A máfia da blogosfera
06
Ago 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:32link do post | comentar

 

E aqui, em representação da minha outra casa, junto do João Villalobos fui falar um pedaço com Francisco Louçã. Hands still shaking.


Isso foi um joguinho do senhor que não pegou, pelo menos comigo. Não, não nomeio 6 grandes bancos em Portugal. Aliás, se comparar com os outros países, não nomeio nenhum. E isso interessa para quê?

Para demonstrar que não existe uma verdadeira concorrência...
Stran a 6 de Agosto de 2009 às 21:29

Ó Stran, isso não faz sentido nenhum, pelo amor de Deus! Então só há concorrência quando há muitas empresas grandes? Ou quando as empresas são todas do mesmo tamanho? Esse tipo de argumento é desprovido de sentido.

Já ouviste falar em monopólios e certamente também em oligópolios. Ora estes acontecem quando existem poucos concorrentes, como existe no sector bancário. Nestes casos torna-se mais lucrativo que não existam elevados níveis de concorrência e diferênciação, como é o caso dos bancos. Não é à toa que independentemente da situação de cada banco existiu uma normalização do spread, existindo um aumento em todos os bancos.

Obviamente que a concorrência está directamente relacionada com o número de player, com o tamanho deles e com as barreiras à entrada. Se tiveres uma elevada barreira à entrada e a tua posição resguardada então exististirá uma maior tendência para o nível concorrencial baixe.

Pensa lá bem, que ganhos é que tu tens em melhorar a tua performance se tu sabes que esse comportamente te levará ao esmagamento das tuas margens?
Stran a 6 de Agosto de 2009 às 21:57

Stran,

Eu sei que há coisas boas de ouvir, mas o sector bancário é altamente competitivo. Não tenhas dúvidas disso. Basta que vás ver com olhos de ver os spreads praticados.

Na banca portuguesa não há cartelização e muito menos monopólio oligopólio. E se há poucos concorrentes pode agradecer-se ao BdP.

Tiago,

"Basta que vás ver com olhos de ver os spreads praticados."

Qual é o spread que conheces abaixo de 1% actualmente (novos contractos)?


"E se há poucos concorrentes pode agradecer-se ao BdP"?
Stran a 7 de Agosto de 2009 às 11:42

Stran,

Até ao rebentar da crise, o spread do BPI no crédito à habitação era para aí 0.3% ou coisa assim. Um valor absurdamente baixo. Com o rebentar da crise a banca portuguesa, pouco dada ao risco, protegeu-se. Isso é normal.

Sim, porque as barreiras à entrada são imensas. Por exemplo, não se quis que o BPP fosse criado.

E podes acrescentar ao BdP a CGD, que «pela força» saca uma bela parte do mercado.

Tiago,

Não foi à toa que eu disse agora. A questão foi mesmo a resposta concertada do sector à crise e que não é normal num sector muito concorrencial que exista esses tipo de resposta, o normal seria os melhores preparados aproveitarem a crise para ganhar posição.

"Sim, porque as barreiras à entrada são imensas. Por exemplo, não se quis que o BPP fosse criado."

Não sei o que queres evidenciar com isto... Que o BdP faz análises correctas? Que se deve seguir as recomendações do mesmo? Que trabalha bem?

Quanto as barreiras à entrada serem grande é normal dado o tipo de negócio que é. Pelo investimento em tecnologia e imóveis são naturalmente elevados, e a regulamentação (também uma barreira) serve para prevenir a ocorrência de crises como esta. Portanto são naturalmente mercados com baixos numeros de concorrentes. Em Portugal junta-se isso com uma cultura fraca para a concorrência e só de tempos a tempos é que se assiste a fortes pressões concorrenciais (não te esqueças que disse que era pouco concorrencial o que é diferente de não-concorrencial).

A CGD é um player de mercado...

Já agora criticas o BdP, o que é que propoês em alternativa?
Stran a 7 de Agosto de 2009 às 14:08

Stran,

Desculpa lá mas as acusações de concertação só podem ser feitas por quem não conhece a banca. É mesmo assim. É pura especulação e wishful thinking à mistura.

Se tu achas que é normal haver barreiras à criação de empresas por causa «do tipo de negócio» é contigo. Os bancos não são uma criação moderna, existem há séculos e os BdP's não resolvem crises nenhumas. Aliás, a prova está aí.

A CGD é um player que, quando espirra, pode ir sacar dinheiro aos contribuintes. Os outros não.

