A máfia da blogosfera
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Dez 08
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:11link do post | comentar
Isto da retórica tem muito que se lhe diga. E o Tomás Vasques mostra-se um mestre na arte. Para o Tomás, do facto de haver taxistas, empregados de hotel, médicos e enfermeiros a trabalhar no dia de Natal ilucida, sem sombra para dúvidas, os fundamentos da luta dos professores. Ao que parece, ao ver gente a trabalhar na santa quadra, o Tomás apercebeu-se que o que os professores querem é manter ordenados acima da média (primeiro, qual é a média? depois, sabe quanto é que um professor em início de carreira ganha?), sair cedo (do quê?) e progredir na carreira conforme os anos de trabalho (coisa nunca antes vista na Função Pública). Enfim, o que os professores querem é manter as regalias às quais se habituaram.
Eu, calhando, até concordo com o Tomás em certa medida. Também acho que os professores devem ter uma progressão baseada no mérito. O problema, Tomás, é que não é isso que se fará caso esta avaliação vá em frente. Eu passo a explicar. Primeiro, os professores avaliadores são os professores titulares, certamente já ouviu falar, que o são por todas as razões menos por ensinar bem: direcções de turma, assentos nas assembleias de escola e conselhos pedagógicos, chefias de departamento, tudo isto contadinho serviu para distinguir os professores de primeira dos de segunda. Agora, os professores de primeira avaliarão os de segunda, sabendo nós que não é líquido que sejam melhores professores que os avaliandos. Há ainda a questão de um professor de uma área científica avaliar outro de outra área científica - o Tomás gostaria de ser avaliado por um trapezista no seu emprego? Depois há os parâmetros de avaliação em si que são tudo menos objectivos. Para pegar no exemplo das notas dos alunos. É óbvio que um bom professor tem alunos com sucesso, mas como é que se compara esse sucesso de professor para professor? Repare que os critérios de avaliação dos alunos são diferentes de escola para escola e, muitas vezes, de professor para professor, e a inexistência de exames nacionais a todas as disciplinas e a todos os anos impossibilita a existência de uma bitola segura, que não seja a "média nacional". Só para acrescentar, acha que o professor de uma localidade com muitos problemas sociais vai ter uma tarefa semelhante à de um professor situado num lugar sem problemas de maior?
Agora, quanto ao ordenado e ao "sair cedo" (que suponho querer dizer sair cedo do local de trabalho), não posso concordar. Um professor, ou seja, um indíviduo com curso superior, começa a carreira sem atingir os mil euros. Isto quase não se vê noutra profissões. Quando um engenheiro inicia a carreira, a ordem impõe o ordenado, por exemplo. Por outro lado, acho que os ordenados astronómicos a que um professor "antigo" chega são absurdos, até pelo facto de terem redução de horário. A redução de horário é outra coisa que contesto, é a única "classe" (se se lhes pode chamar classe) em que isto acontece. Quanto ao "sair cedo", só quem não conhece é que o pode afirmar. É certo que o horário lectivo semanal é de 22 horas, mas as aulas de substituição, as reuniões, os testes e a preparação das aulas, tudo junto, é tudo menos "sair cedo".
Para além disso, caro Tomás, é sempre possível marcarmos a nossa posição sem tratar com o desprezo com que tratou todo um grupo profissional constituído por cento e cinquenta mil pessoas. Mas, pronto, isto da liberdade de expressão às vezes não é muito bem compreendido.

Meu caro Tiago: compreendo os seus argumentos, mas partimos de realidades diferentes. Em primeiro lugar, um recepcionista de hotel, por exemplo é na maior parte dos casos licenciado e inicia a sua actividade laboral a receber 600 euros se tanto.E não se queixa que chega tarde a casa e não pode dar apoio aos filhos ou outros familiares. Em segundo lugar, o que está em causa, para os professores - ou melhor, para os Sindicatos que os representam - não são os deméritos desta avaliação, mas a avaliação em si.Só assim se entem que o sindicato chegue ao ministério com uma proposta de auto-avaliação. Mantenho o que escrevi: ganhar acima da média;não estar sujeito, como centenas de milhares de outros trabalhadores, a horários que ocupam fins-de-semana e noites; e não querer ser avaliado pelo mérito e pelos resultados.Estes país não sai da cepa torta, da pobreza, enquanto todos não tiverem objectivos a cumprir e resultados a a presentar.
Um Abraço.
Tomás Vasques.
Tomas Vasques a 28 de Dezembro de 2008 às 21:12

Caro Tomás,

Em primeiro lugar, apesar de não ser muito importante, gostava de dizer que não sou professor. Apenas tenho o prazer de privar com alguns e o assunto vem "à baila" bastantes vezes.

