No Prós e Contras de ontem ouvi algo que não esperava ouvir. É certo que se esperava a cartilha costumeira dos sindicalistas e os paninhos quentes dos seus opositores, com excepção de Armindo Monteiro, mas aquilo que ouvi da boca de Júlio Gomes no fim da sua intervenção - sim, porque o meio teve muito que se lhe diga - foi de uma coragem e lucidez raras.
A critica mais que certeira à falta de legitimidade democrática dos sindicatos para intervirem na criação de legislação laboral era necessária há muito tempo. Num Estado de Direito, a lei é criada e discutida na Assembleia da República. É lá que estão os legítimos representantes do povo e não nos sindicatos. O diálogo com os sindicatos é, as mais das vezes, uma multiplicação da importância de pequenos partidos que não receberam o voto dos eleitores e que se querem colocar em bicos de pés para decidirem aquilo que não podem, ou pelo menos, não deveriam poder decidir. É imperativo que a chachada do diálogo com os parceiros sociais acabe quando se fala em legislação e que os sindicatos deixem de fazer lei. Não podem, não têm esse direito e de cada vez que o fazem, dão uma machadada no regime. Colocam mais um prego no caixão da democracia portuguesa.