A máfia da blogosfera
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Fev 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 17:59link do post | comentar

Os últimos três posts sobre o argumentário pró-aborto, felizmente, geraram alguma discussão positiva. As referências noutros blogues levaram até a que a discussão se alargasse além do meu público habitual, o que é bom. O argumento que hoje quero desmontar é o argumento do alegado direito da mulher a fazer o que quiser com o corpo que é seu. Muito provavelmente serão poucos os argumentos a desmontar depois deste, pois penso que os principais já foram todos tratados e o debate que houve na altura do referendo passou apenas por um repetir constante das mesmas supostas evidências, como esta. Ora, então, uma das defesas da legalização do aborto assenta no direito à mulher de fazer o que quiser com o seu corpo: "o corpo é meu, logo, eu tenho o direito a decidir tudo sobre ele".

Isto é verdade. Nós somos soberanos sobre o nosso corpo, bem como sobre a nossa casa, o nosso carro, o nosso microondas. O problema é que, quando um feto está dentro do corpo da mulher, qualquer coisa que a mulher faça ao seu corpo não a afecta só a ela. É como convidarmos um amigo para vir dar uma volta de carro: o carro é nosso, mas ao termos lá outra pessoa, não temos o direito a espetarmo-nos contra uma árvore se nos apetecer. É aqui que falha o argumento, os que a ele recorrem "esquecem-se" do pormenor que dentro do corpo da mulher está outro ser humano.

Uma filósofa que li há algum tempo, num livro organizado pelo Pedro Galvão que reunia vários ensaios sobre o aborto ("Ética do Aborto", da Dinalivro), e cujo nome não me consigo lembrar colocava as coisas nestes termos: imagine-se que uma mulher está descansada a dormir e, a meio da noite, aparece um malfeitor que a "liga" a um violinista (sim, era a um violinista), o qual só sobrevive se aquela ligação se mantiver. A filósofa pergunta-nos: será que a mulher é obrigada a abdicar da sua vida para que aquela pessoa sobreviva? O problema aqui é que a analogia não funciona por uma série de razões: a mulher da história não é responsável pela dependência do violinista nem pela ligação que existe entre os dois. No caso da mãe em relação ao feto, o caso muda de figura. Por ter sido a mãe a gerar o feto, passa a ser responsável pela dependência e pela ligação do feto a ela.

É pelo facto de, em primeiro lugar, não termos total soberania sobre o que fazemos com o que nos pertence (incluíndo o nosso corpo) quando as nossas acções afectam directamente terceiros e pelo facto de a mãe, juntamente com o pai que ainda não somos estrelas-do-mar, ser responsável pela dependência e ligação que se estabelece entre o feto e ela que não se pode considerar este um bom argumento a justificar a legalização do aborto.
 


o que a mulher faz com o corpo dela é só uma decisão dela, muito bem, concordo.

Não me aprece que um feto seja o corpo da
mulher.

É um ser vivo dependente, é verdade, mas não é nenhum órgão.
Daniel Santos a 9 de Fevereiro de 2009 às 20:56

"É pelo facto de, em primeiro lugar, não termos total soberania sobre o que fazemos com o que nos pertence..." Então mas não eras tu que há uns comentários atrás advogavas que os empresários podiam fazer com as suas empresas o que lhes desse na real gana ?...
al kantara a 10 de Fevereiro de 2009 às 00:51

E sim, defendo. Porque um empregado quando vai para uma empresa assina um contrato. Ao assinar um contrato afirma que aceita os benefícios e os riscos de tomar aquela decisão. O feto não.

Este agrumentário não é significativo "por si", está dependente do valor que damos ao embrião/feto/bebé; como referi no comentário ao post (3), quem considerar "o que tem na barriga" como sub-humano é natural que não deixe "uma coisa" retirar-lhe "o seu direito". Não sei se se lembra mas em 2006 houve quem comparasse um feto a um rato... daí eu nessa altura ter sempre defendido que era necessário "humanizar o feto"... mas o "não" deixou-se encurralar pelo "sim" por causa da "despenalização".
Pessoalmente acho o aborto moralmente condenável e eticamente equivalente a um homicídio, mas não concordo com a sua criminalização (bela contradição, não?... explico... um infanticídio, após o nascimento, cometido pela mãe tem um enquadramento legal com uma pena muito inferior ao cometido por outra pessoa, daí acho que o aborto poderia ter um enquadramento legal criminalizando só quem o realiza tecnicamente e não a mulher, e retirando o único argumento válido dos "abortistas").
Actualmente choca-me que passou a existir um "direito" ao aborto, choca-me que os abortos sejam pagos com o dinheiro dos nossos impostos (fazendo-nos co-autores morais dos próprios abortos), choca-me existir uma consulta mais rápida para a realização de um aborto do que para acompanhar uma gravidez num hospital central.
Hotboot a 10 de Fevereiro de 2009 às 08:02

Parece-me que o cliché "na minha barriga mando eu" não passa disso mesmo, um cliché. E bem escatológico, por sinal. Reduzindo o feto a uma excrescência semelhante às outras que igualmente existem nas suas barrigas, sendo que para essas outras se pode provocar a expulsão - através de purgantes ou diuréticos -, as mulheres que tal "direito" reivindicam reconhecem implicitamente a sua própria condição de dejecto anormalmente desenvolvido e equivocamente viável.
JPG a 10 de Fevereiro de 2009 às 17:05

Parabéns, Tiago, pela clareza com que é exposta a matéria em causa, sobre cuja posição assumida por ti eu devo dizer, sem peias, que subscrevo por me ser impossível negar instintos básicos de respeito e preservação.
FMS a 10 de Fevereiro de 2009 às 20:30

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