A máfia da blogosfera
19
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:28link do post | comentar

Em tempos de discussão sobre Europa, sobre a Turquia, sobre o Federalismo, julgo pertinente voltar a uma ideia que já defendi antes.

Considero, sempre considerei, que a integração europeia foi positiva, principalmente no contexto em que ocorreu. A criação de uma comunidade de países que trabalhavam em conjunto para reconstruir um continente devastado, assentando todo o processo num ideal de paz que nos levou ao mais longo período pacífico da História do continente. No entanto, considero que esta UE para que se caminha não é uma boa solução.

Há erros que lhe aponto, demasiados para um texto só, o que me levará a voltar ao tema, e que são para mim gravíssimos. Hoje vou debruçar-me sobre a PAC.

A PAC, que surgiu num contexto também ele muito específico, de verdadeira carência de produtos agrícolas, não faz sentido na actualidade. A União Europeia não pode continuar a financiar, a subsidiar com milhões de euros um sector que não é rentável apenas por puro proteccionismo. Alocamos recursos preciosos para um sector que não nos traz ganhos, quando esses recursos seriam naturalmente destinados, dado o tipo de economia que é a europeia, para sectores de elevado valor acrescentado. Ou seja, estamos a ter um desenvolvimento menos acelerado do que aquele que teríamos caso não houvesse PAC. Poderá dizer-se, ou melhor, diz-se que acabar com a PAC levaria a que ficássemos numa situação instável. Nada mais absurdo. Em primeiro lugar, é perfeitamente possível a constituição de acordos bilaterais com países cuja economia se centra essencialmente no sector primário: nós pagaríamos menos, eles ganhariam mais - levaria a que todos tivessem ganhos. Em segundo lugar, mesmo que se entrasse numa situação complicada, mesmo a nível diplomático, seria sempre possível uma política de emergência - até porque a agricultura não iria acabar caso a PAC acabasse - que nos levasse a produzir mais: como aconteceu nos primeiros anos da política comum, nos quais a produção triplicou e ficámos com excedentes incomportáveis de produtos agrícolas. Generalizo isto a todo o tipo de financiamento e subsídios a actividades económicas que venham da União Europeia. É mau para nós, é mau para o mundo.

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Ainda não conheço aprofundadamente a PAC para saber o seu impacto real e quais as areas que podiam ser "reformáveis", no entanto julgo que não abordaste um vertice desta questão: o valor estratégico deste sector.

Vou dar o exemplo do que aconteceu em Portugal aquando da crise dos camionistas: ficamos isolados do resto do "mundo" e se por acaso se prolongasse mais ficavamos sem acesso à comida. Na altura não me preocupei muito pois, além de outros factores, tinha uma bicicleta. Ou seja num caso limite se maomé não ia à montanha, a montanha ia a maomé...

Agora imaginemos que existe um cenário identico na Europa, por qualquer motivo ficamos "cortados" do resto do mundo por um periodo de 12 meses, ora como não podes produzir alimentos instantaneamente significava que até conseguires ser autosuficiente outra vez demorarias muito tempo, o que significaria milhares de mortes.

Além disso a terra é algo que deve ser tratada para se manter fértil, se não tratares disso estarás a diminuir a tua riqueza, poi estás a deitar ao lixo um recurso (Portugal é um bom exemplo disto).

Agora mais reaisticamente que o primeiro exemplo, sabendo que podes perder esse recurso e ficar permanentemente dependente do estrangeiro e que os custos de transporte vão aumentar o que é que achas que aconteceria no médio prazo?
Stran a 19 de Maio de 2009 às 23:48

O problema da PAC parece ser sobretudo o dos reais destinatários dos fundos, que não são pequenos agricultores, ou culturas menos rentáveis de produtos tradicionais, em dificuldades, mas sim as maiores Agro-industrias e seus associados.
l.rodrigues a 20 de Maio de 2009 às 10:25

Stran isso é uma má forma de partir para a discussão.

Em primeiro lugar, eu não defendo o fim da agricultura, mas sim o fim da PAC. Ora, há muita agricultura na Europa que seria rentável mesmo sem PAC - principalmente nos países onde os fundos iniciais foram muito bem aproveitados e onde já não são precisos. Outros países, like ours, desperdiçaram e a agricultura portuguesa não se modernizou pelo menos tanto quanto seria expectável. De qualquer modo, ainda que houvesse alguma crise, a agricultura espanhola, holandesa e de outros países aguentaria a UE.

Eu só defendo que não se deve mandar dinheiro para negócios mortos à nascença ou que já têm provas dadas de ineficiência, como é a agricultura em Portugal. Já agora, não se julgue que a agricultura é assim tão essencial: olhe-se para o Luxemburgo.

Desculpa o comentário então. Mas eu vou tentar explicar o raciocinio, fazendo-te uma pergunta:

- achas que se terminares os subsidios à agricultura ao mesmo tempo que abres por completo o espaço à concorrência exterior, que a agricultura não estará condenada a ir para níveis muito abaixo da auto-suficiência?

Já agora, eu não disse que defendias o fim da agricultura, desculpa se te transmiti essa ideia. A minha questão é com estarmos a produzir muito abaixo da auto-suficiencia e perdermos nesse processo terreno fertil.

"Já agora, não se julgue que a agricultura é assim tão essencial"
A agricultura não é "essencial" no contexto actual, no entanto tudo isso pode mudar e quando mudar quem não estiver preparado terá consequências brutais. E neste caso estou a pensar no longo prazo: será que queres correr o risco de os teus filhos passarem por um periodo de fome por que nós não soubemos cuidar da terra.

Já agora a minha maior preocupação não é em manter a PAC como está pois acho que existe margem para reformular (embora para ter uma opinião mais fundamentada tenho de ler melhor). A minha maior preocupação prende-se com a fertilidade dos solos e a auto-suficiência. Já agora duvido muito que na tua proposta esses países continuem com essa capacidade.

Quanto aos portugueses: é o melhor exemplo do que Portugal tem de pior. Ninguém se preocupou em controlar o que estava a ser feito e agora temos um país completamente subdesenvolvido nesse campo, quando poderia ser um dos nossos mercados mais competitivos...

É o caso tipico de como o self interes pode ser ruinoso...
Stran a 20 de Maio de 2009 às 21:27

Stran, olha que não. Há certas culturas europeias produzidas de uma forma muito rentável: aqui é que não. Olhas para a agricultura espanhola e para a pecuária holandesa e apenas podes afirmar que, para aquilo cair, muito tinha de cair antes. Mesmo com uma forte competição internacional, a agricultura do centro da Europa iria aguentar-se muito bem. E não te esqueças da agricultura do Leste!

Em Portugal funcionou mal porque os portugueses que os receberam são burros. Só olham para o curto-prazo.

Deixar de lado a PAC não implicaria abandonar forçosamente os campos. Julgo que a aposta nos produtos biológicos continua a ser rentável, têm mercado, e podem ser exportados, bem como produtos de excelência, onde o know-how faz toda a diferença. A U.E. teria a ganhar na importação de produtos agrícolas de produção massificada a manor preço, exportando produto de valor acrescentado, que também não vai encontrando dificuldades no escoamento por cá...
António de Almeida a 20 de Maio de 2009 às 16:46

Julgo que os produtos biologicos são um nicho de mercado, e não existe procura suficiente para manter a agricultura na Europa.

Quanto às dificuldades de escoamento, seria interessante saber como está esse mercado agora com esta crise.
Stran a 20 de Maio de 2009 às 21:30

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