A máfia da blogosfera
17
Ago 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:32link do post | comentar
Ontem assinalou-se o 108º aniversário da morte de Eça de Queirós, por isso, nada melhor que um post sobre as Cidades e as Serras (obra que estava a escrever à data da morte) de hoje.
Desde pequeno que passo os verões na Beira Interior e desde pequeno que me sinto um Jacinto em Tormes, completamente aparte nesta realidade tão diferente daquela em que vivo. Estas diferenças são ainda mais notórias em regiões em que não há nenhuma cidade média a exercer influência, em regiões em que as aldeias são pequenos átomos, todas semelhantes: um mercado imobiliário de concorrência perfeita!
Neste momento dou por mim a observar como é verdade que temos dois países num só: um onde os jovens se divertem numa discoteca e em que têm medo de voltar sozinhos para casa à noite, onde os pais não deixam o filho nem atravessar a rua sem lhe telefonar sete vezes, em que as crianças só correm em parques todos bonitinhos e artificiais, mas também onde se pode ir ao cinema e ao teatro, onde há bibliotecas e universidades, onde há empresas dignas de tal designação e dinheiro para quem o procurar; o outro é o exacto oposto: os jovens passam o dia nas ruas com os amigos a fazer sabe Deus o quê, só ele, mais ninguém, as crianças correm em descampados e vão à casa dos vizinhos brincar, as procissões são verdadeiros eventos sociais onde cada um veste o que de melhor tem para mostrar ao Senhor, e aos outros já agora, toda a gente se conhece e se preocupa, mas também, há que dizer, as pessoas ainda vivem muito da agricultura, que vai sendo de alto risco, não há empregos bem remunerados em quantidade, é raro o homem que há noite não está embriagado, é raro o miúdo de quinze anos que não fuma às escondidas, é raro o jovem que para estudar não tem de alugar uma casa longe.
Muitos dizem que é mau tudo isto, termos uma Lisboa e um Celorico da Beira, termos as Cidades e as Serras, termos os atrasos de desenvolvimento e as aldeias despovoadas, eu não. Gosto de estar na Caparica e ir a praia e a uma discoteca e de ir a Alverca da Beira ver como a juventude se diverte com uma banda pimba e onde todos se riem numa garraiada. Que continue.

Eça representa o povo que ainda somos. Estas férias li os Maias, e estou a ler o Crime do Padre Amaro e é impressionante ver como ele conseguiu retratar tão bem o povo português, mesmo agora vejo muitas semelhanças. Bastas ver que o país ainda é um choldra.
Daniela Major a 19 de Agosto de 2008 às 14:30

É isso mesmo. Os livros do Eça são intemporais. É como os Led Zeppelin.
roserouge a 19 de Agosto de 2008 às 21:42

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