A máfia da blogosfera
03
Jul 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:55link do post | comentar
Quando se discute ética há sempre que fazer uma distinção forte entre o deve-se e o faz-se. Segundo os nossos padrões culturais, a ética rege-se por princípios definidos, sendo a questão do limite da liberdade um belo exemplo. Princípios gerais de conduta que devem ser respeitados. Por exemplo não matar e não infligir dano a outro. Porquê? Porque são abusos da minha própria liberdade, claro está.
A questão é que nem sempre respeitamos estes princípios. O caso da tortura e a perspectiva que o Samuel dá são belos exemplos. Por princípio não é aceitável que se torture quem quer que seja por motivo algum. Afinal, torturar é fazer algo errado segundo os nossos padrões morais e o facto de o torturado ter feito algo de errado não legitima que o torturemos.  Significa isto, caro Samuel, que a escolha entre torturar alguém ou deixar que essa pessoa torture ou mate outros é sempre uma escolha entre duas coisas profundamente erradas por princípio. Se houver uma situação como a da ticking bomb, o decisor, seja ele qual for, vai apenas ter de optar pela possibilidade que se lhe afigura menos má. Isto não significa, de todo, que a tortura seja legítima nesta situação ou seja moralmente aceitável. Significa apenas que de entre todo o mal possível, este é o menos mau.
De qualquer modo, tenho objecções quanto ao argumento de Rand. Não há nada que nos diga que, por princípio, a existência é o mais alto dos valores. O caso dos fundamentalistas islâmicos é um bom exemplo de como uma escala de valores com uma longitude diferente da nossa já coloca a existência num plano secundário e o divino num plano primordial. A reflexão de Rand faz muito sentido para a nossa cultura, a ocidental (a actual!), mas não faz sentido algum para quem olha para o divino como o mais importante de tudo. Afinal, eles estão dispostos a abdicar da própria existência, o que demonstra tudo. Penso, portanto, que não é por aqui que se legitima a tortura. E reitero a conclusão do parágrafo anterior: se houver uma situação limite em que as duas alternativas são moralmente condenáveis, optar pela menos má não a faz eticamente aceitável, mas apenas e só a menos má.
Tag:

Gostaria de reformular o problema da "ticking bomb" e saber a vossa opinião:

"1. There is a ticking time bomb that cannot be found or disarmed without information from the leader of the terrorist group

2. The bomb will cause catastrophic and long-term loss of life and damage to the city

3. The captured suspect is, in fact, the leader of the group

4. The captured suspect has vital information about the location of the bomb, but will not volunteer it

5. [Forced sexual relations] is generally morally and legally prohibited

6. The captured suspect will surrender the information about the location of the bomb, in time to stop it, IF AND ONLY IF [he has sexual anal relations with Tiago (pode ser substituido pelo Stran ou Samuel)]

7. Therefore, the police are justified, morally (and legally?), if they choose to [force Tiago (ou Stran ou Samuel) to obtain the location of the ticking bomb."



Stran a 3 de Julho de 2009 às 22:24

Um excelente exercício, mas julgo que pela lógica isso seria legítimo.

Obrigado pelas tua palavras.

Partindo então do pressuposto que pela lógica esta situação seria legitima, então eu poderia afirmar por lógica que o colectivo (o conjunto de pessoas que ia morrer) é mais importante do que o individuo (Eu, tu ou o Samuel).

O que significa que por lógica chegaria ao fim do liberalismo.

P.S. Todas estas afirmações que fiz não saem fora da situação deste exercicio.

Stran a 4 de Julho de 2009 às 11:14

A questão é precisamente essa, também.

Mas o mais importante mesmo, a questão de fundo, é a justificação ética para que se sacrifique um para se salvar outros. Por instinto animalesco talvez, nada me faz duvidar que eu o faria. Mas o racionalismo tonto a que me presto exige-me que diga que, se o fizesse, estaria a cometer um acto vergonhoso.

"Por instinto animalesco talvez, nada me faz duvidar que eu o faria."

