António Barreto no passado 10 de Junho fez um discurso sublime. Lindíssimo. Tanto na forma como no conteúdo. Um discurso como há poucos. Mais que isso: um discurso tipicamente português.
É próprio da nossa pátria, este quintal entre o mar e a Europa, olhar para o Estado como o grande educador. É compreensível, se for tomada em conta a secular tradição de centralização da decisão e da intromissão do poder político em quase todos os detalhes do quotidiano. Somos, tristemente, um país que viveu um fugaz ensaio de liberalismo e que nos restantes séculos de história viveu de olhos postos na «nobreza» e na «classe política».
E isto explica a constante exigência de «exemplo» por parte da população em relação aos seus políticos. Aos políticos não é pedida competência. Aos políticos não é pedido respeito pela sua função. O que é pedido aos políticos é «exemplo». É pedido que nos tracem o caminho para que não nos percamos pelas lúgubres vias do pecado. Como se fossemos filhotes a inquirir sobre a melhor conduta aos progenitores. Que fazer, papá – quase perguntamos.
E esta infantilização da sociedade traz para o mundo dos adultos as manhas dos mais pequenos. Roubei? É verdade, mas «eles» também são todos um bando de ladrões! E a autoridade quase fica desarmada com tão cândida defesa. E se crescêssemos um bocadinho, preclaros concidadãos?