A máfia da blogosfera
22
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:07link do post | comentar | ver comentários (2)

Há, há algum tempo, um consenso generalizado em relação à má situação das finanças públicas. Temos uma administração pública francamente ineficiente, o que leva a défices orçamentais sucessivos (as pessoas já nem se lembram que o superavit existe), o que por sua vez leva a dívidas públicas insustentáveis. É também evidente que todo um país vive acima das suas possibilidades, pois as taxas de juro são absurdamente baixas, o que constitui um estímulo à contracção de crédito, o que resulta numa dívida externa que quase representa o total que produzimos ao longo de um ano. Começa também a haver algum consenso em relação ao falhanço do governo na estabilização destas contas públicas. Se é certo que actualmente estamos em crise e temos de ser mãos largas, entre 2005 e 2007 os efeitos da crise não se faziam sentir em Portugal - francamente, acho que a crise financeira ainda não se faz sentir propriamente no nosso país, apenas dá jeito que se pense que a estamos a viver. A prova deste falhanço é a descida do rating de Portugal na Standard & Poor's, o que na prática significa que é "arriscado" emprestar-nos dinheiro e, por conseguinte, teremos de pagar o risco com taxas de juro mais elevadas. É neste contexto, com juros da dívida pública a aumentar, com um défice excessivo e com uma situação financeira quase insustentável que José Sócrates entra em acção com os seus pacotes-anti-crise, com os grandes projectos de Obras Públicas (muito guterristas, diga-se) e com as grandes frases tipo "eu posso-me arrepender de muita coisa, mas há uma coisa de que não me arrependo: foi de não ter agido", com aquele ar dramático com olhos semi-cerrados e voz quase fantasmagórica. Pois que continue o circo, que aqui o palhaço vai acompanhando os acontecimentos.

Primeiro Aniversário: o circo está a arder e os bombeiros não têm gasolina

19
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:06link do post | comentar

O Afilhado vai disponibilizar, em directo, o debate "Crise, Globalização e Intervencionismo do Estado". Começa às 21:30. Agora o vídeo ainda tem a "publicidade", mas quando começar o debate, a transmissão muda automaticamente.

 


16
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:47link do post | comentar | ver comentários (6)

Num quadro de crise como a actual, em princípio, e se não houvesse a intervenção absurda dos bancos centrais a baixar artificialmente o custo do dinheiro, estaríamos com uma crise de crédito. O dinheiro seria mais caro devido ao risco e, por isso, tanto a procura como a oferta de empréstimos bancários baixaria. Não acontece. No entanto, como os governos social-democratas têm de ganhar com as crises, fingimos que isso está a acontecer. Vamos então imaginar que acontece, portanto. O que é que um governo poderia fazer?

A primeira coisa que nos vem à cabeça é investimento. O New Deal deixou marcas e existe actualmente o "dogma" que as crises só se resolvem com investimento público - para "estimular a economia". O problema é que o investimento público não é propriamente recomendável por uma série de motivos:

 

1. Apenas estimula directamente uma parte da economia (normalmente, o sector da Construção), sendo os ganhos indirectos dos restantes sectores meras projecções;

2. Envolve sempre quantias astronómicas, o que coloca o país endividado e endivida também as gerações futuras;

3. Como parte da decisão de um grupo restrito de pessoas a aplicação de tão grandes quantias, corremos o risco de as decisões não serem as melhores (quanto aos investimentos portugueses, há dúvidas) e, caso estejam efectivamente erradas, não há nada a fazer depois do mal feito.

4. Uma maior intervenção do Estado na economia, o que é francamente prejudicial para o mercado.

 

A outra forma de estimular a economia é a diminuição da carga tributária. Baixar impostos. Ao contrário do investimento público, a diminuição dos impostos traz benefícios a vários níveis:

 

1. Aumento do consumo, coisa que o investimento público não traz.

2. Permite às famílias escolher onde aplicar o seu dinheiro, sendo à mesma possível a ocorrência de erros na aplicação do rendimento, mas, dada a diminuta fatia que é um rendimento familiar no total global, esses erros não teriam o mesmo impacto que um erro num investimento público.

3. O Estado não aumenta a sua intervenção na economia, ficando a cargo dos indivíduos a aplicação do rendimento. Há mais democracia nessa aplicação.

