A máfia da blogosfera
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Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:17link do post | comentar

O dia de ontem e o de hoje, conjugados, são metáfora mais que perfeita para descrever o que somos. Um país que vive no limbo entre a memória do passado e o fervor da fé. Os dois dias são feriados e se o primeiro ainda pode ser aceitável, por ser da nação, e mesmo assim muito discutível, o segundo, o de hoje, é absurdo. Não a celebração, que de crenças e fés, cada um sabe de si. O que é absurdo é o feriado no dia de hoje. Institui-se que toda a nação festeja, mais passiva ou activamente, pouco importa, uma celebração religiosa. Só por si não é errado. É, no entanto, profundamente injusto para as outras religiões. Um indivíduo com uma outra religião, usufruindo destes feriados que não lhe dizem coisa alguma, tem de tirar do seu bolso para poder festejar os seus. Temos, perante a lei, uma desigualdade com base na religião, isto num Estado que se diz laico há trinta anos. Um católico tem os seus dias de celebração garantidos, muitos, poucos, não interessa, tem-nos garantidos, sem que tenha de tirar do seu bolso. Um não-católico que queira celebrar os seus feriados tem de perder um dia de férias ou, simplesmente, perder um dia de salário. É uma desigualdade que não salta à vista, principalmente porque há muito poucos a queixarem-se e os que há são geralmente desprezados. Que parvoíce. Seria, no entanto, muito interessante que houvesse um sério debate sobre esta questão. Sobre se perpetuaremos esta situação ou se faremos algo para a mudar.

 

Na imagem: Jews Praying in the Synagogue on Yom Kippur, de Maurycy Gottlieb (1878)


Curioso, nunca vi os jacobinos abraçarem esta causa fracturante, defender o fim dos feriados religiosos num Estado que pretendem laico. O mesmo princípio é válido para alguns partidos políticos.
António de Almeida a 11 de Junho de 2009 às 13:40

Alguns? Eu diria que é mesmo para todos...

Então se esta Republica distribui comendas e títulos de ordens monárquicas, porque não fazer uns feriados religiosos mesmo sendo laica?
Daniel João Santos a 11 de Junho de 2009 às 21:00

O problema que me colocaste pode ser formalizado assim:

Então se a República já faz uma coisa mal, porque é que não há-de fazer mais umas coisas mal?

exacto. Porque não cortar com todos essas tradições que não têm nada a ver com ela.

Presumo que nesta discussão esteja o Natal, certo?

O Natal é algo de diferente.

Repara. Enquanto o dia do Corpo de Deus, a Sexta-feira Santa ou o dia de Nossa Senhora são feriados estritamente religiosos, o Natal tem também um significado não religioso. O Natal já era celebrado antes de existir cristianismo, apenas com outro nome. A festa, na maioria das vezes, não é religiosa, mas sim popular. Quantas famílias em Portugal vão à missa do galo no dia de Natal? Algumas, mas não é um número significativo. É como as festas dos Santos populares - são festas quase pagãs, quase nada têm a ver com os santos em si.

O Natal é estritamente cristão, apenas convertido pelo consumismo.

Até temos direito a uma mensagem religiosa na televisão estatal.

Apesar de ser comemorado desde antes do cristianismo, foi esmagado pelo Natal cristão.

Não me parece que a ida à missa seja factor determinante para a equação.

Não me fiz entender. Se é certo que o Natal tem uma base religiosa, a sua popularização tirou-lhe importância. No Natal o mais importante já não é o culto do divino, mas sim a celebração de algo muito terreno: a família. Para além disso, desde há muito se celebra o Solstício de Inverno. Os católicos simplesmente cristianizaram a celebração. Mas na sua génese ela é completamente pagã e na actualidade a sua base religiosa foi completamente esmagada, para usar os teus termos, pela popularização e dessacralização.

Mas a Republica laica nunca comemorou o solstício.

Regressemos ao inicio. Se o actual Natal é uma festa religiosa, com direito a missa, mensagem na televisão, então deveria ser também eliminado o feriado.

Não podemos olhar para um feriado religioso de uma maneira e outro como tradição.

Assim, esta Republica laica deveria eliminar todos as referencias religiosas do calendário.

Como deveria liminar todas as condecorações religiosas, comendadores e afins, Que não fazem parte da constituição da republica.

Se queremos tratar todos por igual, não podemos ter diferentes medidas, mesmo para aqueleas tradições que nos são queridas.

Eu sei que a minha opinião pode parecer estranha. Mas a linha é simples: quanto a mim, o Natal há muito que deixou de ser estritamente religioso. É uma celebração muito mais alargada e com propósitos muito pouco divinos, nomeadamente, é a celebração da família e tem uma componente cultural muito forte. É como o Carnaval. Também é uma festa religiosa na sua génese, mas está tão alterado que já ninguém lhe dá essa carga...

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