José Sócrates
Na sua primeira intervenção assemelhou-se a um cardeal patriarca: afirmou que a sua preocupação era transmitir confiança ao povo. Sócrates não entende que o que os portugueses precisam não é um líder espiritual, mas sim um líder político. Disse que Portugal foi dos primeiros a sair da crise e que a sua política económica estava a dar resultados. Sobre isto, o
João Miranda já escreveu o suficiente.
No que respeita ao apoio às PME, Sócrates manteve o discurso socialista: apoiámos não-sei-quantas e vocês apoiaram menos. Sócrates não entende que um apoio à economia não pode ser feito com base em escolhas de empresas, escolhas essas sempre muito duvidosas, mas sim num aumento da margem de manobra de todas as empresas (simplificação do sistema fiscal, redução de impostos, se possível, etc.).
Mostrou, uma vez mais, que pouco diferente era dos socialistas mais ortodoxos quando se mostrou contra a hipótese de escolha dos cidadãos sobre que tipo de reforma ter: fundos públicos ou fundos privados. Paulo Portas respondeu-lhe na perfeição: «o trabalhador sabe muito melhor o que fazer ao seu dinheiro que o senhor”.
Em relação à segurança, conseguiu manter-se por cima ao acusar o CDS de incoerente entre a actividade parlamentar e a campanha eleitoral.
Infelizmente, pegou de forma muito, muito pouco correcta na questão da guerra. Muito pouco correcta a diversos títulos: por saber que, na altura, pouco mais nos restava, por saber que a participação portuguesa foi quase residual e por saber perfeitamente que durante o seu mandato não fez nada para acabar com o esforço militar e até o aumentou.
Sobre educação, Sócrates mostrou uma vez mais a sua face socialista, na tradição soviética, opondo-se à possibilidade de escolha, por parte das famílias, das escolas a frequentar pelos seus educandos. Conseguiu, sem se rir, falar das Novas Oportunidades como uma vitória – toda a gente soube, desde início, que todo o programa iria servir apenas para «números».
No final do debate, esteve muito bem «esteticamente» ao falar directamente para a câmara. É uma barbie, todos o sabemos. Não conseguiu, no entanto, resistir a, após o debate, dizer aos jornalistas algo que merecia figurar numa antologia de grandes frases da política portuguesa: «confio muito em mim e naquilo que fiz».
Paulo Portas
No início do debate voltou a trazer a falsa questão do «aumento da carga fiscal». É falso que o governo tenha aumentado todos os impostos. Se as receitas aumentaram, muito se deve ao necessário combate à evasão.
Sobre desemprego, Paulo Portas conseguiu atirar com perfeição a frase sonante de José Sócrates, que dizia, antes de ser governo, que 6,8% de desemprego era a marca de uma governação falhada.
Em relação à política social, Portas voltou a falar do RSI, um dos tumores de Portugal. Pessoalmente, admiro-o por isto: é o único que tem coragem para denunciar a situação. A hipocrisia e oportunismo de todos os outros faz perpetuas a situação vergonhosa que todos conhecemos. Quando Sócrates acusou a direita de querer privatizar a Seg. Social, Portas fez o favor de lembrar que 25% dos fundos do sistema estão investidos em bolsa. São os caprichos do mercado.
Quando o tema mudou para segurança, Portas pegou muito bem na questão do relatório que o governo decidiu apresentar apenas depois das eleições. Bastante conveniente. Falhou por ter deixado morrer a questão: deveria ter insistido.
No respeitante à educação, Portas também conseguiu sair por cima. Lembrou a frase maravilhosa de Maria de Lurdes Rodrigues («a paz com os professores vai sair muito cara ao país») e rematou com um perfeito, por verdadeiro, «o senhor quis virar um pais inteiro contra os professores».
Conclusões
Pareceu-me que, num debate algo nivelado, Paulo Portas conseguiu ganhar. José Sócrates, mais que na sua versão «português suave», esteve na sua versão «carneiro mal morto». Esteve apagado em várias partes do debate e não conseguiu responder em muitas situações. Se Portas é, e é, um político desgastado, Sócrates começa também a sê-lo.