Eu apenas proponho que se deixe quem quiser criar as empresas que quiser. Caramba, não há nada mais elementar que o direito a ter a profissão que se quer sob as nossas custas.

Tiago,

"Desculpa lá mas as acusações de concertação só podem ser feitas por quem não conhece a banca."

Ou então quem conhece muito bem a banca. Mas sobre isto julgo que cada ficará com a sua opinião.

"Se tu achas que é normal haver barreiras à criação de empresas por causa «do tipo de negócio» é contigo."

Não é comigo é com a realidade. Existem vários tipos de barreiras à entrada de novos concorrentes, as de regulação são apenas um tipo. Depois existem, tecnológicas, Know-how, fisicas, etc.

Cada negócio tem as suas barreiras e consoante os negócios o tipo de barreiras é diferente. E é muito usual, mesmo em negócios que não têm barreiras naturais, que os seus players criem barreiras. Já agora, se não criares reguladores isso acontecerá em qualquer negócio.

"Os bancos não são uma criação moderna, existem há séculos e os BdP's não resolvem crises nenhumas. Aliás, a prova está aí."

Nunca me ouvirás que os BC's resolve crises, apenas ajuda a que elas não aconteçam com
tanta frequência. Quanto à crise é realmente uma prova de como a falta de regulação (das empresas que criaram os novos produtos) e a auto-regulação (empresas de rating) poderão ser extremamentes ineficazes.

Quanto ao factor histórico não julgo que seja benéfico regredir à Idade Média, mas cada um tem a sua opinião.

"A CGD é um player que, quando espirra, pode ir sacar dinheiro aos contribuintes. Os outros não."

?!?!?!?!?! Parece-me que o BCP e o BES não se coibem de aumentar a taxas e sacar o dinheiro aos seus "contribuintes", como a CGD. Não te esqueças que a CGD dá dinheiro aos contribuintes (e miuto) não tira!

"Eu apenas proponho que se deixe quem quiser criar as empresas que quiser. Caramba, não há nada mais elementar que o direito a ter a profissão que se quer sob as nossas custas."

Desde que essa pessoa possa assumir as responsabilidades da sua actividade, o que claramente não é o caso! Quando as empresas tiverem a capacidade de pagar todos os danos pelas suas acções então tudo bem, até lá obviamente que não! Consegues me dizer a quem é que eu peço o dinheiro que perdi pela gestão danosa?
Stran a 7 de Agosto de 2009 às 16:09

1. Quando estou a falar de barreiras estou, obviamente, a falar das legais.

2. Os BC's simplesmente não conseguem evitar crises nenhumas. É uma ilusão. E bem que se pode aumentar até ao limite a regulação, que as crises vão acontecer. A URSS é um belo exemplo: tudo estatal, tudo ruiu e milhões morreram.

3. Se o BCP e o BES aumentarem as taxas de juro, isso é com os clientes e não com os contribuintes. Se a CGD espirrar, isto é, se se vir em maus lençóis (como o que aconteceria com a política que o Blcoo quer impor) pode sempre impor que os contribuintes paguem. O BCP e o BES não têm o poder de impor.

4. Respondo-te à última pergunta com outra pergunta: o que é uma «gestão danosa»?

Metendo a colherada, eu diria que é uma gestão que não tem como linha orientadora a sustentabilidade da empresa. Não faltaram gestões danosas por aí fora nos ultimos 20 anos.
Com os incentivos errados, os gestores preocuparam-se mais em garantir resultados de curto prazo, e bónus chorudos, com medidas fáceis mas que a prazo se revelam ruinosas.

O Stran parece no entanto estar a descrever algo mais parecido com as externalidades de um negócio, ou os danos causados por operadores incompetentes e gananciosos. Ou seja, por exemplo, imaginemos que eu num mundo liberal abria um hospital e, como não percebo nada de medicina, eventualmente teria que fechar portas. Mas pelo meio deixava uma série de vitimas de más práticas. Mortos, estropiados, cegos...
Isto se não houver uma entidade reguladora que impeça qualquer marmelo de abrir hospitais, fazer pontes, produzir bebidas, de qualquer modo e sem regulação...

l.rodrigues a 7 de Agosto de 2009 às 16:54

l.Rodrigues,

"O Stran parece no entanto estar a descrever algo mais parecido com as externalidades de um negócio, ou os danos causados por operadores incompetentes e gananciosos."

