Há uns bons dias atrás, escrevi no Corta-fitas, acerca da monarquia, isto:
À data do fim da Monarquia, éramos um dos países com maiores taxas de analfabetismo da Europa - actualmente não -, éramos industrialmente atrasados e atente-se que foi no tempo da Dinastia Bragantina (1640-1910) que perdemos o comboio europeu, depois de termos sido uma super-potência mundial.
O João Távora pediu-me, e bem, que esclarecesse sobre esta afirmação. Realmente falta-lhe um pouco de fundamento procurado tantas vezes nas autoridades na matéria. Pois, por isso, consultei duas extensas obras sobre a História de Portugal, uma de João Medina e outra de José Mattoso.
Sobre a taxa de analfabetismo, José Mattoso é peremptório:
Segundo os cálculos apresentados, com reservas, por António Nóvoa, [a taxa de analfabetismo era de] 82,4% em 1878 e 79,2% em 1890. Também segundo esse investigador, baseado na documentação inédita de uma inspecção realizada em 1867, os alunos das escolas primária, apesar de um proveniência social heterogénea, tinham predominância urbana e pertenciam geralmente às «classes abastadas».
Penso que a questão da Educação no tempo da Monarquia está resolvida.
Quanto à Indústria, recorro a João Medina:
Em resumo, durante a Regeneração e o Fontismo, assistimos a um desenvolvimento da indústria, mas com fortes limitações. O peso da indústria cresce, mas virada principalmente para o mercado interno. Desenvolvem-se as industrias ligeiras e tradicionais - com excepção da cortiça e conservas -, com fraca competitividade internacional. O peso do artesanato e da manufactura continua a ser muito grande e verifica-se uma situação curiosa: os sectores mais modernos e tecnicamente aperfeiçoados trabalham para o mercado interno, enquanto os sectores onde predominam as formas e técnicas artesanais ligadas *a matéria-prima nacional são os que mais facilmente exportam.
Penso que também está claro o franco atraso em relação à Indústria.
E já que o Ricardo Gomes mostra gráficos, eu também mostro:
Num país que era tão próximo dos países mais desenvolvidos da Europa e, por consequência, do Mundo, a taxa de emigração cresceu a olhos vistos na segunda metade do século XIX. Se calhar o PIB crescia muito, mas nem todos o sentiam. A velha história da igualdade e da falta dela.
Quanto à questão da "perda do comboio europeu", obviamente era uma metáfora. No entanto, como tantos levaram a expressão no sentido literal, apraz citar novamente João Medina:
É só a partir de 1850 que podemos falar de uma difusão da máquina a vapor em Portugal
Mas, tal como propus ao Samuel, que tal continuarmos este debate numa outra altura, quem sabe numa festinha que o Corta-fitas anda a engendrar?