A máfia da blogosfera
14
Mai 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 13:55link do post | comentar

Quando acontece algo como o que aconteceu no Bairro da Bela Vista vem logo, a correr, que isto não é gente de andar devagar, um certo tipo de bem-pensante lusitano gritar, para o povo ouvir e, se não for muito incómodo, votar: Isto é um problema social, têm de se aumentar os apoios sociais. Que é um problema social ninguém nega, o que é importante aqui é que se pense se as políticas sociais, ou melhor, estas políticas sociais resolvem alguma coisa.

Tudo isto aconteceu, e não foi a primeira vez, num bairro social, com famílias que recebem Rendimento Social de Inserção e, claro, outros tipos de apoios sociais. Não se pode dizer, de todo, que o Estado já faz muito: não pagam casa, não pagam educação dos filhos, não pagam serviços de saúde e ainda recebem um rendimento mensal. Esqueçamos, será possível?, os ganhos ilícitos noutras actividades que não dá jeito que sejam conhecidas pelas autoridades. Ora, com todo este apoio estas situações acontecem, com todo este apoio estas situações, a alterar-se, pioraram e ainda há quem defenda um aumento dos apoios. Seria regar fogo com gasolina.

O problema destes bairros e desta população, quanto a mim, e sem querer entrar no preconceito porque cada caso é um caso, é o facto de, em primeiro lugar, os colocarem num lugar só, qual guetto, criando, invariavelmente, um foco de violência; e, em segundo lugar, lhes darem tantos apoios sem que haja qualquer contrapartida, qualquer esforço para mudar de vida. Reparem, se nos dessem o suficiente para viver com um mínimo de conforto, e sabendo nós que ao trabalhar dificilmente ganharíamos uma grande diferença, trabalharíamos?


"O teu primeiro parágrafo vai contra a realidade. É que aquelas pessoas não fazem grande esforço por procurar trabalho (falo dos envolvidos, não quero generalizar)."

Não me digas que aquele velhote simpático do video estava errado?

Já agora, quando dizes dos envolvidos estás a falar das pessoas que provocaram desacatos?

"É óbvio que se não existissem tantas pessoas propensas a gerar violência a viver num mesmo lugar, a violência não seria tão grande. Compara uma favela com um condomínio no Restelo."

Estás a comparar mundos diametralmente opostos. Além disso a "propensão" está mais nas condicionantes sociais do que nas pessoas em si.

"Ninguém tem uma vida fácil, Stran, mas uns lutam por uma e outros vivem com a luta dos outros..."

Bem não realidade há quem tenha vida fácil, no entanto são uma pequena minoria e irrelevantes para esta discussão.

E a realidade de quem vive ou cresceu num bairro social é muito diferente da maioria dos portugueses. Menos opções, mais dificuldades, mais insegurança, menos expectativas, e, definitivamente, outras regras sociais com que têm de viver...

E isto não é o discurso do "coitadinho", pois a meu ver não existem coitadinhos nestes bairros. Existem pessoas, apenas isso. E a maioria, como se costuma dizer, "boa gente".

O teu "problema" é que te enganas, primeiro quem provoca estes desacatos não recebe rendimento de inserção. É a familia que o recebe.

Depois é juntares temas que deveriam ser discutidos em separados: crime e Rendimento de inserção social

1) a nível de crime, honestamente, este episodio é de somenos importancia, não só é esporádico como é de fácil resolução. Aliás se estivessemos realmente a falar de crime muito provavelmente nem sequer falariamos dos bairros sociais mas centravamo-nos em, por exemplo, violência domestica (um crime mais generalizado), ou então nos mortos/acidentes graves que existem na estrada e que têm um impacto muito maior na sociedade. Mas não convém dar essa imagem do crime, afinal ninguém gosta de se olhar ao espelho e ver esta realidade.

2) Rendimento de Inserção Social: com que base é que dás uma imagem negativa desta medida? Com a impressão que tens ou com dados concretos? É que se calhar se analisares concretamente o efeito desta medida chegas exactamente à conclusão contrária do que chegaste.

