A máfia da blogosfera
26
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:12link do post | comentar

 

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O Pedro Sales escreve que a direita portuguesa anda à nora à conta disto que está aqui em cima. São os resultados de uma sondagem feita pela Visão que dão conta que a maioria das pessoas confia mais na gestão pública que na gestão privada. A concordância do Pedro é tal que ele nem escreve mais nada, apenas apresenta a "evidência".

O problema deste tipo de sondagem é que é absurda na sua essência. O problema da gestão pública/gestão privada é um problema de Economia, aquela ciência que se ensina nas faculdades e que não é pêra doce. Fazer recolhas de opinião sobre Economia é o mesmo que as fazer sobre a Teoria da Relatividade. Então, caro transeunte, que lhe parece do amigo Einstein e das suas descobertas? A Economia, por muito que se queira, não é uma ciência democrática: não está certo o que a maioria diz estar certo em economia. Esse é um dos grandes motivos que me faz pensar que o Estado não deve interferir, da mesma forma que não interfere nas outras ciências. Imagine-se que havia um ministro da ciência que dizia que a gravidade não existia.

Para além disso o Pedro parece esquecer-se que em Portugal já vivemos durante alguns anos com uma economia quase toda estatal: todos os sectores verdadeiramente importantes pertenciam ao Estado. O resultado foi o que se viu. Mas até se poderia advogar que isto foi com Portugal e que houve problemas domésticos que levaram à situação. Então é ir aos manuais de História ver o que aconteceu com a China entre 1949 e 1980, ou a situação a que chegou a URSS em 1989. Até poderia ser tudo uma coincidência, afinal, podem ter ocorrido precalços em toda a parte. É perfeitamente plausível, não é?


Agora parece que quem engoliu uma cassete foi a direita, balbuciando sobre o seu mundo que se desaba...
manuel gouveia a 26 de Março de 2009 às 20:38

Se a direita engoliu uma cassete, não sei. Eu cá engoli uma sopinha agora ao jantar.

Lindo menino!
manuel gouveia a 26 de Março de 2009 às 21:24

Qual cassete, qual sopinha, são sapos senhor, são sapos.
Fulano a 27 de Março de 2009 às 09:52

Esta é uma das incongruências do pensamento (neo)liberal. Os individuos são maximizadores racionais cujos comportamentos individuais somados conduzem ao bem comum, mas só quando compram peúgas ou Audis.
Quando é para decidir sobre a sua vida, vale mais confiar nas elites iluminadas.
Que afinal para isto servem, (porque são as que vendem Audis e peúgas?) mas para outras coisas já não. (O post prometido já está no forno mas ainda falta um bocado...)
l.rodrigues a 27 de Março de 2009 às 09:54

L. Rodrigues,

Eu não sou platónico a esse ponto. Eu sou liberal, sim. Mas tenho noção do absurdo. A produção dos medicamentos afecta a minha vida, no entanto, não vou referendar a receita do Ben-u-ron. Acho que isto é mais que óbvio: a Economia é uma ciência cuja compreensão não está ao alcance de todos (não estou a dizer que eu próprio a compreendo, apenas me interesso). Perguntar ao Joaquim sobre que tipo de gestão é melhor num banco (quando ele nao conhece, sequer, o funcionamento de um banco) é o mesmo que perguntar ao mesmo Joaquim quantos miligramas de paracetamol ele quer botar no ben-u-ron... Mas enfim.

Não sei se reparou nos ultimos tempos, mas entre os economistas discute-se quais deles percebem realmente de economia e o valor de muitas ideias que regeram a disciplina até aqui.

Entre as pessoas comuns, apesar de tudo, há intuições sobre que áreas de actividade fazem parte de uma politica social, onde o lucro não deve ser o factor determinante, onde a concorrência é impossivel, onde os recursos que são explorados pertencem a todos, etc etc.

