(já nem me vejo nem me sinto. se sou, se não, não sei dizer. sei, sei dizer. sei dizer porque sinto que me bate o coração, palpita, grita bem alto: existes. e acredito. e sinto-o irrigar cada pedaço de nada que sou e, com isso, volto a tentar. de novo papel em branco. de novo caneta cheia de tinta. de novo suspiro. e a caneta rebenta do torpor e salpica o papel. as manchas unem-se, sozinhas, involuntárias, tontas, que fazem, pergunto. e as letras surgem e as palavras e as frases e tudo. e a tinta libertadora libertou-me, regou-me, finalmente. se calhar. ou se calhar não. e agora perdoa-me ser tão pouco, tão pouco, que nem sei porque teclado, porque ecrã, porque isto. apenas disparate de artista que não o é a tentar acompanhar o ritmo compassado de maestro que quereria ser, se não soubesse esse querer tão inútil como todas as coisas inúteis o são. certamente perdoarás, que a pobre pedaço infinito de nada sem rega que o salve, nem o perdão se nega.) ¤
(e abro este parêntesis apenas para informar que este é o milésimo texto que grito neste beco sombrio)