A máfia da blogosfera
17
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:45link do post | comentar
Pedro Arroja, no Portugal Contemporâneo

«Durante o tempo em que participei activamente na imprenda portuguesa, fui protagonista de numerosos episódios que, aos meus olhos, eram verdadeiramente insólitos. Assim, por exemplo, é caso raro na Imprensa, senão mesmo caso único, ver o director de um jornal a escrever no principal jornal da concorrência. Aconteceu com Vicente Jorge Silva, então director do Público, que decidiu escrever no Diário de Notícias, então dirigido por Mário Bettencourt Resendes:

As expectativas irracionais do sr. Arroja
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Por: Vicente Jorge Silva
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O colunista desse jornal sr. Pedro Arroja desenvolve na edição de domingo passado do "Diário de Notícias" uma interpretação bastante original da Teoria das Expectativas Racionais, de Robert Lucas, recentemente galardoado com o Prémio Nobel da Economia. Entre os exemplos portugueses que elegeu para essa interpretação, o sr Arroja - uma bizarra criatura de origem mais ou menos extraterrestre e que talvez por isso mesmo tenha adquirido um estatuto mediático absolutamente invulgar - aponta o "Público" como um caso típico da absoluta falta de influência dos meios de comunicação social sobre a decisão dos eleitores nas últimas legislativas, embora sublinhe, ao mesmo tempo, a orientação ostensivamente socialista do jornal que dirijo e de opiniões que exprimi durante a campanha eleitoral.
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Por uma questão de simples racionalidade, não perderei tempo a discutir com o sr. Arroja - conhecido pelo novo-riquismo das suas posições ultraliberais em matéria económica - o direito a ser "Chicago boy" em Portugal em 1995, quando a moda parece ter passado definitivamente, depois do Chile de Pinochet, passando pela América de Reagan ou a Grã-Bretanha da Srª. Thatcher. Acho apenas curioso que, para uma personagem tão descrente da influência dos meios de comunicação, o sr. Arroja se desmultiplique de forma tão frenética em intervenções na rádio e nos jornais para demonstrar, por puro masoquismo, o carácter anódino das suas opiniões. Ou será que, como herdeiro tardio dos "Chicago boys", o sr. Arroja é tão cínico que se preocupa apenas em facturar a sua irrisória vaidade como comentarista pago dos meios de comunicação onde colabora?
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O sr. Arroja tem todo o direito em classificar-me - e ao meu jornal - de "socialista" [1], como eu teria idêntico direito em considerá-lo um parvenu do reaccionarismo monetarista, que nada sabe da actual realidade portuguesa nem da história recente da imprensa deste país.
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Ele terá mesmo o direito democrático de não ler aquilo que tenho escrito, quer sobre o programa do Governo PS quer sobre os acidentes que marcaram a formação desse Governo. A ignorância e a má-fé ficam com quem as pratica.
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O que já me parece inteiramente inadmissível - e uma ofensa ao próprio jornal onde colabora - é que o sr. Arroja, no seu fervor "yuppista" de terceira classe, reduza a orientação das secções de cartas ao director à publicação das opiniões dos leitores que os responsáveis de cada órgão de informação julgam mais coincidentes com as suas próprias posições.
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Este propósito é claramente infamante - quer para mim, quer para o director do Diário de Notícias, Mário Bettencourt Resendes.
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E no que me diz respeito, gostaria de lembrar ao sr. Arroja que as opiniões de leitores do "Público" sobre os meus editoriais a propósito dos debates televisivos entre António Guterres e Fernando Nogueira foram maioritariamente críticas - por vezes, em termos violentos - das minhas próprias opiniões. Mas essa é, porventura, uma lógica que não encaixa nem no cinismo nem no gosto de manipulação com que o sr. Arroja - imaginando que os Portugueses são efectivamente patetas - trata leitores ou ouvintes que ele imagina "deslumbrados" com a bacoquice das suas divagações e expectativas irracionais.
(Diário de Notícias, 18 de Outubro de 1995; bolds meus).
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[1] O autor viria mais tarde a tornar-se deputado do Partido Socialista.»


