A máfia da blogosfera
28
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 12:01link do post | comentar | ver comentários (3)

Se nos próximos dias chegarem aqui e não virem actualizações, descansem que não é problema do Sapo, essa mascote encantadora. Vou estar fora e não poderei publicar os delírios do costume. Vai ser um verdadeiro ben-u-ron para alguns este meu coffee break. Para outros, também. Até à próxima.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:11link do post | comentar | ver comentários (4)

Imaginemos três vizinhos, o Alberto e o Joaquim e o Manuel.

Um dia, fazem uma reunião e é votada uma proposta: retirar, todos os meses, metade do rendimento ao Alberto e distribuir a quantia pelos três de forma igual. O Alberto diz que não é justo, que trabalhou para ter o que tem e que aquilo é um roubo. Mais, eles não têm o direito a fazer isso se ele não concordar. O Manuel e o Joaquim dizem que como vive no bairro, tem de fazer o que a maioria do bairro decidir, e se a maioria do bairro votar a favor da proposta, ele tem de se sujeitar. A proposta é votada e o sim ganha. Foi a primeira.

Noutro dia, fazem outra reunião. Tem-se visto que o Joaquim tem andado a comer muitos bolos e que isso tem afectado negativamente a sua vida. Faz-se uma votação à seguinte proposta: proibir os vizinhos daquele bairro de comer bolos. O Joaquim diz que tem o direito de fazer o que quiser com a vida dele, mas os outros respondem novamente que ele tem de obedecer à maioria.

Depois, o Manuel adoece. Fica internado no hospital, em coma. O bairro reúne e tanto o Alberto como o Joaquim decidem que o melhor é acabar com a vida do Manuel. O Manuel nunca disse se queria que tomassem uma decisão daquelas naquela situação, mas a maioria tem de ganhar.

O bairro reserva-se o direito de decidir cada vez mais como é que cada um deve viver. A liberdade de cada um deixa de ter valor e apenas a vontade de todos importa.

Ainda bem que é tudo um exercício mental e isto não acontece na realidade, não é?


27
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:44link do post | comentar | ver comentários (4)

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publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:27link do post | comentar
 
«Imagina, pois, que acontece uma coisa deste género, ou em vários navios ou num só: o capitão, superior em tamanho e em força a todos os que se encontram na embarcação, mas um tanto surdo e com a vista a condizer, e conhecimentos náuticos da mesma extensão; os marinheiros em luta uns contra os outros, por causa do leme, entendendo cada um deles que deve ser o piloto, sem ter jamais aprendido a arte de navegar nem poder indicar o nome do mestre nem a data do seu aprendizado, e ainda por cima asseverando que não é arte que se aprenda, e estando prontos a reduzir a bocados quem declarar sequer que se pode aprender; estão sempre a assediar o capitão, a pedir-lhe o leme e a fazer tudo para que este lhes seja entregue; algumas vezes, se não são eles que o convencem, mas sim outros, matam-nos, a esses, ou atiram-nos pela borda fora; reduzem à impotência o honesto capitão com drogas, a embriaguez ou qualquer outro meio; tomam conta do navio, apoderam-se da sua carga, bebem e regalam-se a comer, navegando como é natural que o faça gente dessa espécie; ainda por cima, elogiam e chamam marinheiros, pilotos e peritos na arte de navegar a quem tiver a habilidade de os ajudar a obter o comando, persuadindo ou forçando o capitão; a quem assim não fizer, apodam-no de inútil, e nem sequer percebem que o verdadeiro piloto precisa de se preocupar com o ano, as estações, o céu, os astros, os ventos e tudo o que diz respeito à sua arte, se quer de facto ser comandante do navio, a fim de o governar, quer alguns o queiram quer não — pois julgam que não é possível aprender essa arte e estudo, e ao mesmo tempo a de comandar uma nau. Quando se originam tais acontecimentos nos navios, não te parece que o verdadeiro piloto será apodado de palrador, lunático e inútil pelos navegantes de embarcações assim aparelhadas?»
 
Platão, A República, pp. 275-6

 

 

Partilho com Churchill a ideia de que a democracia é o pior dos sistemas, se exceptuarmos todos os outros. No entanto, não deixo de me questionar sobre os fundamentos dos nossos sistemas quando leio o texto acima. Platão, tanto hoje como há dois mil anos dá que pensar.