Um recepcionista pode ser licenciado e estar a ganhar 600€. Mas provavelmente não tirou licenciatura em "Ciência Recepcionistica", isto é, não está a trabalhar na sua área e é óbvio, apesar de lamentável, que não vai receber um ordenado por aí além. A questão do chegar tarde e não ter tempo para a família tem dois problemas. Primeiro, o Tomás diz que como uns não se queixam, os outros também não se deviam queixar. Não faz sentido. Como a Maria não se queixa por ser espancada pelo marido, a Lurdes também não se devia queixar. Por outro lado, mostra que o Tomás está francamente alheado do que é o trabalho docente. Acredite que se há funcionário público que trabalha fora de horas, esse funcionário é o professor.

Quanto à questão da avaliação/não-avaliação. Eu concordo consigo na medida em que muitos não querem avaliação ponto final. E sejamos francos, nesta altura do campeonato tudo será posto em causa e nada estará bem para nenhuma das partes. Mas a verdade é que os professores têm razão na base: a avaliação é francamente má a ser feita nestes moldes. A auto-avaliação, apesar de ser uma proposta para um modelo transitório a ter efeito apenas este ano, é também ela absurda.

O Tomás poderá manter a opinião de que os professores ganham acima da média (com a qual já disse concordar em parte - é absurdo que o ordenado médio do professor português seja superior ao do professor finlandês, mas isto acontece por uma série de razões difíceis de explicar e não é, de todo, culpa dos professores, mas sim de que "manda"), que os professores não trabalham ou trabalham pouco e que não querem ser avaliados pelo mérito e pelos resultados. Mas, caso conheça algum professor, tente conversar com ele, fora toda esta mediatização estúpida, e tente compreender um pouco os motivos da "guerra".

Abraço,

TMR
Tiago Moreira Ramalho a 29 de Dezembro de 2008 às 00:35

Não podia concordar mais com o que disse. E não, não sou professora. Entretanto queria só lembrar que a redução de horário não abrange o 1º ciclo (antiga escola primária).
Beijinhos
Inês
Anónimo a 29 de Dezembro de 2008 às 13:16

Tiago: só para esclarecer um pequeno pormenor. O recepcionista, em muitos casos, tirou uma licenciatura na área do turismo, mas sabe que para chegar um dia a director de um hotel tem de passar por vários degraus, e ser avaliado em cada um desses patamates.Mas estão lá porque gostam da profissão que escolheram e querem demonstrar que têm capacidades para ir subindo a escada. É um pouco como os jovens licenciados em comunicação social nos jornais.
O «nacional-porreirismo» é o substrato cultural da incompetência, e esta é o suporte de maus resultados, e estes conduzem ao empobrecimento. Isto é uma pescadinha de rabo na boca. Ainda por cima numa área núclear como é a educação. Mas, com isto não quero dispensar o Ministério da Educação de erros na condução destes processo.
Um abraço.
Tomás
Tomas Vasques a 29 de Dezembro de 2008 às 19:49

Em todas as profissões citadas os visados ganham suplementos.
Têm dias de folga e sabem que a profissão contempla horário nocturno.
Não comparar o que não é comparável.
Anónimo a 30 de Dezembro de 2008 às 09:15

Caro Tomás Vasques, gostaria que, se pudesse, fizesse o favor de ser mais explícito em relação aos erros ministeriais na condução do processo. É que foi tão transparente e claro a afirmar que os malandros dos professores querem é ganhar acima da média e trabalhar poucochinho e depois é assim muito vago a "não dispensar o Ministério dos erros na condução deste processo". Assim, nem percebemos se se estará a referir à absoluta inaptidão política da ministra e do secretário de estado, se estará a falar de um processo de avaliação kafkiano, mal-amanhado e pior concebido, ou eventualmente numa reestruturação das carreiras que impôe a avaliação da qualidade em função das "vagas" existentes...
Al Kantara a 30 de Dezembro de 2008 às 17:23

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