Desafia-me o Stran a ir aos baús velhos da discussão do aborto para lhe dizer por que o acho imoral.
Desafia-me o Stran a ir aos baús velhos da discussão do aborto para lhe dizer por que o acho imoral.
Não querendo meter a foice em seara alheia, as coisas não funcionam exactamente assim, João. E o João sabe-o, razão pela qual o post é infeliz. A partir do momento em que se dá cobertura legal a isto, a única coisa que se pode tentar fazer é retirar essa cobertura legal. E isso não se faz com armas, pelo menos segundo a minha acepção de democracia, mas com textos de protesto, com argumentação e com elevação - coisa que, e perdoe-me a sinceridade, houve muito pouco na altura do referendo. Essa desacreditação do oponente, que, calhando, afinal isto é só a gente a falar, até nem é propositada, é apenas mais um exemplo do que foi o debate que se exigia sério sobre a questão do aborto.
Disseram há dois anos que quem mostrava imagens de fetos com 10 semanas era manipulador e sensacionalista. Pessoalmente, acho isso um absurdo. Se não é um ser humano, não faz mal nenhum vê-lo tal como é. Mesmo que continuem a achar isso, pouco me importa.
Caro António de Almeida, tenho a dizer que concordo consigo na quase totalidade do artigo, tirando a parte a que se refere à pílula do dia seguinte como uma via "contraceptiva", quando para mim é igual a um aborto. Realizar um novo referendo? Mas é óbvio! Mas antes de haver um novo referendo, durante os próximos anos, o debate tem de ser sério. Não pode ser uma campanha de meia dúzia de semanas a decidir uma matéria tão importante. Não pode haver partidarização: "sou BE, voto sim!". Ou pelo menos não é desejável que assim seja. É também preciso que não se entre nos politiquismos do costume: "sou de esquerda progressista, que se faça o aborto" - foi esta a imagem que o PS quis passar. É preciso que procuremos realmente a verdade, como é sempre desejável em democracia, e não entremos em manipulações condenáveis.
Os últimos três posts sobre o argumentário pró-aborto, felizmente, geraram alguma discussão positiva. As referências noutros blogues levaram até a que a discussão se alargasse além do meu público habitual, o que é bom. O argumento que hoje quero desmontar é o argumento do alegado direito da mulher a fazer o que quiser com o corpo que é seu. Muito provavelmente serão poucos os argumentos a desmontar depois deste, pois penso que os principais já foram todos tratados e o debate que houve na altura do referendo passou apenas por um repetir constante das mesmas supostas evidências, como esta. Ora, então, uma das defesas da legalização do aborto assenta no direito à mulher de fazer o que quiser com o seu corpo: "o corpo é meu, logo, eu tenho o direito a decidir tudo sobre ele".
Felizmente já se gerou algum debate em torno da questão do aborto o que é sempre saudável. Se existem duas opiniões divergentes e os seus defensores não se "misturam" para as discutir, acabamos por nunca encontrar a verdade.
No seguimento do debate, o Jorge Assunção diz a certa altura que há um problema de princípio em tudo isto que inquina toda a discussão: a questão de o feto ser ou não um ser humano. Segundo ele, não é possível afirmar logicamente quando é que a vida humana começa. É muito pertinente, porque se este ponto não ficar esclarecido de início, não chegamos a lado nenhum.
Um dos argumentos que mais vezes é repetido por quem defende a legalização do aborto é o das condições ou falta delas para criar um filho. "Se os pais não têm condições para cuidar de um filho, mais vale que façam um aborto". Dito de outra forma, que esta é demasiado eufemística, "É preferível matar uma criança a não lhe dar uma vida de acordo com os padrões da sociedade para dignidade". E não estou a ser demagógico ao dizer que se trata de matar uma criança, já o justifiquei no outro post sobre o assunto. Ora, o que é que me faz considerar que este é um mau argumento para justificar a prática do aborto?
Sou contra o aborto. Isto até me é estranho ao ouvir. É como dizer que sou contra que se mate, roube ou explore. É-me estranho ouvir de tão óbvio que me parece ser. A campanha pela legalização/liberalização da Interrupção Voluntária da Gravidez - quando "aborto" passou a chamar-se "IVG" ficou, subitamente, mais popular - foi um excelente exemplo da pobreza do debate e da manipulação a que algumas forças partidárias submetem a população. É até estranho perguntar-se à população o que é certo e errado. Era como fazermos agora um referendo sobre a legalização do assassínio, absurdo. De qualquer modo, a campanha é água que já passou há muito tempo debaixo desta ponte e, como tal, no passado fica. O que me interessa agora é desmontar muita da argumentação falaciosa que se invocou e trazer novos dados ao debate. Se calhar não vou ter um debate tão estimulante como o da Monarquia, pois há menos gente a ler-me aqui, mas ainda assim, vou escrever e quem quiser que leia. Antes de avançar, vou explicar porque é que acho que é errada a prática do aborto.