Tive sérias dificuldades em escolher o título, isto porque costumo concordar imenso com o que o Pedro Arroja escreve no Portugal Contemporâneo. No entanto, um post por ele escrito sobre os benefícios do proteccionismo numa situação de crise como a que vivemos obriga-me a responder-lhe. Como a resposta é grande, não pode ser feita em comentário.
Vou pegar exactamente no mesmo cenário que Pedro Arroja avançou: imaginemos que dez milhões de chineses vinham para Portugal neste momento. Esses chineses substituiriam os portugueses em todas as suas funções, dado que fazem tudo aquilo que os portugueses podem fazer, mas a metade do preço. Segundo PA, o único benefício que isto traria era os preços todos pela metade, pois dez milhões de portugueses ficariam sem emprego. Por isto, PA diz que a melhor solução para uma crise como a que atravessamos é o proteccionismo.
Com todo o respeito, não poderia estar mais errado. Vamos partir de uma premissa base: todas as pessoas têm necessidades. Vamos a outra premissa simples e que certamente não constitui novidade para o economista Pedro Arroja: as necessidades são o motor da produção - para que as primeiras sejam saciadas, há que produzir o necessário, perdoe-se-me a redundância. Ora, assumindo estas duas premissas como verdadeiras, o que julgo pacífico, chega a altura de referir o óbvio: 20 milhões de pessoas têm mais necessidades que 10 milhões de pessoas. Essas necessidades (pensemos no básico: pão, leite, presunto ou sapatos) rapidamente estimulariam a economia a produzir o que fosse necessário. Aí entrariam os desempregados, que aproveitariam o que o mercado reservara para eles: a produção de pão, leite, presunto e sapatos. Mais cedo ou mais tarde (porque as vantagens comparativas perseguem as pobres e inocentes economias) aquilo em que os portugueses fossem comparativamente mais competentes seria produzido por portugueses e aquilo em que os chineses fossem comparativamente mais competentes seria produzido por chineses.
Para colocar isto num plano super simplificado, até porque nem todos têm de ter noções de Economia, deixo uma pergunta: entre 1950 e 2000 a população portuguesa teve um aumento de, grosso modo, dois milhões de pessoas, temos dois milhões de desempregados?