A verdade é que à conta da União Europeia e da gestão de fundos, muitos sectores da economia cresceram, por exemplo, a agricultura. O problema, e como diz aquele nosso conhecido, é que não há almoços grátis e para que a agricultura europeia cresça artificialmente, outro sector tem de entrar em declínio. Outro sector ou outros concorrentes.
É óbvio para qualquer um que em termos concorrenciais, no que aos produtos agrícolas diz respeito, o continente africano e a Ásia meridional são mais competitivos que a União Europeia. Não é difícil adivinhar que, em condições normais, pagaríamos menos por produtos africanos que por produtos de origem holandesa, por exemplo. No entanto, verificamos na União Europeia que a agricultura não está propriamente em ruptura, situação inevitável se estivesse em concorrência aberta com África, e até temos excedentes de produtos agrícolas. Porque é que isto acontece? Em primeiro lugar por causa da PAC que corresponde a uma larga fatia do orçamento comunitário, que como já escrevi, subsidia a agricultura tornando-a artificialmente mais rentável. Em segundo lugar existe um incontornável princípio da preferência comunitária: um país europeu deve sempre optar por outro país europeu na altura de fazer as suas "compras".
Isto seria pacifico à partida: uma agricultura forte, os agricultores a sobreviver sem ter de mudar de negócio - o que dá trabalho. Mas ao fazermos uma análise mais profunda, constatamos que traz imensos problemas, tanto à UE como aos outros países. Dentro da UE temos o eterno problema do custo de oportunidade: se o Orçamento Comunitário privilegia a agricultura, outros sectores serão prejudicados, ou seja, o mercado fica distorcido pela actuação de uma espécie de Estado - o Orçamento Comunitário constituído em grande parte pelo IVA que pagamos e por uma contribuição de 1% com base no Produto Nacional Bruto de cada país. Para o exterior da UE há o problema de agricultores singulares estarem a concorrer com um mega-estado. Os agricultores africanos ou asiáticos, cujos produtos são mais baratos, não conseguem vender à UE porque esta fecha-se sobre si própria. Como estes países não vendem os seus produtos, nem sequer têm capacidade de fazer uma conversão do seu aparelho produtivo para um outro sector, ficando condenados à pobreza. Se David Ricardo disse que com o comércio internacional todos ganham, eu dou a volta à frase e digo que com a falta de comércio que se vive neste momento, todos perdem.