A máfia da blogosfera
18
Jan 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 17:56link do post | comentar

Há uns bons dias atrás, escrevi no Corta-fitas, acerca da monarquia, isto:

 

À data do fim da Monarquia, éramos um dos países com maiores taxas de analfabetismo da Europa - actualmente não -, éramos industrialmente atrasados e atente-se que foi no tempo da Dinastia Bragantina (1640-1910) que perdemos o comboio europeu, depois de termos sido uma super-potência mundial.

 

O João Távora pediu-me, e bem, que esclarecesse sobre esta afirmação. Realmente falta-lhe um pouco de fundamento procurado tantas vezes nas autoridades na matéria. Pois, por isso, consultei duas extensas obras sobre a História de Portugal, uma de João Medina e outra de José Mattoso.

Sobre a taxa de analfabetismo, José Mattoso é peremptório:

 

Segundo os cálculos apresentados, com reservas, por António Nóvoa, [a taxa de analfabetismo era de] 82,4% em 1878 e 79,2% em 1890. Também segundo esse investigador, baseado na documentação inédita de uma inspecção realizada em 1867, os alunos das escolas primária, apesar de um proveniência social heterogénea, tinham predominância urbana e pertenciam geralmente às «classes abastadas».

 

Penso que a questão da Educação no tempo da Monarquia está resolvida.

Quanto à Indústria, recorro a João Medina:

 

Em resumo, durante a Regeneração e o Fontismo, assistimos a um desenvolvimento da indústria, mas com fortes limitações. O peso da indústria cresce, mas virada principalmente para o mercado interno. Desenvolvem-se as industrias ligeiras e tradicionais - com excepção da cortiça e conservas -, com fraca competitividade internacional. O peso do artesanato e da manufactura continua a ser muito grande e verifica-se uma situação curiosa: os sectores mais modernos e tecnicamente aperfeiçoados trabalham para o mercado interno, enquanto os sectores onde predominam as formas e técnicas artesanais ligadas *a matéria-prima nacional são os que mais facilmente exportam.

 

Penso que também está claro o franco atraso em relação à Indústria.

E já que o Ricardo Gomes mostra gráficos, eu também mostro:

 

 

Num país que era tão próximo dos países mais desenvolvidos da Europa e, por consequência, do Mundo, a taxa de emigração cresceu a olhos vistos na segunda metade do século XIX. Se calhar o PIB crescia muito, mas nem todos o sentiam. A velha história da igualdade e da falta dela.

Quanto à questão da "perda do comboio europeu", obviamente era uma metáfora. No entanto, como tantos levaram a expressão no sentido literal, apraz citar novamente João Medina:

 

É só a partir de 1850 que podemos falar de uma difusão da máquina a vapor em Portugal

 

Mas, tal como propus ao Samuel, que tal continuarmos este debate numa outra altura, quem sabe numa festinha que o Corta-fitas anda a engendrar?


Caro Tiago: sendo meritório o seu esforço de resposta, ela está completamente ao lado, não justifica a sua afirmação inicial nem contradiz os dados estatísticos e factos contrapostos. Talvez num debate verbal o truque de retórica funcionasse, o que não acontece num debate escrito. Ficou por demonstrar que Portugal na monarquia era um dos países mais atrasados da Europa, coisa que de facto acontece na actualidade, cem anos depois da revolução.
Abraço
João Távora a 19 de Janeiro de 2009 às 11:33

Caro João, o que eu escrevi na altura foi que tínhamos uma taxa de analfabetismo elevadíssima e uma indústria atrasada. Penso que fundamentei a coisa. Agora entramos aqui numa outra questão: o que é que define um país atrasado? É óbvio que existem imensos factores (esperança média de vida, nível de vida, poder de compra, etc e tal), mas também é óbvio que não consigo recolher dados sobre isso. Penso que no que respeita à minha afirmação, a fundamentação é suficiente.

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