Alguns personagens afirmam à boca cheia que “todo o ser humano tem direito ao trabalho”, alguns, que primam pela redundância, acrescentam no fim “com direitos”, mas estes vou esquecer. A afirmação é bonita, como bonitas são tantas outras provenientes da boca das pessoas que a fazem, mas terá realmente fundamento?
O que significa ter direito a algo? Um direito é, simplesmente, uma vontade de um indivíduo que implica uma obrigação por parte de outro ou outros e cujo fundamento lhe dá legitimidade. Por exemplo, temos o direito à vida, pelo facto de a prezarmos e pelo facto de todos aceitarmos esse direito como tal; assim, todas as pessoas têm a obrigação de não me matar. Vamos aplicar isto ao trabalho. Eu quero ter um emprego remunerado, por isso, afirmo que tenho direito a tal. Mas para eu ter direito a um emprego remunerado, tem de haver alguém com a obrigação de mo dar. Haverá indivíduo ou grupo de indivíduos que tenha obrigação moral de me arranjar um trabalho? Não. É óbvio que não. Levemos a afirmação ao limite e imaginemos que todos exigíamos um trabalho remunerado a alguém. Quem seria o empregador?
Não existe, como é evidente, um direito ao trabalho. No entanto, pelo romantismo e beleza da afirmação ainda há quem a apregoe e ainda há quem a assimile, acriticamente, como certa. É só mais uma.