 

É por estes motivos (e por outros que estes ou estes amigos frequentemente enunciam) que defendo uma acentuada diminuição de impostos. E se o objectivo é estimular a economia, sugeria que o ponto de partida fosse a baixa do IVA e do ISP, dois dos grandes responsáveis pela assimetria ibérica no que respeita ao Investimento Directo.


12
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:21link do post | comentar
A questão dos bilhetes grátis da Zon e da queixa do Paulo Branco deu uma certa polémica, principalmente entre o Arrastão e o Insurgente, os "sempre em guerra". Pelos vistos, eu não concordo inteiramente com nenhum, o que é um belo pretexto para fazer um post.
 
Como é sabido, até porque é muito visto nos anúncios da televisão, a Zon e a Lusomundo fazem parte do mesmo grupo empresarial. Ora sucede que a Zon quis fazer uma promoção em que oferecia bilhetes Lusomundo aos clientes (cerca de 40 milhões de bilhetes num ano, segundo o Pedro Sales). À partida não parece haver qualquer problema de substância: uma empresa faz uma promoção para angariar clientes. O problema em tudo isto é que esta "promoção" poderia colocar em causa a concorrência no sector cinematográfico, que, diga-se, já não é muito famosa.
Um liberal que me leia até pode julgar que sou um socialista ou um adepto dessa coisa da social-democracia. Desengane-se. Apesar de o liberal que me lê não ter nada a ver com isso, eu até lhe digo que partilho o seu ideal. Mas o que se esquece muitas vezes é que num mercado livre tem de haver concorrência saudável, porque caso não haja concorrência saudável, o mercado não funciona.
Antes de avançar mais, gostaria de lembrar que a Zon Multimédia, que detém a Zon Lusomundo, foi anteriormente conhecida como PT Multimédia, ou seja, fez parte de uma empresa pública que, por o ser, está no mercado com larga vantagem, vantagem essa causada por imensos anos de apoio estatal que veio distorcer o mercado por completo. Este passado público permite que agora a Zon Lusomundo detenha 70% do mercado cinematográfico.
Vamos agora ao cerne da questão. Porque é que eu acho que a Autoridade da Concorrência fez o que estava certo?
Uma empresa, ao ser de grande dimensão e tendo como concorrentes empresas de pequena dimensão, tem uma arma tanto invejável como condenável: o dumping. Para quem não sabe, dumping é a venda de um produto com um preço inferior ao custo de produção. O problema do dumping não se coloca a pequenas empresas que por falta de capacidade não se lançam para essas aventuras. Este problema coloca-se sim nas grandes empresas que usam esta técnica como forma para destruir os adversários. No limite, a prática de dumping exercida por uma grande empresa líder no seu sector pode levar a uma situação de monopólio, destruíndo-se gradualmente toda a concorrência. Ao criar-se um monopólio, é certa a diminuição da qualidade do produto e o preço exagerado do mesmo - lembremo-nos da PT quando era monopólio. Para além disto, ao monopólio vem associado uma coisa: a falta de permeabilidade do mercado. Novamente para quem não sabe, a permeabilidade do mercado é a facilidade com que qualquer um pode estabelecer-se num determinado mercado. A permeabilidade fica reduzida porquê? Pelo facto de a empresa monopolista poder destruir qualquer adversário que apareça com políticas de preços agressivas: dumping. Vou dar um exemplo que deixei na caixa de comentários do Insurgente:
 
Em Almada, Margem Sul do Tejo, há apenas uma empresa de autocarros - a TST. Vamos agora supor que um aventureiro tinha descoberto que a TST tinha uma falha e havia um percurso muito rentável por explorar. O aventureiro - empreendedor e óptimo empresário - compra então um autocarro e explora esse percurso. A seguir a TST, para além de colocar um autocarro nesse percurso também, faz uma promoção excepcional de bilhetes a a metade do preço para todas as pessoas que façam esse percurso - obviamente vende abaixo do custo de produção, mas como tem outros percursos que dão lucro, o prejuízo dilui-se. O aventureiro, que não tem mais percursos porque ainda não tinha conseguido ter dinheiro para ter mais autocarros, não consegue acompanhar a descida de preços e acaba por ter de sair do mercado.
 