15
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:23link do post | comentar | ver comentários (2)
Eu não sou jornalista. De jornalismo sei apenas aquilo que me foi ensinado nos tempos de estudante e lembro-me bem que uma das coisas necessárias ao bom jornalismo era a imparcialidade, outra era a investigação. Isto leva-me a dizer que na RTP não se faz bom jornalismo, nomeadamente em toda esta questão da Educação.
Hoje, no programa noticioso Bom Dia Portugal saiu uma peça sobre os protestos em relação ao Estatuto do Aluno. Toda a peça é simplesmente vergonhosa. Começam por transmitir uma ideia errada, a que o aluno só pode ser sujeito a medidas correctivas quando as faltas são exclusivamente injustificadas, o que é falso, basta ler o númeor 2 do Artigo 22º para saber que as medidas disciplinares são aplicadas, e cito, "independentemente da natureza das faltas". Depois mostram uma imagem de um grupo de estudantes em protesto, estudantes de todas as idades, e a jornalista trata de perguntar a duas crianças, provavelmente do 7º ou 8º ano, o porquê de toda a manifestação - é óbvio que os miúdos foram com a corrente e nem leram o Estatuto. Depois a competentíssima jornalista Sandra Felgueiras explica ao telespectador, com base na excelente fonte de verdade que é o Secretário de Estado Valter Lemos, o que é tudo isto do Regime de Faltas. Diz então que a lei é de Janeiro, mas que só agora, em Setembro, passou para os Regulamentos Internos. Ora isto é difícil, dado que cabe ao Conselho Geral Transitório a criação de tal documento e a maioria dos Conselhos Gerais Transitórios ainda nem estão completos. Seguindo em frente, a jornalista explica o fundamento do Estatuto. Diz acertadamente que o fundamento é o de recuperar os alunos que perdem a matéria por faltar. A seguir vem o descalabro. A excelente Sandra Felgueiras começa por dizer que o Estatuto do Aluno prevê que nenhum aluno com faltas exclusivamente justificadas pode ser abandonado (muito à americana, hein...) e que mesmo que reprove na prova de recuperação a escola tem de o recuperar. Diz depois que o caso é diferente para os alunos com excesso de faltas injustificadas dado que estes, para além da prova de recuperação, são os únicos a ser sujeitos a medidas correctivas. Vem então o Valter Lemos dizer que a escola pode decidir a expulsão do aluno que tem excesso de faltas injustificadas. Vem de seguida Sandra Felgueiras dizer que a expulsão é a punição máxima para o ensino secundário, sendo que no ensino básico a punição máxima é a transferência de escola. Isto é tudo mentira. Eu não sei como é possível a estação pública de televisão transmitir tanta mentira encobrindo aquilo que é do mais criminoso que se tem feito em S. Bento. Eu acho que o Estatuto fala por si, por isso, não me vou dar ao trabalho de explicar tudo como deve de ser, vou apenas copiar para aqui, na íntegra, o Artigo 22º e o leitor poderá perceber por si próprio que a peça e as declarações de Valter Lemos são simplesmente mentiras. Afinal, quem é que manipula quem?
Artigo 22.º
Efeitos das faltas

1 — Verificada a existência de faltas dos alunos, a escola pode promover a aplicação da medida ou medidas correctivas previstas no artigo 26.º que se mostrem adequadas, considerando igualmente o que estiver contemplado no regulamento interno.

2 — Sempre que um aluno, independentemente da natureza das faltas, atinja um número total de faltas correspondente a três semanas no 1.º ciclo do ensino básico, ou ao triplo de tempos lectivos semanais, por disciplina, nos 2.º e 3.º ciclos no ensino básico, no ensino secundário e no ensino recorrente, ou, tratando -se, exclusivamente, de faltas injustificadas, duas semanas no 1.º ciclo do ensino básico ou o dobro de tempos lectivos semanais, por disciplina, nos restantes ciclos e níveis de ensino, deve realizar, logo que avaliados os efeitos da aplicação das medidas correctivas referidas no número anterior, uma prova de recuperação, na disciplina ou disciplinas em que ultrapassou aquele limite, competindo ao conselho pedagógico fixar os termos dessa realização.

3 — Quando o aluno não obtém aprovação na prova referida no número anterior, o conselho de turma pondera a justificação ou injustificação das faltas dadas, o período lectivo e o momento em que a realização da prova ocorreu e, sendo o caso, os resultados obtidos nas restantes disciplinas, podendo determinar:

a) O cumprimento de um plano de acompanhamento especial e a consequente realização de uma nova prova;
b) A retenção do aluno inserido no âmbito da escolaridade obrigatória ou a frequentar o ensino básico, a qual consiste na sua manutenção, no ano lectivo seguinte, no mesmo ano de escolaridade que frequenta;
c) A exclusão do aluno que se encontre fora da escolaridade obrigatória, a qual consiste na impossibilidade de esse aluno frequentar, até ao final do ano lectivo em curso, a disciplina ou disciplinas em relação às quais não obteve aprovação na referida prova.