Na mouche! Obrigado pela "colherzada", externalidades era mesmo a palavra que andava à procura!

Stran a 7 de Agosto de 2009 às 17:22

1. Bem eu não. Mas as barreiras legais existem por algum motivo. Imagina o cenário do mercado farmaceutico?

2. É uma ilusão? Em que te baseias para chegar a essa conclusão? Quanto à URSS é um péssimo exemplo! Os BC's para funcionarem correctamente têm de ser independentes do poder politico, na URSS era tudo do Estado! Mas é um optimo exemplo de como a auto-regulação não funciona nem se tudo for estatal!

3. Tiago, eu ainda compreendia essa afirmação se fosse à um ano atrás. Agora acreditar nisso é um acto de fé! Os Bancos nos USA foram salvos com o dinheiro de quem? Já a proposta do BE faz todo o sentido se a tivesses ouvido com atenção, não se põe em causa a saude financeira da CGD, a questão é a de poder introduzir concorrência onde ela não existe.

4. Gestão danosa: actos de gestão que através de actos ilicitos, omissão de informação ou negligência (entre outros) provoquem diminuições patrimoniais quer no patrimonio interno da empresa ou de outros.

Mas sobre este ultimo ponto acrescentaria também outra coisa, bastava-me que existisse a garantia que as empresas pagam todas as suas obrigações sempre...

Stran a 7 de Agosto de 2009 às 17:19

Stran, a discussão não está a produzir resultados. Tenho pena, mas é a verdade. Tu não me consegues convencer e eu também não te consigo convencer.

Sinteticamente:

1. Os bancos centrais não conseguem evitar coisa nenhuma. As coisas não se podem tentar controlar antes porque é simplesmente impossível. A menos que tivessemos um Big Brother.

2. Eu achei mal os bancos serem salvos, em primeiro lugar. E a proposta do BE não faz sentido nenhum, porque põe-se, e muito, em causa a saúde financeira da Caixa, mesmo que o BE diga que não. Um banco que está constantemente living on the edge acaba a cair ao rio. A banca portuguesa aguentou-se muito por causa da sua cautela. Se achas legítimo que um governo decida simplesmente utilizar o dinheiro de todos para gerir um sector da economia, é contigo. Isso para mim é um atentado ao mais elementar que pode haver. E até me faz confusão viver num país onde as pessoas acham isto «natural» e «recomendável», desculpa o desabafo.

Para mim está a produzir e obviamente não se trata de convencer mas expôr argumentos.

1. Basicamente e simplificando és conta o cinto de segurança obrigatório porque os acidentes acontecem com ou sem cinto de segurança.

2. Neste ponto só consigo conceber que tu aches mal os bancos serem salvos se não souberes o que é risco sitémico e não tiveres em linha de conta as consequências do mesmo. Da ultima vez que numa situação desta as pessoas também acharam que não se devia ter sido salvo empresas duas bombas atómicas acabaram por ser despoletadas no Japão. E quanto ao BE, como te disse não ouviste bem o que o Louçã disse (raios o video está aqui), não tem nada a ver com estar constantemente "living on the edge". E caso não estejas recordado a banca portuguesa salvou-se porque o Estado deu uma garantia, se não tivesse interferido neste momento não havia banca para ser elogiada.

E para mim "estranho" é que se viva num país onde as pessoas desvalorizam a importância do parlamento.

P.S. "Se achas legítimo que um governo decida simplesmente utilizar o dinheiro de todos para gerir um sector da economia..." Isto não corresponde ao que á proposta do Louçã.

P.S. 2 Acabei de ouvir o Teixeira dos Santos no Sudoeste na Sic Radical. Devo dizer: Teixeira dos Santos a 1º Ministro!!!! :)
Stran a 7 de Agosto de 2009 às 23:33

Stran,

Quando as empresas tiverem a capacidade de pagar todos os danos pelas suas acções então tudo bem, até lá obviamente que não! Consegues me dizer a quem é que eu peço o dinheiro que perdi pela gestão danosa?

Irrespectivamente da definição - obrigatoriamente vaga e portanto difícil - de gestão danosa, o que é importante lembrar é que cada um deve ser responsável pelas suas decisões. Nenhuma empresa pode ter capacidade de pagar todos os danos pelas suas acções (senão teria de ter o dobro do seu capital debaixo do colchão).

