A máfia da blogosfera
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Jul 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:18link do post | comentar

No seguimento deste post alguns comentadores responderam, simplesmente, que o direito à saúde é uma questão de facto. Existe, ponto. O argumento maior era a consagração da saúde pública na Constituição. A discussão trouxe-me a este post.

Existem dois tipos de direitos: direitos morais e direitos legais (dentro dos legais podem incluir-se os contratuais). Muitas vezes, um direito moral é um direito legal. No entanto, todos percebemos que nem sempre é assim (por exemplo o direito das mulheres a votar não estava consagrado na lei no passado). E também é facilmente compreensível que um direito legal nem sempre é criado com base num direito moral (é o caso do direito à saúde).
Peguemos no exemplo das mulheres que não votavam. Muitas pessoas à data defendiam que se tratava de um direito extremamente elementar: a possibilidade de pessoas adultas se poderem pronunciar sobre o seu futuro. O facto de não ser um direito legal era apenas um impedimento a que o direito moral se concretizasse. Situações semelhantes, em que o direito moral não é transposto para o legal, aconteciam com os escravos ou, actualmente, com os homossexuais.
Agora pensemos no direito à saúde. Será que antes de estar consagrado na lei que havia direito ao acesso a cuidados de saúde, este direito era um direito? Será que uma pessoa doente, antes de estar na lei esta imposição, tinha o direito de obrigar outros a financiar os seus tratamentos? Não. Não existe esta obrigação moral. Mesmo no actual sistema o leitor compreenderá que se uma pessoa lhe vier pedir dinheiro e o leitor escolher dar, não está a cumprir uma obrigação mas sim a agir de forma completamente livre. Do mesmo modo, se alguém lhe pedir dinheiro e o leitor não der, não estará a desrespeitar um direito e a não cumprir uma obrigação.
O direito legal à saúde vem no seguimento de uma discussão, que me escuso a avaliar, sobre os benefícios para o colectivo. Mas é apenas isto: um direito legal. É muito pouco plausível que se trate de um direito moral (que implica uma obrigação moral para terceiros). O mesmo acontece com todos os outros direitos legais: Educação, Segurança, Justiça, Trabalho ou até mesmo o direito a prestações sociais.
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Tiago, a tanto paleio e argumentário falta simplicidade e Evangelho. A natureza humana é perigosamente cruel se deixada ao deus-dará uma matéria tão delicada como a saúde: enquanto ensaias teoricamente novas vias de organização da sociedade bem liberais deverias compreender quanto caos e morte delas advêm.

A Humanidade não está calibrada para a Liberdade de uma acção solidária, mas para a sua recusa por sistema ou África nenhuma esfomeada subsistiria. Já pensaste no que preconiza a Igreja deve incumbir aos Estados? Por que será então que um Estado deve garantir a saúde pública e os cidadãos financiá-la?! Se financiam a investigação científica, os avanços na medicina, na cirurgia, na aviónica, no armamento, por que motivo não haveria de ser inteiramente gratuita a Saúde?! Em Portugal, o que não vai para a Saúde e para o Ensino, vai para as Clientelas Partidárias e para as Negociatas entre gente corrupta, corrupção que devora qualquer intuito de administração Recta dos Dinheiros Públicos.

Por que será? Provocatório e teorético como me agrada, sinceramente, em certas matérias cheiras-me a provocatória desumanidade. E eu não gosto nada de pressentir desumanidade em texto nenhum demasiado racional para ter humanidade e decálogo dentro.
PALAVROSSAVRVS REX a 27 de Julho de 2009 às 11:57

Joaquim,

A ideia de que os homens são maus por natureza peca tão somente por estarmos a discutir isto. A saúde pública, por exemplo, foi a forma tosca que os homens arranjaram de se ajudar uns aos outros. É tosca, simplesmente, porque uns obrigam os outros a fazer o que os outros têm o direito a não querer fazer.

Quanto a África, há deveras um problema muito grave. E não julgue o Joaquim que não o penso muitas vezes, que já escrevi ensaio sobre o assunto. No entanto, qual é a solução? Obrigarmos os outros a ajudar se eles não quiserem?

Joaquim, independentemente do que diz o evangelho, fazer bem não é uma obrigação. Se fosse, não haveria bons, mas submissos. A bondade não se destiguiria da mera subserviência. É isso que temos: subserviência. Todos contribuímos de forma obrigatória. Onde está aqui a compaixão?

Além do mais, eu não escrevi que se deveria acabar SÓ com o apoio à saúde (que não é gratuita, caro Joaquim. é paga e bem caro). Eu escrevi que há direitos morais e direitos legais, tão só.

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