Não é por acaso que os bancos, apesar de todos os desastres que provocaram, ainda recebem uma razoável tolerância para a gestão privada. Se as perguntas incluissem o fabrico de móveis ou de calçado, tenho a certeza de que a percentagem seria ainda maior. E no entanto as pessoas querem ter cadeiras e sapatos...

E já que dá o exemplo do ben-u-ron, é bom lembrar o que se leu por essa blogosfera a propósito do sal no pão.

É por ninguém saber tudo sobre tudo que a economia não pode ser centralizada. Exactamente porque não há NINGUÉM que consiga compreender o funcionamento TODO. É assim tão difícil de perceber?

O sal no pão foi mais uma vergonha. Sinceramente tenho cada vez mais vontade de me mudar, que aqui nesta estupidez colectiva estou cada vez pior.

Essa coisa de que é tudo 8 ou 80 é que torna inviável qualquer diálogo construtivo. Há partes da vida das pessoas que podem e devem ficar de fora da lógica do mercado. Por questões de principio e de eficiência.
E outras que devem estar sujeitas a elas exactamente pelas mesmas razões.

Será assim tão dificil de perceber que no sistema que prescreve, em que não se procura distinguir uma da outra mas se entrega tudo à lei da selva, acabamos todos por fazer o que dá mais vantagem a quem tem mais poder económico?


Ocorre-me colocar aqui uma troca de palavras entre keynes e hayek que roubei aos Ladrões:

Diz Keynes a Hayek: «Você admite, aqui e ali, que tudo se resume a uma questão de saber onde traçar a linha [a propósito do lugar do Estado]. Concorda que a linha tem de ser traçada algures e que o extremo lógico não é possível [laissez-faire]. No entanto, não nos fornece nenhuma indicação acerca do sítio onde ela deve ser traçada (...) É verdade que cada um de nós a traçaria em sítios diferentes. De acordo com as minhas ideias, você subestima a viabilidade de um caminho intermédio. No entanto, assim que admite que o extremo não é possível, o seu argumento torna-se insustentável, uma vez que nos quer persuadir de que sempre que nos movemos um milímetro na direcção do planeamento entramos necessariamente num plano inclinado que nos conduz ao precipício».

Sabe, eu tenho um princípio muito simples: o limite do estado é a liberdade dos indivíduos. A função do estado é assegurar a liberdade de todos, condenando os excessos imorais dos abusadores. A linha é óbvia. Neste caso, o sal no pão ultrapassou a linha, bem como a redistribuição de riqueza, bem como a própria imposição de termos de pertencer a um Estado.

Auto-excluir-se faz de si um abusador.
Para não o ser teria que renegar o usufruto de tudo o que a sociedade em que nasceu garantiu para si "a priori". Nomeadamente a posse do sitio onde tem os pés, se for o caso de lhe chamar seu.

O meu problema com a sua liberdade é que essa é apenas negativa. Deve saber de que falo, mas ainda assim complemento:

"Negative liberty is the absence of obstacles, barriers or constraints. One has negative liberty to the extent that actions are available to one in this negative sense. Positive liberty is the possibility of acting — or the fact of acting — in such a way as to take control of one's life and realize one's fundamental purposes. While negative liberty is usually attributed to individual agents, positive liberty is sometimes attributed to collectivities, or to individuals considered primarily as members of given collectivities."

daqui:
http://plato.stanford.edu/entries/liberty-positive-negative/

Nunca tinha ouvido falar dos conceitos (eu sou apenas um curioso e apesar de tender a concordar com as correntes liberais, ainda está tudo em fase de construção). De qualquer forma não percebi de que forma é que isso contrapõe o que eu escrevi.

A citação não pretende contrapor, a contraposição está no tipo de liberdade que consideramos: eu considero a maximização das liberdades positivas como uma melhor meta, e o tiago parece subscrever a da liberdade negativa, que na realidade não é uma maximização: é uma minimização da coerção do individuo.
Nesse aspecto a sua posição é impecavelmente liberal.
l.rodrigues a 28 de Março de 2009 às 09:16

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