A máfia da blogosfera
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Abr 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 16:35link do post | comentar

Esqueçamos que estamos em crise. Esqueçamos simplesmente os condicionalismos actuais e prendamo-nos apenas com a discussão abstracta deste assunto. Bem sei que muitos me dirão que não o posso fazer. Que se danem, que no meu blogue faço o que me apetecer.

A primeira pergunta, retórica, que a resposta sei-a eu, é: como se define um preço? Haverá algo neste mundo cujo valor monetário seja intrínseco? Há algum bem que em qualquer parte do mundo, em qualquer momento da História, tenha tido o mesmo valor? Não. E a razão é muito simples. Por muito que se faça por esquecer este pequeno detalhe, o preço do que quer que seja é estabelecido pelos mecanismos de oferta e de procura. Vale aquilo que o comprador estiver disposto a pagar, conjugando essa disposição com a do vendedor. Quanto queres, quanto dou. Nada mais básico, nada mais fundamental. É isto o preço.

Descoberto que está como se estabelece o preço do que quer se seja, que outra forma não existe que seja tão fiável, como é que se pode aceitar que o Estado fixe preços mínimos, como o preço mínimo pago pelo trabalho, mais comummente conhecido por “Salário Mínimo Nacional”?


A primeira pergunta tem uma bela rasteira. Eu defendo que todos devíamos contribuir com o mesmo para o financiamento do Estado. Mas isto tem mais por trás, é complicado expor toda uma teoria que me levaria bastantes folhas a explicar aqui.

Não tenho acesso a estudos comparativos, não. A análise que faço é puramente empirica: do que vejo. E vejo que o apoio do Estado é um apoio cego, ou seja, não são feitas análises caso a caso, não se conhecem as pessoas. Por outro lado, as instituições privadas nunca fariam isto, nunca "mandariam dinheiro fora", nunca permitiriam que dinheiro de ajuda fosse para gente que não precisa, ou que se deixasse gente que precisa mais de fora apenas por "não querer saber".

Um princípio económico básico: se há necessidade de x, x vai aparecer mais cedo que tarde. Logo a questão das infra-estruturas, para mim, não se coloca.

Quanto à pertinente questão que colocas, respondo-te com uma outra pergunta: quando os partidos no governo anunciam grandes pacotes de apoio às famílias ou quando, na oposição, clamam por mais apoios, não estarão a comprar votos também?
O pior é que ao fazê-lo, vão meter gente que não quer ser metida na "conversa" e numa instituição privada só entra quem quer.

Stran, fugindo a estas questões de pormenor, a questão essencial é: em que medida é que por eu estar mal, existe alguém com a obrigação moral de me ajudar. Esta é a verdadeira questão que nunca é colocada.

"...contribuir com o mesmo para o financiamento do Estado"

O que queres dizer com o "mesmo"? O mesmo valor? a mesma taxa? ou o mesmo esforço?

"Por outro lado, as instituições privadas nunca fariam isto, nunca "mandariam dinheiro fora"..."

Acabei-te de dar um exemplo real de como a Santa Casa "mandou dinheiro fora. E se quiseres posso tentar encontrar mais exemplos.

Nisto não partilho a tua visão, para mim nem o Estado é só porcaria nem os privados são excelentes. Ambas são organizações humanas que tem defeitos e virtudes. Partir a priori que uma é boa e outra é má é apenas um preconceito. O trabalho da Segurança Social também é excelente em alguns dominios, e honestamente julgo que as pessoas cometem muitas injustiças a criticar o Estado da forma como criticam.

"Um princípio económico básico: se há necessidade de x, x vai aparecer mais cedo que tarde. Logo a questão das infra-estruturas, para mim, não se coloca."

Mas reconheces um espaço temporal entre o surgimento da necissidade e o aparecimento das infraestruturas. A minha questão é: não te importas de correr o risco de pessoas morrerem nesse periodo de tempo?

"quando os partidos no governo anunciam grandes pacotes de apoio às famílias ou quando, na oposição, clamam por mais apoios, não estarão a comprar votos também?"

Sim e não. A priori não dá para determinar se está ou não a comprar (da mesma forma que não se sabe a priori o interesse de uma instituição particular em ajudar). A diferença é que num temos poder de acção e de controlo (existe debate e participação), podemos influenciar a sua acção, no caso das instituições privadas não, e isso faz toda a diferença.

"O pior é que ao fazê-lo, vão meter gente que não quer ser metida na "conversa" e numa instituição privada só entra quem quer"

Bem isto leva-nos para a vida em democracia, a verdade é que o mesmo poder é concedido ao estado por causa de uma guerra e não vejo ninguém falar sobre esse assunto.

"em que medida é que por eu estar mal, existe alguém com a obrigação moral de me ajudar. Esta é a verdadeira questão que nunca é colocada."

Respondendo directamente à questão: é por existir Estado que tu não tens a "obrigação moral" de ajudar. Por estranho que pareça por esta questão estar delegada no Estado é que existe uma sociedade com menos controlo social, ou seja mais livre. Posso explicar isto mais tarde pois julgo que vai demorar um pouco a sintetizar a ideia (mas se tiveres interessado diz, e como exemplo pensa nos suburbios das cidades americanas).

No entanto eu vejo esta questão dividida em duas partes:

- que papel deve ter o Estado ou dito de outra forma, que tipo de sociedade queremos ter;

- como financiar esse modelo

E em ambas a decisão deve ser democrática, não achas?
Stran a 21 de Abril de 2009 às 18:57

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