A máfia da blogosfera
21
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:35link do post | comentar

 

Bloco de Esquerda: O Programa Eleitoral (4)

 

Continuo a comentar as dez medidas de emergência, presentes no Programa Eleitoral, que o Bloco de Esquerda quer implementar nos primeiros cem dias de governação, caso seja governo.

 

4ª medida

Aumento das pensões e reforma da segurança social. Reforma da segurança social para garantir pensão completa a quem tem 40 anos de trabalho e a convergência da pensão mínima com o salário mínimo. Garantir aumentos reais das pensões, do Indexante de Apoios Sociais (IAS) e das outras prestações sociais. Imposto sobre as Grandes Fortunas para financiar a segurança social.

 

Nesta quarta medida, que novamente não é uma medida só, consigo encontrar coisas com que concordo e de que discordo. Julgo que a reforma completa aos 40 anos de trabalho é algo que deveria ser implementado. No entanto, para que esta seja implementada, considero que deveria de abandonar-se o princípio dos 65 anos. Repare-se: qual é a justiça de uma pessoa trabalhar desde os 18 anos, descontando desde os 18 anos para o sistema, para só se poder reformar com 65 anos, isto é, 47 anos depois, enquanto outros começam a trabalhar muito mais tarde, com trinta, por exemplo, e obtêm a reforma com escassos trinta e cinco anos de descontos? Não há. Como tal, o método deveria assentar todo nos anos de trabalho e não na idade.

Já quanto à pensão mínima, discordo completamente. Imaginemos agora dois casos paralelos. O Manuel trabalha quarenta anos e ganha sempre, imaginemos, 450€, fazendo os seus descontos para a segurança social desde o primeiro mês. Já o José trabalha quarenta anos, sendo que nunca, em momento algum, contribui para o bolo. Será justo que o Estado dê ao José o mesmo que dá ao Manuel?

Quanto ao imposto sobre as grandes fortunas, escritas com maiúsculas, certamente haverá um senhor chamado Grandes Fortunas e querem aumentar-lhe os impostos. Bom, esta proposta é mais um exemplo do ódio que o Bloco semeia contra o grande capital, eu escrevo com minúsculas. Vejamos: o último escalão do IRS já é de 42%, a contribuição para a segurança social é de 11% por parte do indivíduo e de 23,75% por parte da empresa. Significa isto que já temos sensivelmente 77% do valor salário do indivíduo entregue ao Estado. Um imposto sobre grandes fortunas seria de que dimensão?

Para além disto, há a questão de base: porque é que se responsabiliza os mais afortunados pela crise. Sim, porque isto é um tipo de responsabilização. Se se retira dinheiro ganho, até prova de contrário, honestamente a um indivíduo para dar a outro isto tem de envolver algum tipo de responsabilidade, obrigação moral, senão é simples roubo. Infelizmente, não consigo compreender que tipo de responsabilidade poderá ter um indivíduo rico sobre o estado de pobreza de outro ou outros.


"o último escalão do IRS já é de 42%, a contribuição para a segurança social é de 11% por parte do indivíduo e de 23,75% por parte da empresa. Significa isto que já temos sensivelmente 77% do salário do indivíduo entregue ao Estado. Um imposto sobre grandes fortunas seria de que dimensão?"

1. Uma questão técnica: ou dizes que o individuo entrega 53% do seu ordenado ao Estado ou dizes que entrega 62% do seu custo ao Estado. 77% está matematicamente errado.

2. Julgo que a intenção não é por causa dos trabalhadores por conta de outrém (que são poucos os que fazem gRANDES fORTUNAS), mas sim fazer com que todos paguem a mesma taxa máxima. E não existir uns que pagam 62% sobre o seu custo (logo salário potencial) e outros que pagam 40% ou menos e têm maiores rendimentos.

Imagina o seguinte cenário extremo:

Tu foste um gajo afortunado: por exemplo, saiu-te o Euromilhões ou o teu pai era milionário e morreu e deixou-te uma herança liquida de 100.000.000 Eur. Como és um gajo "preguiçoso" decides colocar o dinheiro no banco a render uma taxa de 3%. Tens assim um rendimento anual de 3.000.000 Eur que consideras ue dá para os gastos.

Achas justo que tu pagues apenas uma taxa de 25% (taxa liberatória) enquanto outra pessoa que tem um rendimento muito inferior ao teu pague 62%?
Stran a 21 de Junho de 2009 às 12:46

1. Não está errado não. Eu não digo que o indivíduo entrega 77% do ordenado ao Estado, eu digo que 77% do [valor] do salário é entregue ao Estado. Por exemplo: 53%*1000 + 23,75%*1000 = 1000*(53%+23.75%).

2. Acho. Aliás, acho que não devia haver imposto sobre capital, no caso, sobre juros. Repara, é imposto sobre imposto. Para teres poupança, tiveste de ganhar dinheiro e quando ganhaste esse dinheiro já contribuiste. Não acho justo que sejas prejudicado apenas porque poupaste em vez de consumir.

1. Bem a noção de valor faz toda a diferença, mas mesmo assim só entregas 53% do teu ordenado.

2. "Para teres poupança, tiveste de ganhar dinheiro e quando ganhaste esse dinheiro já contribuiste"

Com isso destrois quase toda a fonte de rendimento do Estado, pois basicamente já tudo foi tributado uma vez. Significava que o Estado apenas poderia recolher uma parte da riqueza adicional criada. O proprio rendimento que tu recebeste já foi tributado anteriormente.

E temos noções bastante distintas de justiça. Para mim duas pessoas na mesma situação devem ter tratamento igual, parece que para ti isso não é bem assim...
Stran a 21 de Junho de 2009 às 17:31

Eu acho que todos devem ser tratados por igual. Apenas acho que aquilo que uns apregoam como «justiça social» é muito injusto e traz grandes prejuízos a longo-prazo.

Acho que, por exemplo, pode falar-se num imposto sobre a herança (talvez, não pensei muito nisto) ou num imposto sobre os prémios ganhos. Imposto sobre juros não me parece que faça sentido, honestamente.

"Apenas acho que aquilo que uns apregoam como «justiça social» é muito injusto e traz grandes prejuízos a longo-prazo."

Eu neste caso só estou a falar de justiça. Já agora o que é que consideras com "justiça social"?

"Imposto sobre juros não me parece que faça sentido, honestamente."

Se pensares no assunto faz todo o sentido. O juro é um rendimento como outro qualquer. Tal e qual o rendimento de uma pessoa que trabalha por conta de outrem, logo deveria ser taxado da mesma forma. Se verificares como é que se obtem esse dinheiro verificarás que se não taxares está a isentar um rendimento injustamente.
Stran a 22 de Junho de 2009 às 11:01

Só um aparte: a taxa de 42% é marginal. Ou seja, só se aplica ao montante acima do anterior escalão.

Só para salários muito elevados é que essa conta é mais ou menos válida, uma vez que o montante abaixo da aplicação se torna desprezível para efeitos de cálculo.

De qualquer forma, a maior parte das fortunas naõ é construída com salários (à excepção dos jogadores de futebol e alguns gestores) mas sim pela via patrimonial, que não é tributada em sede de IRS.
PR a 21 de Junho de 2009 às 14:44

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