Se não queres ficar sem o teu dinheiro tens de saber escolher bem, e investir numa empresa idónea. Se tiveres escolhido bem ficarás contente e di-lo-ás às tuas relações, que farão depois o mesmo.

Esse conhecimento colectivo acumulado com as boas escolhas permite às boas empresas ficar e crescer e leva as más empresas a desaparecer. Quem investiu ou assumiu relações com uma má empresa - tal como quem anda em más companhias - deve no fim arcar com as consequências das suas escolhas, que foram voluntárias.

Fazer o contrário disto é precisamente encorajar comportamentos de risco, levando a que os benefícios sejam gozados só por ti mas os prejuízos sejam da responsabilidade de todos.

João Paulo Magalhães a 7 de Agosto de 2009 às 17:31

"...o que é importante lembrar é que cada um deve ser responsável pelas suas decisões..."

A questão é mesmo essa, a impossibilidade de "accountability"...

"Nenhuma empresa pode ter capacidade de pagar todos os danos pelas suas acções (senão teria de ter o dobro do seu capital debaixo do colchão)."

Então se isso é um facto a empresa deixa de ser responsável pelos seus actos (e daí a necessidade de regulação). Aliás como tu demonstras pelo teu raciocinio um sistema sem regulação é impossível de ser posto em prática.

"Se não queres ficar sem o teu dinheiro tens de saber escolher bem, e investir numa empresa idónea. Se tiveres escolhido bem ficarás contente e di-lo-ás às tuas relações, que farão depois o mesmo."

Imaginemos então que uma empresa tem a capacidade de chegar aos meus "conselheiros" e pagar para que os mesmo digam bem da empresa. Eu então sigo esse conselho e perco o meu dinheiro... E depois? E aqui estamos só a falar do dinheiro, mas imagina que fico sem um braço, uma perna ou morro, e depois?

"Esse conhecimento colectivo acumulado com as boas escolhas permite às boas empresas ficar e crescer e leva as más empresas a desaparecer."

Então explica-me como é que consegues evitar a formação de um monopólio sem regulação?

Stran a 7 de Agosto de 2009 às 17:47

A resposta liberal para a responsabilização normalmente é "o tribunal". Funciona a posteriori.
Porque antes do mal estar feito ninguém pode ser acusado não é?

Já vi com estes dois olhos alguém no Blasfémias defender a extinção da ordem dos médicos e a abertura completa da prática de medicina. (por isso fui buscar esse exemplo, lá atrás). A teoria era que o mercado se encarregaria de eliminar os incapazes, e os prejudicados por incapazes podia sempre recorrer aos tribunais.
O que esta teoria não tem em conta, como de resto qualquer teoria liberal, são os custos sociais (neste caso incalculáveis).
Já para não falar da questão individual de um tipo que morre, mas depois pode processar se achar que podia ter sido de outra maneira.
l.rodrigues a 8 de Agosto de 2009 às 09:03

"A resposta liberal para a responsabilização normalmente é "o tribunal". Funciona a posteriori.
Porque antes do mal estar feito ninguém pode ser acusado não é?"

Depende do liberal... A regulamentação é a arma vital de um liberal. Os BdP, as CMVM, as ERC, etc, são tudo respostas liberais!

"Já vi com estes dois olhos alguém no Blasfémias defender a extinção da ordem dos médicos e a abertura completa da prática de medicina. (por isso fui buscar esse exemplo, lá atrás)."

Para ser honesto não sou muito a favor de ordens (porque é que alguém é médico por estar na ordem? ou dito de outra forma: será que uma pessoa que acaba o curso de medicina e fez o estágio com excelentes notas deixa de ter conhecimento por não pertencer a uma ordem?), agora daí até se chegar a uma abertura de pratica a qualquer pessoa vai um passo enorme (um passo entre a razoabilidade e a pura estupidez!)

"O que esta teoria não tem em conta, como de resto qualquer teoria liberal, são os custos sociais (neste caso incalculáveis)."

Não qualquer teoria liberal! Aliás existem muitos liberalchicks, que de liberais apenas têm o nome. Obviamente um liberal terá que ter em linha de conta os custos sociais, aliás uma das coisas associados ao liberalismo é a responsabilidade e na componente da responsabilidade está a componente de custo social...

"Já para não falar da questão individual de um tipo que morre, mas depois pode processar se achar que podia ter sido de outra maneira."

Bem isso não é um liberal mas um religioso! :)

Stran a 8 de Agosto de 2009 às 10:23

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