quiser poderá contribuir com uma determinada quantia, de modo a ajudar a suportar os custos do documento. Os meus sinceros parabéns pela iniciativa.


15
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:06link do post | comentar

É impressionante a forma como os estudantes se têm organizado ao longo destes últimos dois ou três anos. Antes as manifestações dos alunos eram coisas pontuais, organizadas pelas Associações de Estudantes que, regra geral, as marcavam para dias com testes, o que dava muito jeito. No entanto, se observarmos atentamente o percurso da participação cívica dos estudantes, vemos que tem tido um aumento considerável, não só em quantidade como em qualidade. Actualmente temos para os estudantes a Delegação Nacional, órgão eleito, e mais duas plataformas estudantis. A Directores Não, uma das plataformas, vai até entregar um abaixo-assinado com 10 000 assinaturas a pedir a demissão da Ministra da Educação. Pergunto-me como é que organizações que nem sequer estão registadas, não beneficiam de apoios estatais e que sobrevivem à custa do trabalho de um reduzido número de pessoas, conseguem ter uma capacidade de organização que permita este número. É efectivamente de saudar.

post-post-scriptum: a educação não é assim tão má

03
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:53link do post | comentar | ver comentários (1)
Uma coisa que eu adorava quando era um petiz a na escola primária era a Tabuada do Ratinho. Era um livrinho sublime pela simplicidade com que explicava tudo aquilo que precisávamos ver explicado. Começo a pensar que o criador de tão famoso livrinho deveria criar um, na mesma linha, a explicar o que é que compete a cada órgão de soberania do país.
Vejo esta necessidade quando leio por aí que foi uma vitória política para Maria de Lurdes Rodrigues o facto de o Presidente da República ter promulgado a Avaliação dos Professores. Atente-se numa coisa. O Presidente da República não pode utilizar o direito de veto sempre que discorda do governo, caso assim fosse, nem faria sentido a figura do Presidente tal como a conhecemos, seria muito mais fácil a criação de uma entidade única que decidisse sozinha. O Presidente só veta quando a lei compromete aquilo que ele foi eleito para garantir: as liberdades e garantias do povo português e a Constituição. A promulgação da Avaliação de Professores é apenas um acto a que se vê obrigado, quer concorde quer não. Vitória para Maria de Lurdes Rodrigues? Olhem que não, olhem que não.

27
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:11link do post | comentar | ver comentários (6)
Isto da retórica tem muito que se lhe diga. E o Tomás Vasques mostra-se um mestre na arte. Para o Tomás, do facto de haver taxistas, empregados de hotel, médicos e enfermeiros a trabalhar no dia de Natal ilucida, sem sombra para dúvidas, os fundamentos da luta dos professores. Ao que parece, ao ver gente a trabalhar na santa quadra, o Tomás apercebeu-se que o que os professores querem é manter ordenados acima da média (primeiro, qual é a média? depois, sabe quanto é que um professor em início de carreira ganha?), sair cedo (do quê?) e progredir na carreira conforme os anos de trabalho (coisa nunca antes vista na Função Pública). Enfim, o que os professores querem é manter as regalias às quais se habituaram.
Eu, calhando, até concordo com o Tomás em certa medida. Também acho que os professores devem ter uma progressão baseada no mérito. O problema, Tomás, é que não é isso que se fará caso esta avaliação vá em frente. Eu passo a explicar. Primeiro, os professores avaliadores são os professores titulares, certamente já ouviu falar, que o são por todas as razões menos por ensinar bem: direcções de turma, assentos nas assembleias de escola e conselhos pedagógicos, chefias de departamento, tudo isto contadinho serviu para distinguir os professores de primeira dos de segunda. Agora, os professores de primeira avaliarão os de segunda, sabendo nós que não é líquido que sejam melhores professores que os avaliandos. Há ainda a questão de um professor de uma área científica avaliar outro de outra área científica - o Tomás gostaria de ser avaliado por um trapezista no seu emprego? Depois há os parâmetros de avaliação em si que são tudo menos objectivos. Para pegar no exemplo das notas dos alunos. É óbvio que um bom professor tem alunos com sucesso, mas como é que se compara esse sucesso de professor para professor? Repare que os critérios de avaliação dos alunos são diferentes de escola para escola e, muitas vezes, de professor para professor, e a inexistência de exames nacionais a todas as disciplinas e a todos os anos impossibilita a existência de uma bitola segura, que não seja a "média nacional". Só para acrescentar, acha que o professor de uma localidade com muitos problemas sociais vai ter uma tarefa semelhante à de um professor situado num lugar sem problemas de maior?
Agora, quanto ao ordenado e ao "sair cedo" (que suponho querer dizer sair cedo do local de trabalho), não posso concordar. Um professor, ou seja, um indíviduo com curso superior, começa a carreira sem atingir os mil euros. Isto quase não se vê noutra profissões. Quando um engenheiro inicia a carreira, a ordem impõe o ordenado, por exemplo. Por outro lado, acho que os ordenados astronómicos a que um professor "antigo" chega são absurdos, até pelo facto de terem redução de horário. A redução de horário é outra coisa que contesto, é a única "classe" (se se lhes pode chamar classe) em que isto acontece. Quanto ao "sair cedo", só quem não conhece é que o pode afirmar. É certo que o horário lectivo semanal é de 22 horas, mas as aulas de substituição, as reuniões, os testes e a preparação das aulas, tudo junto, é tudo menos "sair cedo".
Para além disso, caro Tomás, é sempre possível marcarmos a nossa posição sem tratar com o desprezo com que tratou todo um grupo profissional constituído por cento e cinquenta mil pessoas. Mas, pronto, isto da liberdade de expressão às vezes não é muito bem compreendido.

