José Sócrates já deixou de ser Primeiro Ministro. Agora é única e exclusivamente Secretário-Geral do PS. Não sei se alguma vez conseguiu separar as águas, mas agora já nem é preciso separá-las.
No jantar do fim da legislatura, José Sócrates disse algumas coisas interessantes que é bom de apontar. Em primeiro lugar, centrou a disputa partidária na atitude. Comparou a sua atitude à de Manuela Ferreira Leite e disse que era isto que os eleitores iam ter de escolher: uma atitude. Obviamente, José Sócrates pessoaliza e tenta levar o seu PS às costas, cultivando ainda mais uma ideia que passou desde a primeira hora: a de orgulhosamente só. Para além desta pessoalização habitual, José Sócrates disse algo interessante. Disse que não tinha ideias. Sim, porque um candidato a Primeiro Ministro, em condições normais, numa pré-campanha, faria ver as suas ideias e defendê-las-ia como pudesse. No caso, José Sócrates não falou em ideias e deixou já claro que não vão ser as ideias a dominar a sua campanha. Esperemos que do outro lado não lhe sigam o exemplo.
Mas não foi só isto que se ouviu. Eu achei curiosissimo que José Sócrates virasse agora tanto à esquerda, mas tanto, que contradissesse os seus próprios actos passados. Não era este o Primeiro-Ministro da economia de mercado? Quantas vezes ouvimos José Sócrates defender a economia de mercado? À sua maneira, claro, mas a verdade é que este New Labour português via o mercado com bons olhos. Agora, no fim da legislatura e quando a conjuntura não é grande coisa para ideais e honestidade, José Sócrates cospe no mercado, acusando o PSD de ter uma agenda escondida de privatizações. Isto faz lembrar a cartilha do PCP e do Bloco de Esquerda e não é nada própria da esquerda moderada que o PS diz ser. Esta cultura do preconceito que o PS quer instalar, afirmando, apenas e só, que o Estado Social é bom e o Estado mínimo é mau (parece as ovelhinhas do Triunfo dos Porcos) é de uma pobreza confrangedora. Provavelmente toda aquela conversa até tem algum efeito desejado, mas a verdade é que faz com que este, e faço questão de sublinhar este, PS seja cada vez menos merecedor de respeito.