Volto a discordar do Pedro Picoito em relação ao casamento homossexual. Apesar de não referir explicitamente a conclusão a que quer chegar, ela aqui é óbvia.
Não interessa absolutamente nada quantos pares homossexuais se querem casar. Até podia ser nenhum. Isso não invalida que tenha de haver o direito a casar, caso se queira. Dizer que o casamento homossexual não faz sentido porque a esmagadora maioria não quer casar é igual a dizer que o casamento como o conhecemos deveria acabar porque há muita gente em união de facto.
Dou-lhe, no entanto, total razão quando fala na luta tribal e quando se opõe à descabida ideia de que deveria haver um Presidente gay apenas por ser gay, como se Obama tivesse sido eleito apenas por ser preto. Isso é manifestamente estúpido e apenas lhes faz moça à causa. Ser homossexual, negro ou até mesmo daltónico não é, por si só, uma porta de acesso a lugares de topo. Mal estaria o mundo se a emancipação de grupos ostracizados obrigasse a que elementos desses grupos (apenas por o serem) tivessem de exercer cargos de que natureza fosse.
E até digo mais. A questão do casamento homossexual deveria fazer-nos reflectir numa coisa ainda mais importante. É que não deveria ser o caso de os pares homossexuais receberem os mil e tal direitos dos casais heterossexuais. A discussão deveria ser, precisamente, sobre esses direitos que já existem e que não têm fundamento. O casamento homossexual não tem de ser uma porta de entrada para benefícios e privilégios. Do mesmo modo que o casamento heterossexual não o pode ser. Acabe-se com os direitos e tal e todos, mas todos, podem casar com quem quiserem sem que haja qualquer intromissão do Estado.