Nestas férias tive a oportunidade de assistir a algumas emissões de programas da manhã, nomeadamente, os programas da Fátima Lopes e do Manuel Goucha. E pareceu-me francamente mal.
Bem sei que o objectivo da televisão é obtenção de audiência, só assim recebem a publicidade de que tanto precisam para subsistir, no entanto, não vale tudo. A banalização do mal neste tipo de programas é brutal. Em todas as emissões temos um conjunto imenso de famílias em sofrimento, de pessoas em agonia, de crianças com doenças incuráveis: o real social em escassas duas horas. Perante tais situações, os apresentadores bondosos e caridosos tratam de chorar, de se "emocionar", de ajudar e de acompanhar a vida de quem sofre. Mas tudo isto tem de ser muito rápido, porque logo a seguir tem de se ir dar dinheiro com um sorriso que toque nas duas orelhas, não vá assustar-se a clientela do telefone (que também dá bom dinheiro). Depois do momento de alegria, novamente semblante carregado para se ir fazer aquilo que melhor se faz nas manhãs da televisão nacional: julgamentos públicos. "Crime diz Ele" e "Crónica Policial" são as rubricas em que inspectores, ou ex-inspectores, tratam de dizer o que pensam e de convencer os outros de que sabem do que falam, com revelações tremendas, com certezas inabaláveis, mesmo que em tribunal o contrário se diga. E assim, com uma brincadeira de duas horas, pessoas são ajudadas, outras difamadas, outras completamente destruídas publicamente. Ainda me lembro de um programa em que Manuel Goucha disse em pleno directo, ao telefone, que se fosse ele a mandar a senhora da chamada nunca mais trataria de uma criança.
Dinheiro honesto? Poupem-me.