É este o problema fundamental do monopólio: condiciona a entrada e permanência do mercado de empresas concorrentes. É por este limite não ser de todo aceitável que se tem de actuar na base - penso que se deveria actuar ainda mais na base - e não permitir sequer a criação do monopólio, situação possível com a "promoção" da Zon Lusomundo.

 

Ler também: Impressões concorrentes, por Jacinto Bettencourt no 31 da Armada


10
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:29link do post | comentar

Via O Insurgente

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:06link do post | comentar
O Estado português, desde que se começou a falar da crise, anda a ajudar empresas indiscriminadamente. Foram 20 bibliões de euros de aval para empréstimos, foram 4 bibliões de injecção para haver liquidez e mais a operação que rondará o biblião de euros para a nacionalização do BPN. Para além disto, foram ajudadas as minas de Aljustrel, as ajudas à Qimonda e o mais recente apoio às Águas de Portugal. Perante uma situação destas, em que o Estado português aplica o dinheiro dos contribuintes em "ajudas" a empresas tão distintas e, aparentemente, sem qualquer estratégia, o mais normal é fazer a pergunta que Manuela Ferreira Leite faz. Mas eu iria mais longe e perguntaria: será que se deve ajudar?
A questão é quase moral e foi muito bem colocada na entrevista ao Primeiro Ministro. Estamos a ajudar indiscriminadamente qualquer empresa que surja com dificuldades, sem nos questionarmos sequer se as devemos ajudar. Não pensamos se será aceitável termos um Estado com uma influência levada ao extremo na economia - sabendo que já antes da crise tinha um sector empresarial absurdamente grande. Não pensamos nas consequências efectivas da criação de empresas públicas que não vivem em verdadeira concorrência com as privadas por terem sempre os dinheiros públicos a apoiá-las. E depois, há que ver que o facto de uma empresa pertencer ao Estado significa, por si só, uma dimensão exagerada. Veja-se a Caixa Geral de Depósitos. É uma empresa pública, mas imaginemos que agora se privatizava: teríamos um super-gigante a dominar completamente o sistema. É um pau de dois bicos que só pode ser solucionado com uma "contenção na base", isto é, com a não intromissão do Estado na economia à partida. Sempre que o Estado interveio criou desequilíbrios: a maior prova disso são as próprias assimetrias regionais, causadas por um exagerado investimento ao longo de quase mil anos nas cidades do litoral. Se calhar em momentos como este seria benéfico reflectir exactamente naquilo em que ninguém quer reflectir, nos verdadeiros benefícios a longo prazo de medidas tomadas com objectivos tão imediatos.

09
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:06link do post | comentar
Do mesmo modo que na América o sistema de apoio do estado à economia, criado para relançar o sistema financeiro, está agora em vias de ser utilizado pela General Motors - um manifesto caso de declínio numa empresa que foi em tempos a mais importante do globo; por cá, as garantias que também foram concebidos para auxiliar a banca e permitir mais crédito à actividade económica estão a ser alargados a outras empresas. É o caso da Águas de Portugal.
Este grupo, que é famoso pelos maus resultados financeiros, abrange 192 municípios e é responsável pelo abastecimento de 7,62 milhões de pessoas (2007). Um gigante que está claramente em deseconomias de escala. Agora quis pedir um empréstimo e como seguramente com os seus resultados não o conseguiria pelas vias normais, o estado deu o seu aval para que o Banco Europeu de Investimento pudesse dar a esta empresa 100 milhões de euros.
O motivo? Segundo o Secretário de Estado Costa Pina, este investimento da AdP tem um «manifesto interesse nacional, devido ao seu inegável impacte económico e social, ao nível da população servida quer com água potável quer com drenagem e tratamento de águas residuais». Ninguém sabe que investimento é esse, nem quais serão as consequências nas esferas económica e social, mas como o governo diz que é, a malta acredita. Se um dia nos falta o Grande Irmão, que será de nós?

