A máfia da blogosfera
14
Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:20link do post | comentar
Negativo. O mercado editorial português de antigamente era a coisa mais bonita que havia. Editoras independentes umas das outras, concorrentes, pequeninas. Editoras com as quais os amantes das obras se podiam identificar. Uma Feira do Livro às portas do Verão cheia de banquinhas coloridas, todas diferentes e, ao mesmo tempo, todas iguais. Neste momento, até este mercado tão puro até há tão pouco tempo está a ser corrompido pela febre das fusões. O grupo LeYa compreende neste momento as editoras Academia do Livro, Asa, Caderno, Caminho, Casa das Letras, Dom Quixote, Estrela Polar, Gailivro, Livros d'Hoje, Lua de Papel, Ndjira (Moçambique), Nova Gaia, Nzila (Angola), Oceanos, Oficina do Livro, Quinta Essência, Sebenta, Teorema e Texto. Dezanove editoras, dezassete das quais portuguesas. Num mercado digno deste nome, o Paes do Amaral conseguiu levar um grupo editorial ao estatuto de grande empresa, condenando à partida as editoras que restam. E agora vai começar a bola de neve. Como o grupo LeYa não se vai, de certeza, desmantelar, às editoras que restam, restam poucas soluções: declarar falêcia, entrar no LeYa ou criar um outro grupo de grande dimensão. Editoras como a Gradiva, a Temas e Debates, a Presença, a Livros do Brasil ou a Europa-América, grandes referências no mercado editorial português estão agora ameaçadas por causa do devaneio ganancioso de um homem e pela complacência inaceitável de uma autoridade. E assim será.

É o capitalismo da cultura... :(
Acho que futuramente nessas editoras pertencentes ao grupo Leya só será publicado quem garantir grandes vendas... :|
Maldonado a 14 de Dezembro de 2008 às 22:32

"Como o grupo LeYa não se vai, de certeza, desmantelar, às editoras que restam, restam poucas soluções: declarar falêcia, entrar no LeYa ou criar um outro grupo de grande dimensão. Editoras como a Gradiva, a Temas e Debates, a Presença, a Livros do Brasil ou a Europa-América, grandes referências no mercado editorial português estão agora ameaçadas por causa do devaneio ganancioso de um homem e pela complacência inaceitável de uma autoridade. E assim será."

Porquê?!

Só porque o Tiago acha que sim?!!

Os leitores, que eu saiba, ainda são soberanos! Ou vamos ter aí um policia em cada esquina, a "obrigar-nos" a comprar livros da "Leya"?!

Por causa da "ganância" de um homem?!! Então, a versão do Tiago, é "probrezinhos, mas honrados"?!!

Que post mais lamentável...
Mário a 15 de Dezembro de 2008 às 17:55

Em primeiro lugar, caro Mário, obrigado pelo comentário. Em segundo lugar, perdoe-me se o ofendi tanto assim com a minha humilde opinião. E agora vamos às respostas.

Porquê?

É simples: é assim que funciona o mercado. O grupo LeYa terá agora capacidade para atrair escritores como nenhum outro: meios publicitários e até benefícios económicos maiores para quem escreve. Por isto, e como os autores não andam aqui para morrer à fome, sempre que tiverem duas propostas na mesa, vão aceitar a melhor. Os leitores, claro está, são soberanos, mas se os autores que os leitores lêem editarem na LeYa, o que vai acontecer é que os mesmos leitores vão, invariavelmente, comprar edições do gigante.

Não, a minha versão não é "pobrezinhos, mas honrados", eu apenas defendo, como já referi neste blogue várias vezes, um mercado de concorrência atómica ou tendencialmente atómica, pois só assim o mercado é saudável: só com a existência de muitas editoras pequeninas é que é possível:

a) concorrer no verdadeiro sentido da palavra, dado que nenhuma estará em posição previligiada em relação a nenhuma outra;

b) só assim é possível alguém entrar no mercado facilmente (imagine, por exemplo, o caso dos bancos: acha possível um estarola ir agora criar um banco e concorrer com o BCP ou o BPI?).

Mais uma vez desculpe se este bocadinho de Internet gasto foi assim tão lamentável, mas felizmente ainda é gratuito e serve exactamente para eu dizer o que me apetecer, mesmo que o que me apetecer seja de facto medíocre.

Cumprimentos,

TMR
Tiago Moreira Ramalho a 15 de Dezembro de 2008 às 18:02

Tiago,

Em 1.º lugar, as minhas desculpas pela parte final do meu comentário anterior: foi despropositadamente ofensiva, o que só posso "justificar" com o ter sido uma resposta "a quente".

Quanto ao cerne da questão, continuamos em polos opostos:

Eu sou defensor de um mercado livre: livre de publicar, livre de ganhar dinheiro, etc...

Estou muito longe de ser um admirador do Miguel Paes do Amaral e da Leya, mas, ainda assim, assiste-lhe o direito, de, a seu modo, e com evidentes fins lucrativos, tentar dinamizar um mercado editorial "estagnado" como é o nosso.

Nem todos podemos ser o Paulo Teixeira Pinto, que compra editoras, para seu bel prazer, e admitindo, ad initio, que não pretende ganhar dinheiro...

As grandes editoras também pagam melhor aos escritores que neles publicam, e vendem livros (nem sempre, é certo), com maior qualidade gráfica e de revisão.

O que me "irritou" no seu post, é o que está subentendido: é que um mercado só de pequenas editoras, sem "posições dominantes" teria de ter a intervenção de um "Big Brother" estadual, e eu entendo que o Estado já se intromete demasiado nas nossas vidas...

E, editoras, pequenas e grandes, haverá sempre lugar para ambas...

Abraço, de um leitor, e, uma vez mais, as minhas desculpas pela parte final do post anterior.
Mário a 16 de Dezembro de 2008 às 13:03

Caro Mário

Desculpas completamente aceites.

Parece-me que chegámos ao ponto da discórdia: a definição de mercado livre. Pareceu-me, e perdoe-me se estou a fazer más interpretações, que considera que o mercado livre não precisa do peso do estado vigilante, constantemente à escuta (um "Big Brother" que também não defendo). A questão é que na minha definição de estado livre está também patente um conjunto de regras que regulem esse mercado. E as regras não retiram liberdade. O Mário é menos livre por a sociedade onde vive ter regras? O facto de o Mário não poder roubar torna-o menos livre? Se calhar, mas essa liberdade que lhe retiram é, provavelmente, uma liberdade que não é legítima - dando-se a liberdade de não ser roubado ao hipotético visado. Pensar um mercado sem regulação é para mim tão absurdo como pensar uma sociedade sem lei. Porque o mercado pode ter (e acho que tem) um funcionamento perfeito, no entanto, e por serem as pessoas a controlá-lo, padece de defeitos inerentes a qualquer produto humano. O caso da concentração no mercado editorial ou na banca são apenas exemplos disso: ao aumentar as suas dimensões e ao ganhar o "poder" que ganham, estes grupo tiram invariavelmente liberdade a outros agentes para entrarem no mercado (corrompem o mercado como os liberais o querem: permeável). É por isto que acho que deve haver total liberdade no mercado, no entanto, essa liberdade tem de ser regrada e ética (dentro da "ética do mercado", claro está).

Mas claro está, são visões, tal como o Mário disse, diferentes e ambas são de respeitar e é até salutar que existam.

Espero que continue um leitor.

Abraço,

TMR
Tiago Moreira Ramalho a 16 de Dezembro de 2008 às 14:05

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