Possivelmente eu também. No entanto julgo que é diferente de aceitar que algo faça isso, ou seja que a nossa vertente animalesca seja institucionalizada...

Stran a 4 de Julho de 2009 às 20:40

Assim está bem Tiago, não é legítimo nem certo, é apenas a escolha entre o menos mal. Só uma nota, no entanto, para apontar que Rand não considera necessariamente a existência como o valor mais elevado, eu é que assim o considerei, apenas e só no caso em análise. As escalas de valores são relativas e alteram-se consoante as situações e as pessoas claro. A minha é diferente da de qualquer fundamentalista islâmico e eu não sou obrigado enquanto Ocidental a ter que me vergar a esses valores, ao contrário do que muitos bem pensantes de esquerda por esta Europa fora parecem crer...
Samuel de Paiva Pires a 5 de Julho de 2009 às 15:46

Samuel,

"ao contrário do que muitos bem pensantes de esquerda por esta Europa fora parecem crer"

quem?
Stran a 6 de Julho de 2009 às 23:20

Logo à cabeça o BE...

Desculpa mas onde é que o BE quer obrigar-te "enquanto Ocidental a ter que me vergar a esses valores [fundamentalismo islamico]"? Consegues encontrar um exemplo?
Stran a 7 de Julho de 2009 às 12:12

Mais de metade do que o BE quer fazer os comuns mortais e muitos dos que por lá pululam não sabem. Quanto a este ponto, basta estar atento quando criticam Israel, quando criticam as declarações do Cardeal Patriarca a respeito dos muçulmanos, quando criticam toda e qualquer intromissão dos EUA no Médio Oriente. E eu não estou a dizer que concordo com qualquer uma das referências que aponto, apenas constato que o BE e companhias (SOS Racismo por exemplo) andam sempre com a bandeira do multiculturalismo que degenera em excessiva tolerância...E de resto é andar atento ao 5Dias, jugular, Arrastão, Esquerda.net...

"E de resto é andar atento ao 5Dias, jugular, Arrastão, Esquerda.net..."

E já agora ao TUGA...

"andam sempre com a bandeira do multiculturalismo que degenera em excessiva tolerância..."

Julgo que esta palavra é muito mal utilizada, ainda não vi ninguém em nome do multiculturalismo defender um ataque aos direitos humanos.

Quanto aos pontos que referiste:

"...basta estar atento quando criticam Israel..."

E a actuação de Israel não é criticável? Julgo que neste ponto eles até fazem o que outras pessoas demonstram sempre uma falta de coragem: apontar o dedo a quem por norma não lhe apontam o dedo.

"...quando criticam as declarações do Cardeal Patriarca a respeito dos muçulmanos..."

E com razão também nesse ponto. As declarações do Cardeal foram das coisas mais parvas que ouvi nos ultimos tempos.

"quando criticam toda e qualquer intromissão dos EUA no Médio Oriente"

Eles não criticam toda e qualquer uma, criticaram e bem a intromissão dos USA no Iraque. Quando foi no Afeganistão (e posso estar errado) não criticaram no seu inicio. Aliás é muito dificil não criticar a politica externa dos USA.

Quanto a conjugação da palavra "tolerância" e "BE", bem digamos que para alguns elementos não combina...

Stran a 7 de Julho de 2009 às 16:16

Stran só a começar em multiculturalismo e Direitos Humanos era preciso operacionalizar estes conceitos e nunca mais daqui saíamos. O resto são opiniões tuas, e tal como eu disse, eu não concordo ou subscrevo qualquer dos pontos de que falei, foram meras constatações.

"...e nunca mais daqui saíamos."

E qual é o problema. O espaço aqui é bastante acolhedor :)

"eu não concordo ou subscrevo qualquer dos pontos de que falei"

Mas então qual é adiferença? Porque é que quando tu discordas não estás a obrigar "enquanto Ocidental a ter que me vergar a esses valores [fundamentalismo islamico]" mas quando BE discordo já o é?
Stran a 7 de Julho de 2009 às 18:02

arquivo do blogue
2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


pesquisar