A máfia da blogosfera
15
Jul 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:29link do post | comentar | ver comentários (12)

Tinha prometido a mim mesmo não falar das eleições de Lisboa. É coisa lá deles, que só lá vou quando é mesmo preciso. Mas a senhora Helena Roseta obriga-me a engolir a promessa, ó inferno que me aguardas, e tocar na ferida.

Que o Zé em falta se unisse a António Costa, toda a gente esperava. Desamparado pelo Chico, o Louçã, tinha de buscar colo num outro lugar. E António Costa até parece ser bom partido – para o Zé, claro. No entanto, de Helena Roseta não esperava este triste espectáculo. Aquele MIC tão alegre parecia tão cheio de inocência e boa vontade e, afinal, revelou-se apenas mais um peão no jogo de poder, nomeadamente no poder lisboeta. A análise do Vasco Campilho mostra bem as continhas feitas a lápis, borracha e com provas dos nove que precederam a decisão. É impressionante como Helena Roseta está, simplesmente, a tentar safar-se. Santana Lopes está a subir bastante das sondagens e o voto útil iria comprometer a candidatura da senhora. A esquerda unida ia chamar o António, sim, é uma música, e Helena Roseta ia ficar para a próxima.
Assim, manda fora os ideais que a levaram a candidatar-se (há dois anos candidatou-se contra Costa, lembrai-vos), apenas para ter um pelouro. Intervenção, cidadania ou simples ganha-pão: deixamos de saber o que é que esta candidatura representa para Helena Roseta.
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20
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:28link do post | comentar | ver comentários (2)

Curioso que a Câmara de Almada faça anúncios na TV. Curioso porque não se percebe o objectivo do anúncio para além do auto-elogio. Mais curioso ainda é que tudo isto seja feito a escassos meses das eleições. Porque será que fico com a horrível sensação que o pê-cê está a fazer campanha eleitoral com o meu dinheiro?

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25
Abr 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:07link do post | comentar | ver comentários (1)

Ontem à noite fui assistir ao fogo-de-artifício de Almada. Festa rija, todos os anos, ou não fosse a Câmara comunista, o que não tendo nada a ver, explica muita coisa. Ora este ano a celebração foi composta  por actuações avulsas de gente desconhecida, a quem poderia chamar sem nome, não fosse o título servir para o que vou dizer mais em baixo, pela intervenção do vereador da Cultura, o grande, o magnífico, António Matos, cujo discurso foi uma amálgama de rockice e analfabetismo, pela intervenção da Presidente Maria Emília, que gritou chorosa que nos amava a todos e a quem eu respondi, o quê, não digo. E depois do passeio das figuraças veio o momento solene: Almada cantou o Grândola Vila Morena. É um momento que me faz arrepiar sempre, mas deixemos isto por agora, que os meus arrepios pouco interessarão aos estimados leitores. Cantada a Grândola, começou o fogo-de-artifício. Ó espectáculo mais extraordinário, começou com a Grândola Vila Morena como banda sonora. A marcha de fundo, a canção e a luz fizeram a noite. O pior foi quando a Grândola acabou e o fogo tinha de continuar. Para este problema, o DJ arranjou solução fácil: colocou na Praça da Liberdade as músicas It's All About Us, La Tortura, One Love, Baila Morena e acabou com um remix ranhoso que ninguém parecia conhecer nem tão-pouco gostar. Uma estupidez sem nome fazer do 25 de Abril e da sua celebração um Carnaval, uma mini-discoteca improvisada, aquilo.


24
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:49link do post | comentar | ver comentários (2)

Paulo Pedroso decidiu abandonar o Parlamento para se candidatar a uma autarquia. Isso não traria problema algum, não se desse o facto de a autarquia escolhida ser a de Almada. A derrota é um dado adquirido, por um conjunto de razões.

Em primeiro lugar, Almada é, desde 1974, "território comunista". Trinta e cinco anos de gestão autárquica comunista, sem oposição digna desse nome, levaram a uma Almada que se pensa muito desenvolvida à conta das duas lideranças que teve (sim, Almada em trinta e cinco anos só teve dois Presidentes da Câmara). Apesar de nunca ter feito nada substancial por Almada, o Partido Comunista é o único possível para a maioria da população.

