Um fenómeno, se se lhe pode chamar fenómeno, que tenho vindo a observar é o da falta de pontaria que por cá temos quando responsabilizamos alguém por o que quer que seja. E isto é evidente na política.
Quando um governo governa mal, maldita oposição que não existe. O governo aprova um decreto-lei que permite a contratação directa, em relação às obras públicas, para contratos até cinco milhões de euros? Culpa da oposição que não se opõe e deixa isto acontecer.
Quando o Parlamento aprova por unanimidade uma lei inconstitucional, estando completamente ciente desse facto, a culpa não recai sobre os deputados, mas sim sobre o Presidente da República que não mandou a ordinária lei para o Tribunal Constitucional nem dissolveu a Assembleia da República.
Mas também na economia isto acontece. Veja-se o caso do BPN cujas administrações encobriam actividades obscuras e tapavam com tapetes autênticos poços. De quem é a culpa? Do Banco de Portugal que não soube fiscalizar.
E na polícia é outro carnaval. Há mais criminalidade, logo, a culpa é da polícia que não trabalha bem. Se um ladrão roubar uma bicicleta de quem é a culpa? Do ladrão que roubou ou do polícia que não o apanhou? A resposta parece-me clara.
E assim ficamos com os agentes feitos anjos e os ficalizadores feitos demónios, para que se continue a viver nesta admirável praia na cauda da Europa.