08
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:39link do post | comentar | ver comentários (5)
Ao anunciar esta notícia, o Gabriel Silva do Blasfémias utilizou o título "O Caminho da Servidão". Deixei um comentário no post, mas como a matéria é interessante, decidi eu próprio escrever sobre o assunto.
Para ser franco, e apesar de partilhar dos ideais liberais, não vejo a vinda de grande mal ao mundo com a constituição de um tal conselho. Isto se, e só se, o conselho que se pensa fazer fosse apenas consultivo. Isto é, “recomendasse” linhas de actuação e não as impusesse. Porque é que acho que poderia ser interessante algo do género? Para facilitar. Sim, porque a verdade é que numa economia de mercado os investidores têm de decidir em que investir e muitas vezes isso é extremamente complicado, nomeadamente para quem começa uma nova empresa ou para quem não tem grandes conhecimentos de Economia. Um Conselho como esse poderia “sugerir” quais as ramos de actividade rentáveis e não rentáveis, alertar para bolhas e para os seus “rebentamentos”. Nunca, obviamente, com planos à Estaline, obrigatórios, mas sim com recomendações meramente indicativas. Iria trazer muita estabilidade a algumas economias provavelmente.
O problema é se o Conselho tornasse as suas orientações regras e as economias mundiais ficassem dependentes das resoluções da entidade, tal como a diplomacia actualmente está em grande parte dependente do Conselho de Segurança da ONU. Se tal acontecesse, teríamos dois problemas fundamentais. Em primeiro lugar, o tal Conselho iria, como facilmente se prevê, beneficiar uma parte em detrimento da outra, ou seja, as resoluções do Conselho não iriam afectar a todos de igual maneira. Em segundo lugar, teríamos como regra instituída toda uma linha de pensamento muito associada ao modelo social europeu, muito próxima da social-democracia e do Estado-Providência, a qual é considerada por muitos como uma linha de pensamento errada, incluíndo-me eu no grupo.
Depende muito do que se pretende. A pretender-se a segunda opção, espero que ninguém dê ouvidos à Chanceler alemã.

06
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:36link do post | comentar
«Banco de Portugal prevê para este ano uma recessão de 0,8 por cento.»

Público

30
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:34link do post | comentar | ver comentários (2)
A partir de agora poderão ser feitas contratações directas para obras até 5 milhões de euros, ficando para trás o maçador concurso público e a obrigação de existirem três opções. Penso que não é preciso ser uma Cassandra para adivinhar o que por aí virá. Se até agora já eram feitos negócios públicos com amigos privados, de agora em diante, a porta do cavalo não terá descanso. Estamos cá para ver.

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:30link do post | comentar | ver comentários (1)
«O Presidente da República, Cavaco Silva, promulgou, esta terça-feira, o Orçamento do Estado para 2009. A TSF sabe que o Chefe de Estado já informou o Governo liderado por José Sòcrates desta decisão»

TSF


23
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:22link do post | comentar
O João Pinto e Castro cita no Jugular aquele que é, para si, o melhor gestor português que conheceu - António Amaro de Matos. O gestor diz então que

"Talvez, por exemplo, impor que, no final do primeiro e segundo trimestre do próximo ano, o crédito a pequenas e médias empresas atinja, para cada banco, respectivamente, 20 por cento e 40 por cento acima do que figura nos balanços de Dezembro deste ano. Mantendo-se daí em diante. E que, não cumprindo, os bancos tivessem de depositar no BP o montante em falta para atingir aquele objectivo. Remunerado à taxa zero por cento. Podendo ser repassado a outros que o quisessem aplicar em PME."

Esta visão absurda do papel do estado na economia ainda me consegue surpreender. Eu perguntei ao João Pinto e Castro num comentário que por acaso não apareceu, se calhar algum problema técnico, se ele admitiria que o governo viesse um dia bater à sua porta para lhe deixar uma lista (como acontece em Cuba, já agora) com as orientações para o gasto do seu rendimento. Dizer-lhe quanto gastar e onde gastar. Pessoalmente eu não aceitaria isso, mas quanto ao João Pinto e Castro não sei. Isto aplica-se muito facilmente às empresas privadas: as empresas são privadas e geridas por privados, pessoas alheias ao governo, e isso à partida deveria significar a total autonomia, dentro do quadro legal, para gerir os caminhos da organização. Um banqueiro deve poder decidir se o seu banco empresta ou não dinheiro num determinado momento, porque se nem isso pode decidir, convenhamos, mais vale nacionalizar à partida todas as empresas e os governos que tanto sabem de Economia tratam do assunto. Já cá tivemos disso, diz que resultou muito bem.