Poder-se-ia pensar que com o afastamento de Maria Emília de Sousa o PCP-Almada ficaria fragilizado. Resolveu-se: durante este mandato o metro de Almada foi posto a funcionar, construiu-se mais uma biblioteca, renovou-se muito do centro da cidade, construiram-se mais dois complexos desportivos, para além das escolas. Há a enraizada ideia de que o PCP fez muito pelos almadenses (apesar de esse muito ter meia dúzia de anos).

Há ainda o problema inerente a Paulo Pedroso. É que vivemos num país no qual se é inocente até que se prove o contrário, mas a flôr-de-lis é carregada para sempre por aqueles sobre os quais recai qualquer das suspeitas, ainda para mais se for uma suspeita como a que persegue Paulo Pedroso há anos. "Se há fumo há fogo", é das frases mais repetidas nesta nossa praia, e se o povo desconfia, não há nada a fazer. Paulo Pedroso em Almada é um nado-morto.

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13
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:24link do post | comentar

A decisão já foi tomada em Dezembro, mas só agora veio a público. A Câmara Municipal de Lisboa decidiu proceder à alienação de seis palácios ou edificios apalaçados, para que estes passem a ser hotéis de charme e Lisboa passe a ser uma referência nesta oferta.

Pessoalmente, considero a decisão positiva: não faz sentido que tenhamos palácios e palácios deixados ao abandono ou convertidos em maus museus sustentados pelas contribuições tributárias de todos nós. É uma forma de poder ter um património com valor inquestionável mantido em boas condições e a gerar riqueza, atraindo para a nossa capital, seguramente uma das mais belas da Europa, uma imagem de qualidade no turismo. Para além disso, há que lembrar a situação difícil ao nível da tesouraria que a CML atravessa, e esta medida vai permitir uma estabilização nas contas que é sempre positiva, sempre é melhor que pedir um aval do Estado.

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21
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:20link do post | comentar
Existe uma coisa que difere, e muito, o poder autárquico do poder central. É que o primeiro é realpolitik pura, simplesmente gestão já padronizada de um conjunto de pessoas e responsabilidades, com mais ou menos competência. Penso que isto é pacífico. Não existem diferenças substanciais entre uma autarquia comunista e uma autarquia social-democrata. Por outro lado, o exercício do poder central, apesar de estar cada vez mais próximo do autárquico na forma, ainda dá azo a alguma liberdade ideológica: mais políticas sociais com aumentos de impostos, mais liberdade na afectação dos recursos com a baixa dos impostos, sistema de saúde público ou não, sistema educativo público ou não. Aqui, no poder central, interessa verdadeiramente o pensamento de quem lidera, no autárquico, não tanto.
É por isto que não percebo o alvoroço que se sente a cada página de jornal lida, a cada notícia da televisão, a cada comentário na rádio, por Pedro Santana Lopes ser o candidato do PSD por Lisboa. É verdade que Pedro Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite têm visões diferentes da política, mas é isso critério para a escolha de um candidato a uma autarquia? Ficava um bocadinho limitada a pobre senhora se só pudesse escolher quem é igual a si.
Se Santana Lopes fosse escolhido para ministro, até eu me juntava ao coro, mas relaxem, é uma autarquia e o mais certo é acontecer o que a Filipa Martins já aqui disse: ele ficar vereador e não chatear no Parlamento. Calma.