4 — Com a aprovação do aluno na prova prevista no n.º 2 ou naquela a que se refere a alínea a) do n.º 3, o mesmo retoma o seu percurso escolar normal, sem prejuízo do que vier a ser decidido pela escola, em termos estritamente administrativos, relativamente ao número de faltas consideradas injustificadas.

5 — A não comparência do aluno à realização da prova de recuperação prevista no n.º 2 ou àquela a que se refere a sua alínea a) do n.º 3, quando não justificada através da forma prevista do n.º 4 do artigo 19.º, determina a sua retenção ou exclusão, nos termos e para os efeitos constantes nas alíneas b) ou c) do n.º 3.

Para ver a notícia, clique aqui e veja a partir dos 8 minutos e 40 segundos, aproximadamente. Para ler o Estatuto do Aluno na íntegra, clique aqui.

14
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:44link do post | comentar
«Não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite» (Manuela Ferreira Leite, 12.XI.2008)

Eu dou por mim a perguntar se é normal em democracia uma líder partidária vir dizer que a comunicação social não deve ter liberdade para seleccionar aquilo que transmite. Os partidos esquecem-se que os media não são empresas sob a sua alçada, esquecem-se que se aos media apetecesse, nenhum político português teria visibilidade. O máximo que quem faz política pode tentar é armar-se em deputado do PND e fazer uma brincadeira polémica para aparecer, agora vir dizer que quer, por força, ser notícia...

07
Nov 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:25link do post | comentar
Assisto frequentemente ao programa da RTP "Corredor do Poder". Curiosa e paradoxalmente, considero-o francamente mau, se calhar até é por isso que o vejo tantas vezes. Os intervenientes são aquilo que não deveriam ser num debate político feito naqueles moldes: deputados e dirigentes dos partidos com assento parlamentar. Todo o debate é feito de uma forma desorganizada, com uma intervenção crítica crescente da moderadora (Sandra Sousa) que mostra várias vezes as suas próprias "tendências". Os comentadores, pasmem-se, são Nuno Melo do CDS, Marcos Perestrello do PS, Marco António Costa do PSD, Margarida Botelho do PCP e José Soeiro do BE - antes tínhamos a fantástica Ana Drago que saiu. Todo o discurso é de campanha, um autêntico mini-parlamento em que Marcos Perestrello finge ser José Sócrates e os restantes tratam de atacar, quais feras, todas as políticas do governo, que Marcos Perestrello defende com unhas e dentes. Pessoalmente, aponto como pior característica do programa a falta de liberdade de pensamento. Acredito que os comentadores, por estarem filiados nos respectivos partidos, possam concordar com algumas ideias das suas direcções, mas ver o Marcos Perestrello a defender como suas as ideias do governo, a invadir campos que não são os seus, como o da economia, dizendo as maiores barbaridades que se podem ouvir, de tão aberrante, chega a ser divertido. Independentemente daquilo que são as minhas inclinações políticas, tenho de afirmar que os melhores comentadores são o Nuno Melo, o Marco António Costa e era, agora já não está no programa, a Ana Drago. Eram três comentadores que, apesar de ligados aos partidos, defendiam ideias suas. Quando oiço um destes três não me lembro nem de Paulo Portas, nem de Manuela Ferreira Leite nem de Francisco Louçã. O mesmo já não acontece com Margarida Botelho cujo discurso é igual ao de Jerónimo de Sousa e de todos os comunistas que por um qualquer fenómeno da natureza nasceram com cérebros geneticamente iguais que lhes permitem pensar exactamente o mesmo em todas as questões (gostei particularmente da "opinião" de Margarida Botelho sobre a nacionalização do BPN - com todos os intervenientes do debate a aplaudir a medida, ela foi a única a considerá-la errada, quando lhe pediram uma alternativa, disse que "não era essa a questão", quando lhe perguntaram sobre os postos de trabalho e sobre as pequenas poupanças, disse que "não era essa a questão" e começou a dissertar longamente sobre nada). Temos ainda o pobre José Soeiro que é francamente desrespeitado, nomeadamente pelos senhores da direita (devem ter lido o texto do Pedro Arroja no Portugal Contemporâneo) e que ontem teve uma prestação fraca, avançando para a demagogia já característica do BE e avançando para acusações graves em relação às ligações do BPN ao PSD, dizendo a já frase feita de que o "BPN era o banco sombra do PSD". Ponto positivo para Marco António Costa que soube responder à altura.