Adenda: o "problema técnico" está resolvido, o meu comentário já aparece.

20
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:37link do post | comentar | ver comentários (2)
A influência do Estado na sociedade e na economia é assustadora. Eu sei que isto já é um lugar-comum, o que acontece é que o facto de o ser não impede os abusos do costume. Falei aqui muito pouco das privatizações e dos vinte biliões da banca, até porque foram questões que surgiram numa altura em que o tempo era escasso. Agora entretenho-me a dar conta de mais um pequeno exemplo de como o governo, com esta intrusão, pode estar a destruir a economia aos poucos.
Muitas pessoas defendem afincadamente que cabe aos governos a criação e o incremento das políticas sociais: maiores ordenados, preços mais baixos, mais serviços públicos. O problema é que não se fazem omeletes sem ovos e quando estas políticas sociais são conseguidas por decreto e não através da evolução natural da economia, tudo pode acontecer. Agora decidiu-se que as empresas transportadoras não podem aumentar o preço dos transportes. Ainda dizem que este não é um Partido Socialista. Os sucessivos governos não se apercebem das machadadas que dão à economia com pequenas coisas como esta.
Se algum leitor tiver curiosidade sobre o assunto, aconselho este texto do Miguel Botelho Moniz, ali do Insurgente, que explica melhor que ninguém o impacto da fixação de preços.

14
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:20link do post | comentar | ver comentários (5)
Negativo. O mercado editorial português de antigamente era a coisa mais bonita que havia. Editoras independentes umas das outras, concorrentes, pequeninas. Editoras com as quais os amantes das obras se podiam identificar. Uma Feira do Livro às portas do Verão cheia de banquinhas coloridas, todas diferentes e, ao mesmo tempo, todas iguais. Neste momento, até este mercado tão puro até há tão pouco tempo está a ser corrompido pela febre das fusões. O grupo LeYa compreende neste momento as editoras Academia do Livro, Asa, Caderno, Caminho, Casa das Letras, Dom Quixote, Estrela Polar, Gailivro, Livros d'Hoje, Lua de Papel, Ndjira (Moçambique), Nova Gaia, Nzila (Angola), Oceanos, Oficina do Livro, Quinta Essência, Sebenta, Teorema e Texto. Dezanove editoras, dezassete das quais portuguesas. Num mercado digno deste nome, o Paes do Amaral conseguiu levar um grupo editorial ao estatuto de grande empresa, condenando à partida as editoras que restam. E agora vai começar a bola de neve. Como o grupo LeYa não se vai, de certeza, desmantelar, às editoras que restam, restam poucas soluções: declarar falêcia, entrar no LeYa ou criar um outro grupo de grande dimensão. Editoras como a Gradiva, a Temas e Debates, a Presença, a Livros do Brasil ou a Europa-América, grandes referências no mercado editorial português estão agora ameaçadas por causa do devaneio ganancioso de um homem e pela complacência inaceitável de uma autoridade. E assim será.

