A máfia da blogosfera
19
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 07:58link do post | comentar

 

Bloco de Esquerda: O Programa Eleitoral (2)

 

Continuando o trabalho começado ontem, avanço hoje para a segunda medida do Programa Eleitoral do Bloco de Esquerda para as Próximas Legislativas.

 

2ª medida

Reorientação do investimento público para uma prioridade: reabilitação urbana. Os grandes investimentos são precisos a curto prazo onde têm efeito para combater a recessão: na reabilitação urbana, com a criação complementar de uma Bolsa de Arrendamento. Nacionalização da energia para a mobilização de recursos que são de todos para todos.

 

Esta segunda medida, que na verdade deveria ser uma segunda e uma terceira, que o Bloco implementaria nos primeiros cem dias de governo, caso fosse eleito, tem uma parte que até poderia ter o meu «consentimento» e outra que é completamente inaceitável num Estado moderno.

A primeira, que consiste na reorientação do investimento público para a reabilitação urbana é apenas mais um chavão, mais uma politiquice. Durante anos, décadas, esta reabilitação esteve na boca dos políticos e não seria em cem dias que o Bloco iria iniciar o processo. De qualquer modo, é interessante analisar a proposta. Em primeiro lugar, o Bloco não diz que tipo de prédios urbanísticos, ou seja, não nos informa se se refere a edifícios públicos - nos quais incluo todo o património histórico - ou a edifícios privados. Se for em edifícios públicos, coisa estranha de existir, mas que existe, a medida faz muito sentido. Se for em edifícios privados é apenas mais um exemplo do abuso de poder que o Bloco ambiciona poder praticar. Investir na reabilitação urbana de edifícios privados com dinheiros públicos é, simplesmente, tirar a uma parte do país para reconstruir as casas de outra parte do país. Curiosamente, as casas em ruínas, grande parte pelo menos, são produto de outra lei ruinosa para o país: a lei das rendas. E a proposta do Bloco é reabilitar o que está destruído e criar uma bolsa de Arrendamento. Continuar no círculo vicioso, portanto.

A segunda medida é, e penso que isto deveria ser algo minimamente consensual, um autêntico absurdo e mais um dos exemplos daquilo que o Bloco é na sua génese. Nacionalizar as grandes empresas nacionais, usando como argumento o seu lucro, é algo de inaceitável. Em primeiro lugar, se estas empresas têm a dimensão que têm, a culpa é do Estado, que assumiu o monopólio da energia durante demasiado tempo e nunca tivemos, até hoje, a opção pela concorrência - pouca gente fala disto, mas a concorrência no mercado da electricidade começa a chegar em força. Agora o Bloco quer voltar a nacionalizar tudo. O argumento, para além do dos lucros, muito utilizado por um certo senhor com bigode com anseios genocidas; é o de que «a energia é de todos». É verdade. Os rios são de todos. O Sol é de todos. No entanto, as máquinas que os exploram, essas, não são de todos. Vamos lá ver uma coisa: em Portugal não há petróleo. Como tal, é ridículo afirmar que a gasolina é de todos. Mesmo a electricidade não é de todos. O que é de todos é o rio, a partir do qual se produz electricidade, mas, ao que sei, a utilização do rio por um agente não impossibilita outro agente de também o utilizar. Tudo isto é completamente falacioso e as pessoas apenas acreditam nestas propostas, e não estou com isto a chamar estúpido a ninguém, as coisas funcionam mesmo assim, porque aparecem com slogans fortes, cartazes bonitos, vozes sonantes. Mas se observarmos ao pormenor, o argumento é completamente destituído de lógica. Por esta ordem de ideias, os carros também eram de todos, afinal, são feitos a partir de coisas que a terra dá, mais ou menos tranformadas é certo. E as roupas. E os telemóveis. E tudo. No limite, e usando este argumento falacioso, tudo, mas tudo, inclusivé os indivíduos, são de todos. Voltamos a perceber a base de todo o programa.


Ainda vou demorar um pouco a acabar. Desculpa por isso.

Stran a 19 de Junho de 2009 às 18:10

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