14
Set 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:03link do post | comentar
Comprei a revista Sábado há pouco por causa de um artigo que me chamou a atenção: "Como os manuais escolares deturpam factos históricos". Quando li o artigo de cinco páginas não pude deixar de ficar francamente preocupado com aquilo que anda a ser ensinado nas escolas. Para dar alguns exemplos, alguns livros de História de 9º e 12º ano dizem explicitamente que o maccarthismo é comparável ao estalinismo, que os EUA regem-se pelo unilateralismo violento e criam cisões no mundo ocidental, que a Revolução Cultural chinesa teve poucos ou nenhuns mortos, que a globalização veio converter o mundo num "vasto casino, onde as mesas estão repartidas em todas as longitudes e latitudes", assumindo, portanto, as ideias de Maurice Allais; que Fidel Castro não queria o socialismo para Cuba, apenas seguiu esse caminho por causa do bloqueio americano e mais algumas pérolas daquilo a que se pode chamar impor as ideologias privadas dos autores dos livros aos indefesos estudantes que apenas aprendem o que se lhes ensina. Para desmascarar estas enormidades foram convidados pela Sábado alguns profissionais da coisa, entre os quais Maria Filomena Mónica e Luís Aguiar-Conraria que através dos comentários fizeram transparecer a incredulidade que sentiam no momento. É assim que o nosso ensino vai melhorando, autorizando-se livros com cargas ideológicas fortíssimas para serem adoptados nas escolas públicas.

*Título gentilmente cedido pelo JPP.

02
Set 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:27link do post | comentar | ver comentários (3)
Nestas férias tive a oportunidade de assistir a algumas emissões de programas da manhã, nomeadamente, os programas da Fátima Lopes e do Manuel Goucha. E pareceu-me francamente mal.
Bem sei que o objectivo da televisão é obtenção de audiência, só assim recebem a publicidade de que tanto precisam para subsistir, no entanto, não vale tudo. A banalização do mal neste tipo de programas é brutal. Em todas as emissões temos um conjunto imenso de famílias em sofrimento, de pessoas em agonia, de crianças com doenças incuráveis: o real social em escassas duas horas. Perante tais situações, os apresentadores bondosos e caridosos tratam de chorar, de se "emocionar", de ajudar e de acompanhar a vida de quem sofre. Mas tudo isto tem de ser muito rápido, porque logo a seguir tem de se ir dar dinheiro com um sorriso que toque nas duas orelhas, não vá assustar-se a clientela do telefone (que também dá bom dinheiro). Depois do momento de alegria, novamente semblante carregado para se ir fazer aquilo que melhor se faz nas manhãs da televisão nacional: julgamentos públicos. "Crime diz Ele" e "Crónica Policial" são as rubricas em que inspectores, ou ex-inspectores, tratam de dizer o que pensam e de convencer os outros de que sabem do que falam, com revelações tremendas, com certezas inabaláveis, mesmo que em tribunal o contrário se diga. E assim, com uma brincadeira de duas horas, pessoas são ajudadas, outras difamadas, outras completamente destruídas publicamente. Ainda me lembro de um programa em que Manuel Goucha disse em pleno directo, ao telefone, que se fosse ele a mandar a senhora da chamada nunca mais trataria de uma criança.
Dinheiro honesto? Poupem-me.

26
Ago 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:30link do post | comentar | ver comentários (3)
Sou um adepto confesso de teorias da conspiração e muitas vezes sou eu próprio que as crio. Há uns dias foi pedido ao governo pelo PSD a demissão do ministro da administração interna, devido à onda de violência e criminalidade. Também há poucos dias foi divulgado que o MAI vai ter um corte no investimento no próximo ano. Um cenário nada favorável ao governo e, especialmente, ao MAI.
Hoje, dia 26 de agosto, foram noticiados exaustivamente seis assaltos só na Área Metropolitana de Lisboa: um Millennium, um Banif, um Santander, uns CTT e duas bombas de gasolina. Eu de notícias e informação percebo muito pouco, mas tantas vezes vi notícias sobre assaltos dadas em escassos segundos no meio de um telejornal no passado. Agora os assaltos são notícias de abertura e de última hora com equipas de reportagem a dirigir-se ao local e com bonitas apresentações dos locais com o Google Earth, não vá as pessoas pensarem que Setúbal é em Trás-os-Montes. Para ajudar à festa chamam-se criminologistas que dizem que as estatísticas são cor-de-rosa pois são feitas pelos políticos (maldito INE!) e que Portugal nunca foi um país seguro. Não sei se é só impressão minha, mas tudo isto me cheira muito mal.

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