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:31link do post | comentar
A economista ao serviço da Igreja Católica, Manuela Silva, defendeu no Diga Lá Excelência que as grandes fortunas deveriam ser taxadas para apoio aos pobres. A velha questão.
Partilho da opinião da economista quando diz que o problema da pobreza é um problema gravíssimo e que tem de ser combatido. Mas será que roubar aos ricos para distribuir pelos pobres é solução? Em que medida é que ter muito dinheiro constitui por si só um crime para que seja punido da forma como Manuela Silva defende? A questão é exactamente esta: não é crime nenhum! O facto de eu ter muito dinheiro não impossibilita ninguém de também ter, razão pela qual eu não devo ser penalizado por os outros não terem. Neste quadro, taxar desta forma quem cometeu o crime de ser rico é, simplesmente, roubar.
O problema de tudo isto é que estes economistas pensam sempre em resolver o problema depois de este já existir e estar enraízado. Querem acabar com os ricos pela força, chegando ao ponto de achar que pode ser definido por decreto quanto é que um gestor pode ganhar. Nunca ninguém pensou que se calhar este problema está nos fundamentos da economia e que só aí pode ser resolvido de forma duradoura.
É certo que temos poucas empresas de grande dimensão, as Micro, Pequenas e Médias Empresas, juntas, constituem cerca de 99% do tecido empresarial português, em número. Mas a existência de algumas empresas gigantes permite a criação de uma casta de gestores de luxo que ganham num mês o que um empregado ganha num ano. Se por mero acaso existisse um mercado de concorrência perfeita, imaginado pelas teorias liberais, nada disto aconteceria. Pensemos no caso dos bancos. Antes da febre das fusões de há uns anos não existiam assim tantos administradores assim tão ricos. Mais. Fala-se tanto das especulações bolsistas e do malvado Berardo cuja fortuna é feita com o suor dos outros. Se por acaso o mercado fosse atómico, isto é, se todas as empresas fossem de uma dimensão mínima, nem sequer se colocaria a questão das bolsas. E mais! Se o mercado fosse atómico, não existiriam crises de preços dada a facilidade na mobilidade dentro do mercado.
Muitos pseudo-intelectuais dizem que a situação actual é fruto de um capitalismo selvagem. Não. A situação actual é simplesmente fruto de uma indefinição ideológica, é fruto da maldita real politik, é fruto dos sistemas harmonizadores (a "social-democracia" que não é bem social-democracia), é fruto simplesmente de não vivermos, verdadeiramente, num mercado como aquele que quem o defende quer.

E agora para a economista Manuela Silva: fui ver ao Anuário Estatístico de 2006 e, em 2005 o salário médio em Portugal era 907,24€, pela endomentária que apresenta, não me parece que seja bem este o seu rendimento mensal. O seu patrão (aquele que vive no Vaticano) calça sapatos da Prada. Que tal serem os primeiros a aplicar aquilo que propõem?

13
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:32link do post | comentar
Ao longo de muitos anos fomos um país onde a inovação não foi relevante na sociedade. Nunca tivemos grandes cientistas, prémios nobel, investigadores de renome a nível mundial. Diz-se até desta nossa província espanhola que começámos a Revolução Industrial com mais de 50 anos de atraso. Sempre se deveu isto em grande parte ao facto de se terem considerado sempre as grandes obras, os grandes monumentos, as grandes extravagâncias para inglês ver mais importantes que o conhecimento - curioso, pouco mudou. Felizmente, agora, estamos a um volte-face em relação a esta triste realidade de séculos como nação: já temos universidades e investigadores reconhecidos a nível mundial, já temos uma balança tecnológica com saldo positivo, já temos a Investigação e o Desenvolvimento como pontos fortes no que respeita à afectação da riqueza criada, mais: o gasto em inovação é maioritariamente vindo de empresas privadas, o que demonstra que a percepção da importância da inovação não é algo fechado em S. Bento, mas sim uma constante nos conselhos de administração. E neste aspecto, e é verdade, a responsabilidade fica muito a dever-se ao governo de José Sócrates que sempre olhou para o investimento em I&D como ponto incontornável no crescimento sustentado e duradouro de uma economia.

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:59link do post | comentar
O engenheiro Belmiro de Azevedo disse umas coisinhas, umas chamadas "coisinhas boas", ontem numa conferência. Disse coisas com as quais concordo, disse outras que considero perfeitos disparates.
Sobre as obras públicas, não podia estar mais de acordo com o industrial do Norte. E esta menção à região onde opera não é inocente: é que um presidente de uma empresa do Norte é contra o TGV, coisa rara. Ironizou ainda dizendo que “oferecia os direitos de passagem aos espanhóis e eles faziam o TGV em Portugal” - o que nem era mal pensado se nós fôssemos um bocadinho mais espertos e eles um bocadinho mais burros. Concordo ainda com o que ele diz quando a alguns sectores-chave nos quais seria importante o apoio do estado, mais importante do que a febre das obras públicas - e que se calhar não nos deixariam ficar mal em relação ao emprego e riqueza criados - como o turismo, a pesca ou a agricultura.
Mas o senhor tinha de estragar tudo com a história do overbanking - custa muito dizer "bancos em demasia" a quem considera o tempo dinheiro. Não existe excesso de bancos nenhum, muito pelo contrário, há demasiado poucos. E isto é facilmente observável quando olhamos para um BPN, que no contexto nacional é de reduzidíssima dimensão, que ao falir deixa todo um país em alvoroço. Imaginemos o que seria se o BCP ou o BES de repente falissem! Estes problemas de falências de bancos não teriam o impacto que têm se a) não estivessem ligados a grupos financeiros e não os puxassem para baixo cada vez que espirram e b) se fossem de reduzida dimensão e em grande número: um mercado bancário atómico. A ideia que se dois ou três bancos falissem ninguém ia dar por isso é profundamente errada e espero bem que lá por o senhor ser engenheiro, não tomem os seus conselhos sobre macroeconomia verdades absolutas.

