O Miguel Madeira, citado pelo João Galamba, considera que, se se verificarem verdadeiras as teorias de que as nossas capacidades podem depender quase exclusivamente do "jogo de sorte e azar ocorrido na concepção", o Estado Social fica legitimado. Isto porque, claro está, se não se trata de mérito, não faz mal o Estado tirar a ricos para dar a pobres.
A isto chama-se ser falacioso e não temo a utilização do termo. Pensemos mais que dois segundos sobre esta questão. Imaginemos que a teoria está provada e que tudo funciona realmente como um jogo de sorte e azar. Por sorte, o Camilo nasceu esperto. Por azar, o António nasceu pouco esperto. Como tal, o Camilo safa-se e o António não. É mau, é triste, bem sei. Mas será que o Camilo pode ser responsabilizado e penalizado apenas porque o António não teve a mesma sorte que ele? A culpa é do Camilo? Não. Se a culpa não é do Camilo, qual é o direito do António de exigir que se roube o que o Camilo ganhou e se lhe dê?
Este raciocínio levado, ainda mais, ao absurdo iria permitir que a todas as pessoas do mundo ocidental fosse retirada toda a riqueza, pois tudo foi sorte por nascermos onde nascemos enquanto outros que nasceram em África ou na Ásia não tiveram sorte igual.