19
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:55link do post | comentar | ver comentários (1)

Isto é uma manchete que deveria ficar para a posteridade, na base de uma estátua a José Sócrates, que provavelmente estará edificada no jardim pessoal do primeiro-ministro.

A falta de honestidade intelectual do primeiro-ministro ainda me consegue impressionar.
Agora que se apercebeu que a avaliação entrou num ponto em que a única saída é a cedência, decidiu fazer-se de vítima (perdoe-me sua Excelência a expressão) e dizer que tem pena que mais ninguém neste preguiçoso Portugal queira um ensino de qualidade, com avaliação de professores. Quando sair de S. Bento, José Sócrates deveria dedicar-se a escrever livros de Política para Totós, que estas capacidades de virar o discurso a seu favor são raras e têm de ser transmitidas. Eu também defendo uma avaliação de professores, aliás, sempre defendi: acho absurdo que não haja um critério baseado no mérito para decidir quem é e quem não é colocado. O que eu não concordo é que um professor de Filosofia seja avaliado por um professor de Educação Física, ou que um professor com menores qualificações avalie outro com qualificação superior. Também considero absurdo que sejam os professores titulares a fazer a avaliação da qualidade de docência dos colegas, quando os motivos que os levaram a tal cargo foram todos menos a qualidade do ensino (para ser titular, o professor andou a sentar o sapiente rabinho à volta de grandes mesas a fazer reuniões morosas sobre Orçamentos, sobre Planos de Actividades e tudo mais). Acho mal que as notas dos professores se baseiem nas notas dos alunos, sem ter como referência algo sólido (como um Exame Nacional). Enfim, é todo um conjunto de motivos que me faz, não sendo professor, estar ao lado dos professores nesta matéria particularmente delicada.

16
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 15:26link do post | comentar | ver comentários (1)
Palavra de honra que às vezes fico sem palavras para expressar o que sinto quando observo certas atitudes de certos "chefes" de certos ministérios.
Depois de ter chamado burros (sim, foi apenas isso que lhes foi chamado, mas com um palavriado menos rude) aos professores e órgãos de gestão escolar, no "curioso" Despacho 30265/2008. Depois de mentir deliberadamente aos órgãos de comunicação social que, inocentes ou não, passaram as mentiras para a cabeça do povo que as tomou como verdades inabaláveis. Depois de meses de manipulação da mais mesquinha que pode existir, o Ministério da Educação está a auto-promover-se. Chegando à conclusão que a sua "imagem" não era das melhores, o ministério tutelado por Maria de Lurdes Rodrigues faz agora um forte investimento em publicidade e marketing. Sim, a palavra é investimento, porque lá na 5 de Outubro não se brinca e não é com sites que a coisa se indireita: toca de colocar anúncios pagos como publicidade nos jornais para fazer ver ao povo que tanto amamos que os maus são os professores e os sindicatos os maiores manipuladores. Obviamente as verbas para estes anúncios vêm direitinhas do Orçamento de Estado, aquele que é constituído com as receitas que advêm dos impostos e taxas pagos por todos nós e que deveria ser utilizado para desenvolver o país, proporcionando melhor qualidade de vida às populações. Ao lado desta propaganda, Goebbels era um menino do coro, com risco ao meio e sapatinho de verniz.
Quando é que o Presidente da República, eleito pelo povo para ser o garante da democracia, da liberdade e da Constituição, se pronuncia sobre esta quantidade infinita de trapalhada ministerial criada e pensada por pessoas cuja maior preocupação é a forma como são vistas e não a qualidade do trabalho que foram eleitas para fazer?

07
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:09link do post | comentar | ver comentários (1)
presumo que quando alguém se candidata a um cargo, o faz com o desejo de exercer as competências a que se propõe com o maior zelo e responsabilidade. pelos vistos, presumo mal. o que se passou no passado dia 5, sexta-feira, foi das maiores faltas de respeito pela democracia portuguesa que se podem ter. dos 109 deputados da oposição, apenas 74 estavam presentes, isto num dia em que se iria votar projectos para fazer cair o modelo de avaliação dos professores. dos 35 faltosos, 30 são do PSD, 3 do CDS, 1 do PCP e outro do PEV. isto não seria propriamente novidade, não se desse o caso de 13 socialistas terem faltado à votação e 6 terem votado a favor do projecto democrata-cristão, o que faz com que tenham havido 80 votos favoráveis à proposta e 101 desfavoráveis. bastavam mais 22 deputados da oposição presentes para que a avaliação fosse, finalmente, suspensa. são estes os orgãos de soberania da nossa democracia.

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:54link do post | comentar
O blogue Educação do meu Umbigo, do Paulo Guinote, é agora um dos blogues convidados do Público. Tenho apenas a dizer que é merecidíssimo. É o melhor blogue de educação que conheço, escrito de uma forma lúcida, inteligente. Os meus parabéns!

21
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 12:48link do post | comentar | ver comentários (1)
Anda tudo preocupadíssimo com umas gaffes de uns, com umas prisões de outros, é compreensível, mas porque é que ainda não apareceu nenhum jurísta dizer que isto não revoga isto? É que parecendo que não, neste quadro, é-se preso por ter cão e por não ter.

Adenda: há mais outra coisa que, calhando, é prova do que eu disse atrás: o despacho continua à espera de ser publicado em Diário da República e já passou quase uma semana.


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