A máfia da blogosfera
29
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:43link do post | comentar

O Miguel Madeira, citado pelo João Galamba, considera que, se se verificarem verdadeiras as teorias de que as nossas capacidades podem depender quase exclusivamente do "jogo de sorte e azar ocorrido na concepção", o Estado Social fica legitimado. Isto porque, claro está, se não se trata de mérito, não faz mal o Estado tirar a ricos para dar a pobres.

A isto chama-se ser falacioso e não temo a utilização do termo. Pensemos mais que dois segundos sobre esta questão. Imaginemos que a teoria está provada e que tudo funciona realmente como um jogo de sorte e azar. Por sorte, o Camilo nasceu esperto. Por azar, o António nasceu pouco esperto. Como tal, o Camilo safa-se e o António não. É mau, é triste, bem sei. Mas será que o Camilo pode ser responsabilizado e penalizado apenas porque o António não teve a mesma sorte que ele? A culpa é do Camilo? Não. Se a culpa não é do Camilo, qual é o direito do António de exigir que se roube o que o Camilo ganhou e se lhe dê?

Este raciocínio levado, ainda mais, ao absurdo iria permitir que a todas as pessoas do mundo ocidental fosse retirada toda a riqueza, pois tudo foi sorte por nascermos onde nascemos enquanto outros que nasceram em África ou na Ásia não tiveram sorte igual.

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Não, Stran. Falacioso é não falar em roubo. Quando se obriga um indivíduo a dar metade do que ganha ao Estado quando outro não dá nada e ainda recebe parte do dinheiro do primeiro, eu vejo injustiça e roubo.

Quando à questão da maioria. Desculpa Stran, mas a democracia não responde a tudo e o âmbito das decisões democráticas e, portanto, políticas não é assim tão vasto. A decisão democrática não se pode sobrepor à moral e se isso acontece significa que o país está doente. Nos EUA, a maioria defendia a escravatura. Significa que a escravatura era legítima?

Desculpa sobre a injustiça não me pronuncio pois acho perfeitamente legitimo teres essa opinião, quanto ao roubo desculpa mas não é. Basicamente apelidar um imposto de roubo é alargar o conceito de roubo a um espectro que permite considerar o preço da gasolina o roubo, ou de qualquer outro produto.

Sei que um dos teus argumentos é que não tens escolhas, mas como já te disse tens essa escolha.

Eu se quiser consumir qualquer produto tenho de pagar um preço, o mesmo é para o Estado. Sendo que o imposto não seja propriamente um preço, mas sim um financiamento de algo que todos usufruimos. Apelidar de roubo é: factualmente falso e argumentativamente falacioso.

Tens razão, mas esta questão não é uma questão de moral. Raios, normalmente sou eu que costumo dar os exemplos mais off topic, mas desta vez julgo que comparar a escravatura ao financiamento do Estado é um pouco abusivo, embora eu tenha entendido o que quiseste trasmitir.

Das duas uma: ou defendes a ausência de Estado (e daí não existir imposto), ou existindo Estado tens de o financiar, a partir deste momento, que este problema existe é legitimo discutir-se e decidir democraticamente qual a forma do financiamento. Sendo que nenhum, neste contexto, é um roubo.

Aliás, é possivel (teoricamente) transformar o imposto num preço, só que tinhas de transformar a sociedade numa sociedade big brotheriana, algo que presumo que sejas contra...
Stran a 29 de Maio de 2009 às 12:55

Essa maioria contemplava o direito dos negros ao voto?

Ok, percebi. Outro exemplo: na Alemanha, a maioria votou no partido de Hitler e essa maioria pressionou a sua tomada do poder.

Antes demais, a maioria não votou no partido de Hitler, depois é outra vez é um mau exemplo, pois o que hitler fez foi não permitir que existissem novas eleições (além de outras coisas bem mais horriveis), situação que não acontece no caso do financiamento do Estado, que de 4 em 4 anos pode ser alterado.

Mas o exemplo que tu deste abre uma outra discussão: até que ponto é que o regime democrático deve permitir a sua auto aniquilação e como garantir que os direitos humanos não são retirados por decreto? (na boa velha tradição digo que é uma discussão e depois proponho duas :))

Qual é a tua opinião nestas questões?
Stran a 30 de Maio de 2009 às 00:30

Ai votou, votou Stran. Não sou eu quem diz...

O regime democrático vê muitas respostas aos seus problemas em Tocqueville. Segundo o Tocqueville há duas democracias possíveis: a liberal e a paternalista - não são bem estes os termos, mas percebe-se. Na liberal, o Estado é nosso servo, na segunda é nosos mestre. Neste momento vivemos na segunda.
Eu não defendo que se retirem direitos da lei. Defendo é que não se criem leis revestidas da ideia de direito, quando na verdade não o são.

"Ai votou, votou Stran. Não sou eu quem diz..."

Ai não votou, não... O que o partido NAZI teve foi mais votos que os outros, no entanto os outros partidos tinham no seu conjunto mais votos que os NAZI. Para a afirmação "a maioria votou no partido de Hitler" estar correcta ele teria de receber 50% dos votos +1 o que está muito longe da realidade (o Hitler teve muita dificuldade em formar depois um governo coligado maioritário). Parece um simples nuance mas tem um significado profundo e é uma lição histórica que não deveriamos ter esquecido. Se não o tivessemos sido talvez não teriamos sido tão complacentes co a Turquia nos ultimos anos...

"Neste momento vivemos na segunda."

Tal como na Alemanha eles acabaram por aceitar Hitler sem fazer nada, também em Portugal só nos podemos culpar a nós. Não é o sistema democrático que faz com que a democracia não seja exercido da melhor forma, mas sim nós próprios. Achas mesmo que os Dinamarqueses são um povo oprimido ou que o Estado na Dinamarca é "mestre"? A mim parece-me que na Dinamarca é "servo" o que contradiz a tua ligação artificialmente ligada entre forma de financiamento e este tema.

Aliás, para ser honesto não entendo o fascinio pelos USA enquanto modelo, consegues-me explicar?

Stran a 30 de Maio de 2009 às 11:29

Não tenho fascínio pelos EUA porque acabam por ter outras injustiças muito graves. Neste momento não há nenhum país do mundo que possa funcionar verdadeiramente como um modelo.

Quanto à maioria. Stran, percebeste bem o alcance da coisa. O Guterres também não teve maioria absoluta e governou...

Julgo que os escandinavos são um optimo modelo. Embora como é obvio não existão modelo perfeitos ou modelos que sejam totalmente transponíveis para outros países.

Quanto à questão da maioria, o correcto dizer-se é que a maioria não era a favor dos Nazis. A tua afirmação acaba por criar um certo misticismo à volta de hitler. Quanto à questão do financiamento do estado não existe nenhum atentado a um direito de uma democracia liberal...
Stran a 30 de Maio de 2009 às 16:49

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