08
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 12:00link do post | comentar
A cidade de Almada quase parece ser governada por Mário Lino. Palavra de honra que não consigo perceber onde está plantada a árvore das patacas desta terra, mas que o dinheiro abunda, não tenho dúvidas. Senão vejamos. Almada parece estar a ser reconstruída por completo: o centro da cidade têm andado todo esburacado para lá construir um metro de superfície, que é a grande bandeira deste mandato. Um metro de superfície. Os benefícios ou prejuízos da megalomania só a médio longo prazo serão avaliados, mas não me parece que o balanço vá ser muito positivo. Depois temos as bibliotecas, os pavilhões multi-usos, os teatros, os tribunais e toda uma política propagandística - bem ao gosto do Pê Cê - com anúncios que teimam em não sair da nossa inocente televisão. Dizem que Maria Emília faz isto pois é o seu último ano. Não sei. Apenas sei uma coisa, tal como o outro que nunca se engana e raramente tem dúvidas, "não há almoços grátis". E se há tanto dinheiro para os mega projectos, é porque muito faltou durante muito tempo, a bem de um fim em grande, a bem do culto eterno de Maria, padroeira de Almada, que tanto bem fez pela nossa terra. Valha-nos Deus.
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28
Set 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:15link do post | comentar | ver comentários (1)
...tira sempre a melhor parte, já lá diziam os antigos que nestas coisas nunca se enganavam e raramente tinham dúvidas. Pois o caso é o seguinte: um grupo de pessoas ao longo de décadas andou a pegar no dinheiro de todos e a atribuir casas a custos controlados a pobretanas como o Baptista-Bastos, sem qualquer respeito pelos critérios: a cunha na sua melhor forma. O mais estranho de tudo isto é que ainda não ouvi desmentidos, demissões nem pareceres dos líderes partidários. Porque será?
Cada vez me convenço mais que a classe política portuguesa é toda uma escória que merecia apenas um Marquês que os pusesse num barco a navegar no vazio do Atlântico. É vergonhoso que coisas como esta sejam consideradas "normais" e vão passar, obviamente e como todos os casos que envolvem personagens dessa grande telenovela que é a política nacional, impunes. Querem saber a coisa mais extraordinária de tudo? Eu digo à mesma: os casos anteriores a 1998 nem sequer poderão ir a julgamento por, segundo a lei penal, estarem já prescritos. Cambada, pá!

09
Set 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:57link do post | comentar
No "guia do visitante" da Festa do Avante! vinham duas caixas de publicidade: uma dos SMAS de Almada, outra da ECALMA, a empresa de estacionamentos de Almada. Ambas empresas camarárias detentoras de monopólio que torna a publicidade ridícula. A Presidente da Câmara é Maria Emília de Sousa, do PCP. Financiamento mascarado...?

17
Ago 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:32link do post | comentar | ver comentários (2)
Ontem assinalou-se o 108º aniversário da morte de Eça de Queirós, por isso, nada melhor que um post sobre as Cidades e as Serras (obra que estava a escrever à data da morte) de hoje.
Desde pequeno que passo os verões na Beira Interior e desde pequeno que me sinto um Jacinto em Tormes, completamente aparte nesta realidade tão diferente daquela em que vivo. Estas diferenças são ainda mais notórias em regiões em que não há nenhuma cidade média a exercer influência, em regiões em que as aldeias são pequenos átomos, todas semelhantes: um mercado imobiliário de concorrência perfeita!
Neste momento dou por mim a observar como é verdade que temos dois países num só: um onde os jovens se divertem numa discoteca e em que têm medo de voltar sozinhos para casa à noite, onde os pais não deixam o filho nem atravessar a rua sem lhe telefonar sete vezes, em que as crianças só correm em parques todos bonitinhos e artificiais, mas também onde se pode ir ao cinema e ao teatro, onde há bibliotecas e universidades, onde há empresas dignas de tal designação e dinheiro para quem o procurar; o outro é o exacto oposto: os jovens passam o dia nas ruas com os amigos a fazer sabe Deus o quê, só ele, mais ninguém, as crianças correm em descampados e vão à casa dos vizinhos brincar, as procissões são verdadeiros eventos sociais onde cada um veste o que de melhor tem para mostrar ao Senhor, e aos outros já agora, toda a gente se conhece e se preocupa, mas também, há que dizer, as pessoas ainda vivem muito da agricultura, que vai sendo de alto risco, não há empregos bem remunerados em quantidade, é raro o homem que há noite não está embriagado, é raro o miúdo de quinze anos que não fuma às escondidas, é raro o jovem que para estudar não tem de alugar uma casa longe.
Muitos dizem que é mau tudo isto, termos uma Lisboa e um Celorico da Beira, termos as Cidades e as Serras, termos os atrasos de desenvolvimento e as aldeias despovoadas, eu não. Gosto de estar na Caparica e ir a praia e a uma discoteca e de ir a Alverca da Beira ver como a juventude se diverte com uma banda pimba e onde todos se riem numa garraiada. Que continue.