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26
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:50link do post | comentar

Vou ser um bom pai. Foi o que ouvi dizer que tinha dito um puto de 13 anos que se via com uma criança nos braços. Coisa estranha de se ouvir, principalmente quando nos é dito que o original veio da boca de um puto que nem um pintelho tem. Pois o miúdo já sonhava. Mudar as fraldas, levar o pequeno à escola e até, daqui a uns anos, vê-lo formado e pronto a ir trabalhar. Já tinha a vida planeada. Eis senão quando se sabe o pior: o puto-filho, afinal, não é filho do puto-pai, mas de outro marmanjo. Ó destino cruel que fizeste esta criança traçar tantos planos para agora lhes passar uma borracha por cima, sim, porque caneta só a partir dos catorze e corrector nem vê-lo que tem químicos e faz mal aos dentes.

Eu sei que confrontados com este espectáculo, que nem a Kafka lembraria, temos a tendência a fazer umas piadas. Até eu achei a história engraçada. Mas sinceramente vejo-me a pensar no rapaz a quem um papel roubou um filho. Não me julguem louco por perguntar, mas será que ele iria ser um bom pai?

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:12link do post | comentar | ver comentários (13)

 

(Clicar para ver maior)

 

O Pedro Sales escreve que a direita portuguesa anda à nora à conta disto que está aqui em cima. São os resultados de uma sondagem feita pela Visão que dão conta que a maioria das pessoas confia mais na gestão pública que na gestão privada. A concordância do Pedro é tal que ele nem escreve mais nada, apenas apresenta a "evidência".

O problema deste tipo de sondagem é que é absurda na sua essência. O problema da gestão pública/gestão privada é um problema de Economia, aquela ciência que se ensina nas faculdades e que não é pêra doce. Fazer recolhas de opinião sobre Economia é o mesmo que as fazer sobre a Teoria da Relatividade. Então, caro transeunte, que lhe parece do amigo Einstein e das suas descobertas? A Economia, por muito que se queira, não é uma ciência democrática: não está certo o que a maioria diz estar certo em economia. Esse é um dos grandes motivos que me faz pensar que o Estado não deve interferir, da mesma forma que não interfere nas outras ciências. Imagine-se que havia um ministro da ciência que dizia que a gravidade não existia.

Para além disso o Pedro parece esquecer-se que em Portugal já vivemos durante alguns anos com uma economia quase toda estatal: todos os sectores verdadeiramente importantes pertenciam ao Estado. O resultado foi o que se viu. Mas até se poderia advogar que isto foi com Portugal e que houve problemas domésticos que levaram à situação. Então é ir aos manuais de História ver o que aconteceu com a China entre 1949 e 1980, ou a situação a que chegou a URSS em 1989. Até poderia ser tudo uma coincidência, afinal, podem ter ocorrido precalços em toda a parte. É perfeitamente plausível, não é?


25
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:14link do post | comentar


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 20:15link do post | comentar | ver comentários (1)

Um dia, passeava eu no parque ao pé do sítio onde moro, quando fui abordado por um desconhecido que me via escrever no meu fiel Moleskine. Porque escreves, perguntou o tipo (digam lá que não sei imitar O Mestre), Não sei, respondi eu num misto de assombro e curiosidade pelo que dali viria. Como não sabes, insistiu o homem cujas ramelas e cabelo desgrenhado faziam adivinhar uma vida de rua, daquelas que não desejamos a ninguém. Ora, não sei porque nunca pensei nisso, respondi eu. Então pensa, mas pensa mesmo, sem pressa, essa puta má conselheira. E pensei, pensei no que me levava a escrever. E aquela voz que mais ninguém ouve quando pensamos começou a falar. Falava, falava, mas não dizia nada: parecia ela própria confusa, sem rumo. A ideia começou a construir-se: primeiro com tijolos de lama que, como por magia, se iam transformado em robustos blocos de granito. A sua simplicidade, a da ideia, era quase comovedora. Porque gosto, disse eu ao velho vagabundo com um sorriso indisfarçado nos lábios e no olhar. E é verdade: escrevo porque gosto. Gosto da forma como posso, sem pudor ou constrangimentos, misturar palavras que formam ideias e transmitem sentimentos, sensações. Gosto de me aventurar a imitar os clássicos. Que tal um pensativo cigarro, Carlos? Sabendo de antemão que cópia minha a tão ilustre peito jamais será sequer considerada como tal. Gosto de encriptar o que quero dizer, mais não seja para gritar sem que ninguém oiça o que vivo e sinto. Gosto do verbo, do pronome, do adjectivo, do advérbio e até das proposições, esses clubes restritos dentro do mundo da língua que é a nossa. E gosto de inventar que passeava num parque ao pé do sítio onde moro, quando fui abordado por um desconhecido que, ao ver-me escrever no meu fiel Moleskine, me perguntou porque escrevia, apenas para poder dizer a quem me lê por que escrevo sem fazer do blogue um amontoado de delírios. Apanhado.

