A máfia da blogosfera
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Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:20link do post | comentar
Negativo. O mercado editorial português de antigamente era a coisa mais bonita que havia. Editoras independentes umas das outras, concorrentes, pequeninas. Editoras com as quais os amantes das obras se podiam identificar. Uma Feira do Livro às portas do Verão cheia de banquinhas coloridas, todas diferentes e, ao mesmo tempo, todas iguais. Neste momento, até este mercado tão puro até há tão pouco tempo está a ser corrompido pela febre das fusões. O grupo LeYa compreende neste momento as editoras Academia do Livro, Asa, Caderno, Caminho, Casa das Letras, Dom Quixote, Estrela Polar, Gailivro, Livros d'Hoje, Lua de Papel, Ndjira (Moçambique), Nova Gaia, Nzila (Angola), Oceanos, Oficina do Livro, Quinta Essência, Sebenta, Teorema e Texto. Dezanove editoras, dezassete das quais portuguesas. Num mercado digno deste nome, o Paes do Amaral conseguiu levar um grupo editorial ao estatuto de grande empresa, condenando à partida as editoras que restam. E agora vai começar a bola de neve. Como o grupo LeYa não se vai, de certeza, desmantelar, às editoras que restam, restam poucas soluções: declarar falêcia, entrar no LeYa ou criar um outro grupo de grande dimensão. Editoras como a Gradiva, a Temas e Debates, a Presença, a Livros do Brasil ou a Europa-América, grandes referências no mercado editorial português estão agora ameaçadas por causa do devaneio ganancioso de um homem e pela complacência inaceitável de uma autoridade. E assim será.

Em primeiro lugar, caro Mário, obrigado pelo comentário. Em segundo lugar, perdoe-me se o ofendi tanto assim com a minha humilde opinião. E agora vamos às respostas.

Porquê?

É simples: é assim que funciona o mercado. O grupo LeYa terá agora capacidade para atrair escritores como nenhum outro: meios publicitários e até benefícios económicos maiores para quem escreve. Por isto, e como os autores não andam aqui para morrer à fome, sempre que tiverem duas propostas na mesa, vão aceitar a melhor. Os leitores, claro está, são soberanos, mas se os autores que os leitores lêem editarem na LeYa, o que vai acontecer é que os mesmos leitores vão, invariavelmente, comprar edições do gigante.

Não, a minha versão não é "pobrezinhos, mas honrados", eu apenas defendo, como já referi neste blogue várias vezes, um mercado de concorrência atómica ou tendencialmente atómica, pois só assim o mercado é saudável: só com a existência de muitas editoras pequeninas é que é possível:

a) concorrer no verdadeiro sentido da palavra, dado que nenhuma estará em posição previligiada em relação a nenhuma outra;

b) só assim é possível alguém entrar no mercado facilmente (imagine, por exemplo, o caso dos bancos: acha possível um estarola ir agora criar um banco e concorrer com o BCP ou o BPI?).

Mais uma vez desculpe se este bocadinho de Internet gasto foi assim tão lamentável, mas felizmente ainda é gratuito e serve exactamente para eu dizer o que me apetecer, mesmo que o que me apetecer seja de facto medíocre.

Cumprimentos,

TMR
Tiago Moreira Ramalho a 15 de Dezembro de 2008 às 18:02

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