08
Ago 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:28link do post | comentar | ver comentários (5)
Ontem à noite houve a tal operação policial em Campolide. Malditos os assaltantes que para além de assaltarem ainda são brasileiros. Por aí, blogosfera e televisão, só se ouve falar do facto de serem brasileiros, dos brasileiros serem violentos (como diz Moita Flores), do facto de um ter morrido (pena de morte informal segundo o João Miranda) e mais não sei o quê. Das duas uma, ou estamos mesmo com falta de notícias ou estamos todos doidos.
Àqueles que fazes questão de mencionar a nacionalidade dos criminosos: isso não interessa. Como diz o Daniel Oliveira, e olhem que é raro concordar com ele, este tipo de conversa só leva à criação de ódios infundados. O que acontece com isto tudo é o pensamento transferir-se do simples "isto já nem se pode andar na rua" para o "malandros desses brasileiros que vêm para cá fazer merda".
Ao João Miranda: orgulho-me imenso de viver no país pioneiro a abolir a pena de morte, orgulho-me igualmente que neste país se tenham mantido algumas áreas cinzentas como a legítima defesa. Preferia o quê? Que morressem inocentes em vez de criminosos?

Adenda: Palminhas, Rui. Concordo com o Shô Menistro.

25
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:17link do post | comentar | ver comentários (1)
«A declaração de interesses apresentada em Janeiro deste ano e referente aos rendimentos de 2006 colocou Valentim Loureiro na liderança de um "top" algo invulgar: pelo menos em número de participações sociais que detém em empresas, o major, presidente da Câmara de Gondomar, é o autarca que mais empresas possui e gere. (...)»
Eu pergunto-me como é que ainda falam do Jorge Coelho. Gondomar e o seu presidente são o típico exemplo do que é corrupção autárquica. Quando é que se mete esta gentalha toda em tribunal?

21
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 15:57link do post | comentar | ver comentários (5)
«A comunidade cigana da Quinta da Fonte está preparada para juntar ciganos de todo o país numa manifestação nacional se as famílias não forem realojadas em novos bairros até ao final desta semana, garantiu hoje José Fernandes, porta-voz da comunidade, que desde quinta-feira está concentrada em frente à Câmara de Loures. (...)»

Eu começo mesmo a pensar que esta gente enlouqueceu de todo. Podem chamar-me racista pelo que vou dizer, não quero saber, a comunidade cigana portuguesa tem previlégios que nenhuma outra tem. As autoridades por medo ou das armas ou das bocas sobre racismo, permitem que as feiras dos ciganos continuem, sendo óbvio para todos que se cometem ilegalidades nessas feiras, permitem que os ciganos continuem a ter habitação social recheada de playstations, e faço menção de referir o plural da palavra, e com mercedes à porta. Com tanto previlégio concedido nos últimos anos, começa-se a pensar que os previlégios são direitos, coisa que não são. Agora, a bem da segurança que eles próprios põem em causa, exigem a um país inteiro que pague, através dos seus impostos, casas novinhas para que os meninos possam permanecer confortáveis e inteiros. Poupem-me.

18
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 15:36link do post | comentar

O incidente de pura guerrilha urbana que teve lugar em Loures há uns dias despoletou agora um protesto por parte da comunidade cigana do Bairro, que exige que lhes sejam dadas novas casas. Os senhores são razoáveis, dizem às autoridades que não é preciso ser aqui na região, pode ser numa outra qualquer região do país, o que eles não querem é voltar para Loures. Até lhes satisfazerem o pedido, eles irão permanecer nas imediações da Câmara Municipal de Loures, acampados em bancos de jardim e em colchões. Isto está a ir longe demais.

Por todo o país, mas principalmente nas Áreas Metropolitanas, têm-se construído habitações sociais sem fim, dezenas de milhar nos últimos anos. Estas casas são atribuídas a famílias de parcos recursos que vivem em condições inumanas e que, pelo princípio da solidariedade social, merecem casas decentes. Não sou contra a atribuição destas habitações, salvo duas excepções:

1. Quando os que as recebem não as merecem por terem actividades não declaradas como bancas em feiras, tráfico de armas ou de droga, trabalho doméstico, entre outros, que os fazem receber mais do que muitos que não recebem um chavo pela parte do solidário Estado português.

2. Quando a solidariedade passa a ser exigida. As pessoas confundem muitas vezes favores com direitos, pensam que como lhes é dada uma casa, isso significa que têm direito a tê-la, o que é, obviamente, errado. As casas são oferecidas àquelas pessoas para que não vivam mal, nada obriga os contribuintes a sustentar famílias que não sejam as suas.