15
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:26link do post | comentar | ver comentários (4)
«George W. Bush alerta para os perigos do proteccionismo no mundo»

Passados tantos anos de parvoíce desavergonhada, George W. Bush disse algo decente e alertou para aquilo que, para mim, é o pior em Obama: a defesa do proteccionismo para a economia americana.

03
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 07:48link do post | comentar
O BPN foi nacionalizado. Meu Deus que a crise à séria chegou a Portugal! Nada disso. O BPN para além de ser um banco de reduzida dimensão no contexto nacional está numa situação excepcional. O que levou o BPN a ter todos estes problemas foram as várias práticas ilegais que por lá se desenrolaram nos últimos quinze anos. Neste momento o BPN encontra-se numa situação de falência técnica que impossibilitaria o banco de permitir aos depositantes levantar o seu dinheiro. O que vai acontecer agora é que os contribuintes vão pagar 700 milhões de euros em prejuízos, mas ao menos o país não fica num sufoco. Vamos ver é se não acontece isto.

«O governador do Banco de Portugal fez o historial das operações do BPN, algumas das quais ilegais, que conduziram à actual situação. Vítor Constâncio disse que “foram abertos seis processos de contra-ordenação contra o BPN, em Junho, na sequência da descoberta de operações clandestinas”. O governador do Banco de Portugal disse que as autoridades descobriram que parte das operações que não constavam da contabilidade do banco foram feitas através do Banco Insular, de CaboVerde, e de “um balcão virtual”. Constâncio referiu ainda que a intervenção da Procuradoria Geral daRepública (PGR), “na sequência de uma denúncia do banco central há alguns meses e da entrega de documentos há poucos dias”, poderá ter prejudicado ainda mais a já instável situação do banco, pelo que a intervenção estatal se tornou inevitável. (...)»


02
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:01link do post | comentar
A esquerda portuguesa recebeu um presente de Deus há duas semanas atrás. Dia 13 de Outubro Paul Krugman, um economista americano, recebeu o prémio de ciências económicas atribuído não pela Real Academia das Ciências sueca, mas sim pelo Banco Central da Suécia. Na televisão disseram que este desconhecido dos portugueses defendia direitos para trabalhadores e a intervenção do estado na economia e logo se deu um surto de felicidade na nossa parvónia. Felicidade nos rostos e nas teclas dos teclados dos computadores, que nos blogues desse Portugal fora só leio verdadeiras Odes à mudança da ordem económica a nível mundial e à justa atribuição de um nobel a um socialista. Tolices. Paul Krugman em Portugal não caberia em nenhum dos partidos políticos, simplesmente porque a esquerda de Paul Krugman é a esquerda da América, o que é uma coisa complicada de compreender. Para ilucidar um pouco o caro leitor, Paul Krugman nas suas teorias defende um modelo de produção em escala, ou seja, a existência de gigantescos grupos empresariais e industriais por forma a reduzir os custos nas trocas internacionais. Que me lembre isto foi condenado na última conferência do PCP e na anterior e na anterior e na anterior. É verdade depois que Paul Krugman defende que as desigualdades sociais devem ser minimizadas, principalmente ao constatar-se que nos últimos dez anos nos EUA a diferença entre os mais ricos e os mais pobres tornou-se simplesmente absurda. No que respeita ao sindicalismo, Paul Krugman defende apenas um "back to the old times", defendendo uma situação como a que existia antes de Bush que, segundo o economista, aumentou fortemente as barreiras às associações sindicais, o que deixou as massas assalariadas sem poder de negociação.
Admito que Paul Krugman não é propriamente um completo liberal, mas é inconcebível olhá-lo como um economista de esquerda.


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