A defesa da eutanásia por quem defende o Estado Social (seja à esquerda, seja à direita) é algo de profundamente paradoxal. Refiro-me aqui à eutanásia que não é por decisão do próprio, mas sim por decisão médica ou familiar.
Vejamos. O sistema social, que parte do pressuposto de que é possível, a partir de contribuições limitadas ter cuidados de saúde ilimitados e universais - o que é impossível - funciona do seguinte modo: eu dou agora para beneficiar depois. Ninguém vai negar isto, espero. E isto funciona para todos: todas as pessoas têm o direito de beneficiar de cuidados ilimitados depois, quando precisarem. É a justiça social, a solidariedade social, tudo com nomes bonitos e românticos para que quem se lhes opõe ser mau, desumano. Enfim, prossigamos. O que se propõe é que haja uma fatia da população que, quando tem um determinado tipo de problema - coma permanente - possa ver-se sem esse direito por decisão de terceiros. A família vem e diz basta e a pessoa, sem possibilidade de defesa, claro, consente com o seu silêncio. Isto quando esta pessoa, com a promessa de um sistema que lhe daria tudo o que ela precisasse, deu uma parte do rendimento, da riqueza que produziu durante a sua vida. É imoral fazer isto. É imoral no quadro actual legalizar-se a eutanásia que não seja por vontade do próprio, dita ou escrita em testamento.
Numa situação normal, a eutanásia seria perfeitamente aceitável. Nem se trataria de matar, tratar-se-ia simplesmente de não sustentar mais aquela pessoa. Não existe obrigação moral de terceiros manterem uma pessoa viva, quando a responsabilidade do estado da pessoa não é sua. Existe, no entanto, obrigação por parte do colectivo de sustentar uma pessoa, quando lho prometeu em troca do seu dinheiro. Haja coerência. Assim não é possível.