É, gosto de escrever sobre nada. E agora que olho para o meu blogue vejo que tenho escrito sobre muita coisa, demasiada: matéria que o esquecimento tratará sem dó nem piedade. Pois que se o que escrevo tem de ser esquecido, ao menos que me dê prazer enquanto não esqueço. Tudo isto para dizer que deixei de querer saber das audiências fáceis, das referências do Público, das referências dos outros blogues ou do raio que o parta. A partir de agora este blogue é meu e para mim. Quem gostar, é convidado a sentar-se a meu lado, mas não no meu lugar.

Primeiro Aniversário: Já vou tarde

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 08:08link do post | comentar | ver comentários (1)

Há uns dias, quando se retirou o anúncio da Antena 1 do ar por, diz-se, atentar contra o direito à manifestação, escrevi que era censura. E era. No entanto, a caixa de comentários é óptima para nos repensarmos e o facto de ser uma estação pública condiciona invariavelmente a sua actuação, por isso, neste momento considero que foi um mal menor o que se fez.

Chegado eu a esta conclusão, vou ao site do Público e leio que o BE utilizou o spot para um vídeo a apelar à manifestação (vídeo que está em cima). Coisa normal: partido político apela à manifestação. O problema, está no conteúdo do vídeo. Começando pela forma como se refere ao "patrão", figura tipo de todos os patrões no entender do Bloco, completamente sem sentido: "o patrão está contra si e contra o resto dos trabalhadores"?! Mais discurso populista, daquele a que já estamos habituados. Mas a cereja no topo do bolo é, a frase final: "a produção passou para a Eslováquia". Este é, quanto a mim, o tipo de discurso xenófobo que, esse sim!, atenta contra a Constituição e que nenhuma estação, pública ou privada, deveria passar. A haver politicamente correcto, pois que haja sempre: anúncios que apelam ao ódio (o Estaline também fazia umas coisas giras nesta área) e à xenófobia não deveriam entrar-nos em casa.


24
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:20link do post | comentar | ver comentários (2)

1. O Henrique Raposo voltou, finalmente, à blogosfera. Minhas senhoras e meus senhores, o Clube das Repúblicas Mortas nasceu e tem dois pais: o Henrique Raposo e o Rui Ramos. Que o espectáculo comece.

2. O Câmara de Comuns vê os seus quadros aumentados com a entrada de Miguel Lopes.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:03link do post | comentar

Acabei agora de assistir ao Cara a Cara na TVI24. Continuo a achar estranha a participação de Santos Silva no programa por dois motivos: o primeiro é a alegada campanha negra, o segundo é o facto de ele ser ministro e não "comentador". Mas pronto, quem está mal é a Manuela Ferreira Leite por escrever uma caixinha no Expresso. Adiante.

No programa semanal são colocados cara a cara - o nome é perfeito - Augusto Santos Silva e Nuno Morais Sarmento. Honestamente este é um daqueles programas em que é possível distinguir a água do azeite da forma mais inequívoca possível. Ao passo que vemos Santos Silva com aquele olhar bastante, diria eu, perturbador, a desbobinar um conjunto de críticas à oposição e de panegíricos ao governo cheias, mas cheias de omissões, esquecimentos ou manifestas falácias, que não me parecem inocentes, é bom dizer; vemos Nuno Morais Sarmento a falar de forma franca, sem grandes constrangimentos aparentes, com alguma (nunca é total) independência de pensamento e com uma coerência que alguns deveriam tornar modelo. Nuno Morais Sarmento é o tipo de político que faz muita falta no Parlamento. Enquanto não volta, é assistir ao programa.


