Olhe que não, João, olhe que não. Em primeiro lugar, um pequeno esclarecimento: a teoria não diz que “tudo” é genética. Diz que a base é genética, mas que as experiências pessoais têm influência. Um Camilo cheio de capacidades à nascença pode acabar um vagabundo e um António diminuído por azar pode ter sucesso. Pormenores. Adiante.
É óbvio que os termos se podem utilizar. Aliás, nem se compreende porque é que acha que não. Diz, basicamente, que não se pode, logo, não se pode.
A realidade é que se trata de uma questão de direitos. Haver um julgador universal que diz: tu tens de ter menos porque isso é tudo genética, tu tens de ter mais porque não teres é azar, esbarra com direitos. No limite, este raciocínio leva ao comunismo mais puro. Então, João, se tudo se trata de genética, qual é o fundamento de uns terem mais que outros?
A questão essencial é: a base é genética, ou seja, muito do que somos é uma questão de sorte. Segue-se disso que deve ser retirado à força o que quem teve sorte ganhou para se dar a quem não teve a mesma sorte? A isso não respondeu.
Quanto à minha redução ao absurdo, sabe tão bem quanto eu que não é falaciosa. Eu, por nascer em Portugal, tenho menos hipóteses de sucesso à partida que um americano e mais hipóteses que um moçambicano.