
"De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos" traduz de forma bastante concisa a nossa posição face a Espanha ao longo de séculos de existênca como nação. Esta ideia de que Espanha era um inimigo natural está instalada desde a Batalha de S. Mamede. Quando entrámos na União Europeia, de repente, passámos os espanhóis de bestas a bestiais, tratando-os a partir de então como "nuestros hermanos". Esta fraternidade toda levou a que, a bem de uma Ibéria forte concorrente das grandes potências como a Alemanha ou a França, estreitássemos as nossas relações políticas e, sobretudo, económicas. Tamanho esforço se fez para que nos tornássemos mais unidos, que actualmente somos totalmente dependentes (nós, eles não). Entre 30 e 40% do nosso comércio intracomunitário é com Espanha (em 2006, os espanhóis receberam, segundo o Eurostat, 34,3% das nossas exportações), o que resulta num rombo na nossa economia sempre que a deles tem uma constipação. Uma coisa curiosa de se ver é que apenas 12,6% das exportações espanholas têm como destino Portugal, sendo que os "nuestros hermanos" dão mais importância aos "ses frères" (26,5% das exportações intracomunitárias) e aos longíquos alemães (15,5%). Isto tudo para dizer que numa economia sustentável não é possível nem concebível que as trocas comerciais sejam um semi-monopólio de um país. É uma história semelhante em apostar em acções: se apostamos o nosso dinheiro todo numa empresa e essa empresa abre falência, ficamos em maus lençóis. Seria positivo que em vez de olharmos para Espanha como a única possibilidade, olhássemos mais para as grandes economias e, fundamentalmente, para o novo Leste cheio de vontade de comprar coisas novas com aqueles fundos comunitários a entrar à grande.