A máfia da blogosfera
28
Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:22link do post

Tal como escrevi no último post, nos primódios do socialismo havia desigualdades sociais quase que impostas pelos próprios Estados: a aristocracia era detentora da riqueza e ao povo cabia trabalhar e, se assim entendesse, tentar sobreviver. Dado que apenas a aristocracia e alguma burguesia tinha dinheiro para investir verdadeiramente, as oportunidades estavam condicionadas à partida: nem todos estavam no mesmo patamar. Isto levou, realmente, a uma subvalorização quase dramática dos trabalhores e a uma sobrevalorização dos empresários (capitalistas, como o pessoal gosta de lhes chamar - como se fosse ofensivo). Mas isto aconteceu exactamente, e curiosamente, por causa da intervenção do Estado na fase anterior: apenas alguns tinham riqueza, apenas alguns tinham estudos, a maior parte não tinha nada. As políticas sociais, à data, foram apenas a forma como os Estados tentaram resolver o problema. Se não ganham naturalmente, pois que ganhem por decreto. Surgiram os Welfare Sistems (finais do século XIX na Europa e princípios do século XX na América).

O problema é que, à altura, uma política de redistribuição do rendimento que beneficiasse pobres era apenas o remediar do erro de uma política de redistribuição que beneficiava ricos. Cometeu-se um erro para tentar tapar outro. A coisa funcionou, basicamente, num esquema Robin Hood. Fez sentido à data.

No entanto, e apesar de ter feito sentido na altura fazer-se algo do género, actualmente isto é completamente distituído de significado. Actualmente, e apesar de as oportunidades continuarem a não ser as mesmas à partida, o problema não é sequer semelhante ao de antes e, ainda assim, as políticas sociais de agora são muito mais "pesadas" que na altura.

Actualmente temos aquilo que é mais desejável para uma economia: uma classe média. Temos uma grande parte da população neste limbo entre ricos e pobres e toda a economia, se deixada a funcionar, levará a que haja uma convergência para este centro: os pobres, pelo trabalho (e não a ser sustentados por dinheiro roubado aos outros) tornar-se-ão mais abastados e os ricos, a certa altura acabarão por perder o dinheiro que possuem por algum episódio de incompetência (esta crise é disso demonstrativa).

O Estado, ao precipitar tudo através das políticas sociais faz com que pareça não haver problema quando o sistema está todo podre: mete a carpete em cima do buraco. Se um pobre se tornar abastado com o dinheiro dos impostos alheios, certamente contribuirá para que haja menos desigualdade na repartição do rendimento. No entanto, sabemos que essa "contribuição" não foi pela via normal, não foi pelo trabalho: tirou-se de outros para lhe dar a ele em vez de ele produzir para enriquecer sem ser às custas dos outros. O sistema é semelhante ao que agora se faz com os certificados de habilitações: as pessoas têm a quarta classe, dá-se-lhes um diploma do 9º ano, ou seja, faz-se estatística sem que a pessoa tenha realmente as competências de um 9º ano. A única diferença, para que eu seja rigoroso, é que no primeiro caso a pessoa fica com dinheiro e no segundo caso as competências mantêm-se, mas percebe-se a ideia.

Depois há o problema de fundo: ao promoverem políticas sociais, ou seja, formas de o país sustentar os pobres, o Estado desincentivará  esses pobres a trabalhar. A situação acaba por se perpetuar e aqueles pobres, acomodados à situação, permanecerão empecilhos para os outros, empecilhos que os outros são obrigados a sustentar.


Portanto, (C ) enriqueçe, com as mais valias produzidas pelo trabalho de (T). Um dado sistema de convenções determina que uma dada percentagem do trabalho de (T) é pertença LEGÍTIMA de (C) e este estará a ser ilegítimamente expoliado se outro sistema de convenções decidir que a percentagem da mais valia produzida por (T) não reverter para (C) na percentagem que a (C) lhe dá mais jeito. É isso? Percebi bem?
Fulano a 28 de Fevereiro de 2009 às 21:22

Fulano,

Há um erro em que se incorre muitas vezes: a de que T e C são independentes. Desengane-se, apenas juntos produzem: trabalho sem capital não vale nada (consegue produzir o que quer que seja sem ter materiais?).
Agora vejamos. O Fulano cria uma empresa, correndo os riscos disso. Eu peço-lhe emprego. Será legítimo que eu use o capital por si investido para retirar proveitos apenas para mim, sem que o Fulano ganhe o que quer que seja com isso? Se o Fulano for simplesmente gestor da empresa, a sua actividade, o seu T é potenciar o T dos outros. Ora se os outros produzem mais graças a si, não é legitimo que o Fulano ganhe alguma coisa?
Se achar que não tem sempre a possibilidade de não trabalhar para outra pessoa...

Não propus que (C) não recebesse NADA. Compreendo o conceito de compensação de riscos e da recompensa de uma idéia particular em regime capitalista. Mas tomemos Stanley Ho como exemplo. O dito senhor após perder 89% da sua fortuna, recentemente, ainda ficou detentor de onze MIL milhões, não sei se de dólares ou de euros, pouco importa. Não vejo é porque há-de um empresário (por genial que seja) ter direito a percentagens TÃO elevadas das mais valias produzidas por TODOS os participantes no processo. Se se convencionou que os trabalhadores têm apenas direito ao salário e este representará uma dada percentagem dos lucros também se poderá convencionar que a percentagem representada pelos salários seja proporcional aos lucros. Também poderiamos esmiúçar como é que algumas pessoas são detentoras da capacidade de investimento. Se a senhora dinamarquesa não foi tida nem achada (execepto nas eleições) no processo de pagamento de impostos e isso é inaceitável será aceitável que alguém na posse de capacidade de investimento obtido pela usurpação, a escravatura sexual, exploração da miséria etc possa multiplicar esse capital SUJO e deixá-lo aos seus herdeiros? Mas tomemos por garantido que foi pelo trabalho que tenha obtido essa capacidade, beneficia de um sistema que PRIVILEGIA quem possua capital. O sistema não contemplando todos os membros da sociedade de forma igual justifica que quem não tem à partida os mesmos direitos se levante em ARMAS. É que (T) também é um ser humano e perfeitamente capaz de se organizar para "expoliar" (C) das suas capacidades de investimento e arranjar fórmulas de substituição de (C). Se serão melhores ou piores já seria outro debate.
Mas pelos vistos o senhor é até contra o pagamento de impostos. Ou só dos impostos na percentagem referida? Que propõe? Portagens em cada rua? Saúde, educação, habitação e justiça só para quem tenha tido a sorte de nascer no lado certo da vida? É que se essa a sua proposta fosse implementada não consigo ver que moral poderia impedir o lado errado da vida de tornar em inferno o lado certo excepto, claro, o exército a polícia e a religião. Na idade média funcionaria, hoje tenho as minhas dúvidas que as sociedades desenvolvidas aceitassem. Mas poderá testar as suas convicções nesse vasto terceiro mundo donde vamos recebendo notícia.
Fulano a 1 de Março de 2009 às 13:22

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