23
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:25link do post | comentar | ver comentários (1)

O monólogo da bêbada

 

Uma mulher bela e elegante sai de um bar com uma enorme bebedeira.
Caminha em direcção do seu automóvel, um BMW novíssimo, e com a chave tenta abrir a porta mas o seu estado alcoólico não o permite.
Quando se baixa um pouco para se aproximar da fechadura acaba por cair e ficar sentada de pernas abertas ao lado da porta.
Desesperada com a situação olha para baixo e reparando que não tem cuecas começa a falar com a sua própria vagina:
- Tu pagaste o carro... tu pagaste as jóias... tu dás-me tanto dinheiro.... tu permites que escolha o homem que me apetecer... tu pagas a mansão que comprei...
De repente começa a urinar-se e diz:
- Não precisas de estar a chorar que eu não estou zangada contigo!


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 19:33link do post | comentar | ver comentários (5)

O António de Almeida, citado pelo José Manuel Faria, respondeu ao meu post sobre a liberalização das drogas. Julgo que, pelo menos atendendo à resposta, o António não compreendeu a ideia no seu todo. Obviamente que eu não quero que o Estado se meta mais no negócio da droga do que em qualquer outro. A única coisa que eu pretendo, quando me refiro à certificação por parte do Estado, é exactamente a rotulagem e a fiscalização de que o António fala. A verdade é esta: quando uma marca faz um rótulo, esse rótulo funciona como um contrato e o Estado tem de zelar pelo seu cumprimento. É a sua função.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:21link do post | comentar | ver comentários (1)

O Francisco Proença de Carvalho está coberto de razão neste seu texto. É impressionante que num cenário de estabilidade política - nos últimos vinte anos tivemos duas renovações de mandato e apenas cinco primeiros-ministros - não tenhamos sido capazes de criar uma estratégia sólida e sustentada que nos levasse a algum lado. Desde 1986 que andamos de mão estendida para a União Europeia, a desbaratar fundos que acabarão, é bom lembrar, em 2013 com o novo Quadro de Referência Estratégico Nacional. Apesar de me opor à forma como a UE redistribui riqueza pelos países, a realizade é que recebemos dinheiro e é fulcral a sua boa aplicação. Não temos uma verdadeira política fiscal, fazem-se mudanças conforme dá o vento, o que nos tem feito perder muito, mesmo muito em termos de Investimento Estrangeiro. Não temos (alguma vez tivemos?) um bom sistema de ensino, que "produza" bons profissionais. E por aqui me fico na descrição do desastre, para não fazer o discurso-taxista e dizer que a saúde e a justiça estão pela hora da morte. Volto a repetir, por achar verdadeiramente importante, que nos últimos vinte anos tivemos apenas cinco primeiros-ministros, sendo que quatro dos governos foram de maioria absoluta. Incompetência dos decisores? Sem dúvida. Mas será só isso? Nem pensar.

O grande problema que enfrentamos é o de termos, e não é chavão, uma classe política que sobrepõe os interesses partidários e o sucesso pessoal ao desenvolvimento do país. Desses políticos, não precisamos - o pior é que não aparecem os outros. 

 

 

«O Expresso tentou capitalizar um possível efeito preservativo, como em 1992. Acho que ninguém ligou. Provará duas coisas: a sociedade portuguesa está mais secular, sim; a censura, venha ela de onde vier, é coisa cada vez mais ultrapassada - a sociedade e a democracia estão muito mais maduras.»

 

Miguel Marujo, no Cibertúlia

 

«Rebatizaram a menina de dez anos com o nome de Aurora, o nome da deusa da madrugada, a deusa de “róseos dedos”, a condutora da carruagem que cruza o céu, anunciando o nascer de um novo dia ao abrir as portas ao seu irmão Hélios.(...)»
 

Salvador Massano Cardozo, no Quarta República

 

«O problema é que Ratzinger não perguntou aos católicos se estes escolheram a tal perfeição de que ele fala, ou se perante uma pandemia como a da SIDA preferem que a verdade seja obnubilada e muitas vezes ignorada, em prol de uma pretensa abstinência que se quer impor a populações completamente ignorantes e em relação às quais, muitas vezes, nem mesmo o simples direito a um pedaço de pão está garantido todos os dias.(...)»

 

Sérgio de Almeida Correia, no Bacteriófago


22
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:08link do post | comentar | ver comentários (2)

«Diz-se por aí que PS e PSD não conseguiram encontrar substituto para Nascimento Rodrigues em tempo útil. Eu penso que a história é mais prosaica: PS e PSD esqueceram-se simplesmente que o Provedor de Justiça existia.

