disto, lembrei-me de escrever uma coisa que já estava para escrever há um bom tempo. Quando houve as eleições americanas, que interessaram mais a alguns portugueses que a muitos americanos, lembro-me de o Jon Stewart no Daily Show estar de forma constante a atacar a parelha republicana Palin e McCain, por um lado, e a fazer campanha pela parelha democrata Biden e Obama, por outro. Lembro-me até que, nessa altura, havia muitos clips do Daily Show aqui. Isto por si só não tem nada de curioso, que na América as coisas são muito transparentes neste âmbito. O verdadeiramente interessante veio depois. É que logo a seguir às eleições, Jon Stewart passou a ser oposição como os Gato Fedorento por cá são. O Daily Show retomou a sua actividade: roer as canelas de quem habita a Casa Branca. Com isso passou a ser menos vezes publicado ali, é certo, mas ganhou a minha admiração pela independência e razoabilidade.
Isto tudo porque, em Portugal, as eleições funcionam como apostas. Muitas vezes nem defendemos quem melhor nos defende. Defendemos a pessoa que está no partido que já antes tínhamos defendido (e não é admissível que tivéssemos errado na avaliação do partido no passado). E depois das eleições, em vez de sermos objectivos a analisar a governação, roendo as canelas de quem a exerce, teimamos que fizemos a escolha perfeita. É que não é admissível que o candidato que se apoiou seja, let's say, humano e, como tal, imperfeito - deve ser sinal de fraqueza. Depois acabamos com aquela malta estranhíssima que consegue defender o indefensável - coisas a que se oporia num outro contexto - apenas porque apostou no cavalo errado, ou apostou num cavalo imperfeito, e tem de ir com a aposta em diante até a ganhar.
E é assim que funcionam as mentes fechadas, militantes, sofredoras: preferem ver os calos pisados a compreender que, mesmo que seja de todos o melhor, o candidato que apoiaram não é, de todo, perfeito. Como nenhum pode ser. Eu apoio uma candidatura para as próximas legislativas, é certo. Mas é igualmente certo que a partir de dia 27 de Setembro as palmadinhas nas costas acabam e vou ser muito pouco negligente na crítica.