Mas isto das habitações sociais abrange um sem número de coisas. Por exemplo, o Rendimento Social de Inserção (o antigo Rendimento Mínimo Garantido, criado por aquele brilhante estadista que foi o Guterres) é atribuído a imensas pessoas que dele não dependem: os feirantes, os traficantes ou as empregadas domésticas são exemplos. A Justiça Social acaba por se ver transformada na mais pura injustiça porque, por um lado aquelas pessoas não descontam para o IRS pelas actividades a que se dedicam e, ainda por cima, recebem dinheiro extra exactamente por não declararem quanto recebem.

Obviamente isto não é culpa de nenhum governo, seja ele socialista ou social-democrata, é culpa do poder local que, com medo de conflitos e de perder popularidade, fecha constantemente os olhos a estas situações, a bem dos votos. Uma grande saudação da minha parte ao Presidente da Câmara de Loures por não ceder a chantagens como aquelas de que está a ser alvo e o meu voto para que a sua posição não se altere com o desenrolar dos acontecimentos. Se a coisa der para o torto, já não são precisas casas, as cadeias ainda têm celas por preencher.
*Imagem retirada do Público

13
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:13link do post | comentar | ver comentários (2)
A comunidade cigana do bairro palco de tiroteios e afins de Loures decidiu ir embora, deslocando-se para casas de familiares e outros locais possíveis. Assim que ouvi a notícia lembrei-me de um poema do Eugénio de Andrade. Adivinhem o título: Adeus!

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

12
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:14link do post | comentar | ver comentários (2)
Aconteceu em Loures, ontem e anteontem: dois tiroteios entre "grupos étnicos rivais". No nosso português racista, isto chama-se "pretos contra ciganos", mas pode ser ofensivo. Esta questão, ao contrário do que se possa pensar, não se relaciona apenas com a simples polícia que tem de garantir a segurança de quem habita naquele concelho, não. Esta é uma questão muito mais profunda que se relaciona, pasmem-se, com o planeamento urbano.

As nossas políticas sociais, ao longo de décadas a fio, permitiu a construção de habitações sociais a custos controlados de modo a alojar as pessoas que viviam em barracas e em coisas piores. Há quem diga que se tratam apenas de operações de cosmética urbana, não vou por aí. O problema destas habitações sociais é apenas este: criaram-se imensos prédios com imensos andares em pontos específicos das cidades, ou seja, juntaram-se milhares de pessoas com problemas sociais, económicos e, muitas vezes, criminais em "bairros sociais". Esta via "integradora" de pessoas com problemas de "integração" levou a uma maior descriminação, que aliada aos problemas de sempre, é uma perfeita aliada da criminalidade. Aqueles bairros sociais, dominados por gangs são lugares prigosíssimos para quem for, até para a polícia. É de todo imperativo que se alterem estas políticas de urbanização de modo a integrar habitações deste tipo noutros bairros, assim pode ser que não se assista a tristes episódios como os que aconteceram.

11
Jul 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:20link do post | comentar
A Câmara Municipal de Almada (PCP) tem um sistema de negociação com os investidores, no mínimo, peculiar. A verdade é que uma enorme fatia do investimento em infra-estruturas colectivas da cidade é feita por privados. O sistema é muito simples. Se uma grande empresa ou cadeia quer instalar-se na cidade de Almada tem de dar contrapartidas. As contrapartidas são, no mínimo, absurdas.

O Fórum Almada, um enorme centro comercial na cidade, para se instalar, teve de construir para além da estrada de acesso, um túnel e uma enorme rede de estradas à volta.

A Repsol, para instalar uma bomba de gasolina, teve de construir um campo de jogos.

Isto é preocupante, eu questiono-me até se será legal. Para alguém investir é obrigado a dar contrapartidas ou então, pura e simplesmente não investe que a câmara não deixa. É que é de um rídiculo que me deixa boqueaberto a cada novidade destas. Para além dos impostos a que estarão obrigadas, as empresas ainda de têm de fazer a função da Câmara Municipal, investindo nas áreas onde esta deveria investir.
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19
Jun 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:28link do post | comentar
Sou de Almada e nunca a vi como na crónica Avenida Objectiva do blogue Avenida Central. Parabéns ao Bruno Gonçalves. Deixo-vos aqui a fotografia:


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