Tal como escrevi no último post, nos primódios do socialismo havia desigualdades sociais quase que impostas pelos próprios Estados: a aristocracia era detentora da riqueza e ao povo cabia trabalhar e, se assim entendesse, tentar sobreviver. Dado que apenas a aristocracia e alguma burguesia tinha dinheiro para investir verdadeiramente, as oportunidades estavam condicionadas à partida: nem todos estavam no mesmo patamar. Isto levou, realmente, a uma subvalorização quase dramática dos trabalhores e a uma sobrevalorização dos empresários (capitalistas, como o pessoal gosta de lhes chamar - como se fosse ofensivo). Mas isto aconteceu exactamente, e curiosamente, por causa da intervenção do Estado na fase anterior: apenas alguns tinham riqueza, apenas alguns tinham estudos, a maior parte não tinha nada. As políticas sociais, à data, foram apenas a forma como os Estados tentaram resolver o problema. Se não ganham naturalmente, pois que ganhem por decreto. Surgiram os Welfare Sistems (finais do século XIX na Europa e princípios do século XX na América).
O problema é que, à altura, uma política de redistribuição do rendimento que beneficiasse pobres era apenas o remediar do erro de uma política de redistribuição que beneficiava ricos. Cometeu-se um erro para tentar tapar outro. A coisa funcionou, basicamente, num esquema Robin Hood. Fez sentido à data.
No entanto, e apesar de ter feito sentido na altura fazer-se algo do género, actualmente isto é completamente distituído de significado. Actualmente, e apesar de as oportunidades continuarem a não ser as mesmas à partida, o problema não é sequer semelhante ao de antes e, ainda assim, as políticas sociais de agora são muito mais "pesadas" que na altura.
Actualmente temos aquilo que é mais desejável para uma economia: uma classe média. Temos uma grande parte da população neste limbo entre ricos e pobres e toda a economia, se deixada a funcionar, levará a que haja uma convergência para este centro: os pobres, pelo trabalho (e não a ser sustentados por dinheiro roubado aos outros) tornar-se-ão mais abastados e os ricos, a certa altura acabarão por perder o dinheiro que possuem por algum episódio de incompetência (esta crise é disso demonstrativa).
O Estado, ao precipitar tudo através das políticas sociais faz com que pareça não haver problema quando o sistema está todo podre: mete a carpete em cima do buraco. Se um pobre se tornar abastado com o dinheiro dos impostos alheios, certamente contribuirá para que haja menos desigualdade na repartição do rendimento. No entanto, sabemos que essa "contribuição" não foi pela via normal, não foi pelo trabalho: tirou-se de outros para lhe dar a ele em vez de ele produzir para enriquecer sem ser às custas dos outros. O sistema é semelhante ao que agora se faz com os certificados de habilitações: as pessoas têm a quarta classe, dá-se-lhes um diploma do 9º ano, ou seja, faz-se estatística sem que a pessoa tenha realmente as competências de um 9º ano. A única diferença, para que eu seja rigoroso, é que no primeiro caso a pessoa fica com dinheiro e no segundo caso as competências mantêm-se, mas percebe-se a ideia.
Depois há o problema de fundo: ao promoverem políticas sociais, ou seja, formas de o país sustentar os pobres, o Estado desincentivará esses pobres a trabalhar. A situação acaba por se perpetuar e aqueles pobres, acomodados à situação, permanecerão empecilhos para os outros, empecilhos que os outros são obrigados a sustentar.