Talvez tenham conversado uma ou outra vez sobre o cargo. Mas, como acontece em certos filmes, a família do ‘bloco central’ só se lembrou da criança quando ela, deixada em casa, desatou a berrar sozinha. Foi o pasmo geral: dos partidos, dos jornalistas e até do Presidente da República, que durante nove meses não deu por nada.»

 

João Pereira Coutinho, no Correio da Manhã


21
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:21link do post | comentar | ver comentários (1)

 

"Porta-livros" digitais, livros electrónicos, guerras para dominar o mercado. Apenas quero pedir uma coisa: digam-me que este ano ainda há feira do livro.

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publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:04link do post | comentar | ver comentários (4)

«In 2001, Portugal became the only EU-member state to decriminalize drugs, a distinction which continues through to the present.  Last year, working with the Cato Institute, I went to that country in order to research the effects of the decriminalization law (which applies to all substances, including cocaine and heroin) and to interview both Portuguese and EU drug policy officials and analysts (the central EU drug policy monitoring agency is, by coincidence, based in Lisbon).  Evaluating the policy strictly from an empirical perspective, decriminalization has been an unquestionable success, leading to improvements in virtually every relevant category and enabling Portugal to manage drug-related problems (and drug usage rates) far better than most Western nations that continue to treat adult drug consumption as a criminal offense.»

 

Glen Greenwald

 

[por sugestão do Jorge Assunção]

 


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:16link do post | comentar | ver comentários (1)

«O Papa deu uma bofetada de luva branca, branquíssima, em todos os silêncios sobre o poder em Angola, a miséria, a força bruta, as enormes diferenças sociais entre uma elite que nós bajulamos e os angolanos comuns a quem continuamos a trair.»

 

José Pacheco Pereira, no Abrupto


20
Mar 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 18:28link do post | comentar

Foi com grande surpresa que li um artigo da BBC que dá conta de que se estão a fazer planos para estabelecer um preço mínimo para as bebidas alcoólicas no Reino Unido.

A proposta de Sir Liam Donaldson (um dos primeiros proponentes da abolição do fumo em lugares públicos) consiste, simplesmente, na fixação de um preço mínimo por unidade de álcool, abaixo do qual nenhuma bebida alcoólica pode ser vendida. O objectivo parece ser a diminuição do consumo, que começa a ser bastante elevado por terras de Sua Majestade.

Tal como na proibição do comércio de drogas, o objectivo é excelente. O ideal seria que todos nós fôssemos bons cidadãos, bons cristãos e que não nos déssemos a práticas menos nobres, como o consumo de drogas. No entanto, e tal como no caso das drogas pesadas, o Estado não tem o direito de se intrometer nas opções pessoais dos cidadãos. Não é crime ser alcoólico. Poderá ser crime o que faço em estado alcoólico, mas nessa situação a lei prevê punições e, para além disso, é o risco a assumir quando se bebe demais.

Mesmo que, por momentos, fingíssemos ser aceitável que o Estado se intrometa desta forma na vida das pessoas, a forma como se está a intrometer não leva a nenhuma mudança substancial. A base argumentativa é que as bebidas baratas estão associadas aos alcoólicos, segundo um porta-voz do Departamento da Saúde. Isto é óbvio: se os alcoólicos, por definição, bebem muito, tenderão a procurar as bebidas mais baratas, bebendo mais com menos. Julgar que por se encarecer as bebidas os alcoólicos beberão menos é de uma falta racionalidade sem nome. Nada, mas absolutamente nada, nos pode levar a crer que caso o álcool aumentasse o preço, iria haver menos alcoólicos. A única diferença, provavelmente, seria uma relação bastante mais acentuada entre alcoolismo e pobreza.

Para além da manifesta imoralidade deste tipo de intromissão do Estado na vida dos cidadãos (mais ainda no berço do liberalismo), economicamente esta medida é também bastante condenável. Obviamente, toda ou quase toda a indústria do sector regozijou com a medida. Bebidas de um custo baixíssimo (cerveja) vão dar aos produtores um lucro desmesurado, colocando-os numa situação preferencial em relação aos seus concorrentes cujas bebidas têm um custo mais elevado (whiskey) - mais valia que lhes dessem subsídios.

O que é francamente preocupante é que, tal como importámos a proibição do fumo em lugares públicos, mais cedo ou mais tarde haverá meia dúzia de iluminados que trarão esta proposta a debate em Portugal e nós, moralistas de natureza, acharemos tudo isto muito bem, muito certo, muito cristão e aplicaremos.

 

[na imagem: Tavern Scene, de David Teniers II]


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