Bem mas continuo na duvida: estás a falar nas pessoas que provocam desacatos ou estás a generalizar?

É que eu nunca vi nenhum a pedir mais dinheiro, aliás esses, que provocam desacatos e que roubam, nem precisam, pois já encontram a forma de "arranjar" dinheiro ou dito de outra forma já lutam pela vida deles, não precisam de esmola de ninguém.





Stran a 14 de Maio de 2009 às 18:26

Neste raciocínio refiro-me apenas àqueles que geram violência. Conheço pessoas que vivem em bairros e são uns paz de alma.

É óbvio que a propensão à geração de violência advem das circunstâncias sociais. Logo, é absurdo colocar pessoas com circunstancias sociais menos boas todas juntas...

Stran, imagina que, em vez de se construírem bairros daqueles, que logo pela estética se denunciam, se distribuía a população por vários pontos das cidades. Imagina, também, que estes pais tinham de trabalhar, e sabes a que me refiro com trabalhar, para poder ter as coisas: a educação dos filhos, por exemplo. Não achas que as coisas mudavam um pouco?

Quanto ao RSI, aquilo de que falo é de observação empírica. Onde moro, há gente com actividades ilícitas ou não declaradas que o recebem, enquanto que há outras que trabalham, pagam impostos e têm pouco, muito pouco mais.

Tiago tenho de te pedir desculpa pois parti do pressuposto errado que estavas a falar de todos os que moram no bairro e recebem subsidio de inserção social.

"Stran, imagina que, em vez de se construírem bairros daqueles, que logo pela estética se denunciam, se distribuía a população por vários pontos das cidades"

Não só consigo imaginar como é algo que pessoalmente defendo.

"Imagina, também, que estes pais tinham de trabalhar, e sabes a que me refiro com trabalhar, para poder ter as coisas: a educação dos filhos, por exemplo. Não achas que as coisas mudavam um pouco?"

Este é o ponto de discórdia. Primeiro julgo que partes do pressuposto que o pleno emprego é atingivel. Eles bem podem querer trabalhar mas a verdade é que poderão não ter emprego, e isso é uma situação que muitas vezes não depende deles. No entanto se estiveres a referir que teriam de fazer algo (formações, projectos, estar integrados em voluntariados, etc) para obter esse subsidio, aí concordo. Sou completamente a favor do subsidio de inserção social, no entanto não gosto muito da gratuitidade do mesmo.

Quanto à educação sabes que eu sou a favor que deve de ser de "borla", não só para para eles mas para todos. Nesse campo não vejo nenhum apoio especial para os mesmos.

No entanto há algo que tive a impressão pelo teu comentário, que é que todos os pais valorizam a educação. Infelizmente não partilho dessa visão, e não é apenas nas camadas pobres que isso existe (embora seja onde essa actitude tem mais consequencias negativas), também nas outras camadas existe uma pouca valorização da educação, só que aí traduz-se numa actitude de "ter o curso por ter" ou de pressionar os professores para aumentarem as notas dos seus filhos.

"Quanto ao RSI, aquilo de que falo é de observação empírica. Onde moro, há gente com actividades ilícitas ou não declaradas que o recebem, enquanto que há outras que trabalham, pagam impostos e têm pouco, muito pouco mais."

Eu honestamente tenho muito pouca paciência para "freeriders" quer nestas situações, quer no caso de impostos. Mas também não sou a favor de uma politica de "cortar toda a floresta para prevenir os incêndios".

Julgo que neste caso têm de existir duas mudanças: na sociedade portuguesa esses comportamentos têm de ser penalizados (ao contrario da filosofia actual que é de incentivo) e tem de existir uma actitude por quem fornece o subsidio de um controlo eficiente.

Honestamente é para mim um crime muito grave quem recebe um subsidio do Estado e não o merece, não apenas porque nos está a roubar, mas, e pessoalmente para mim este é o mais importante, porque está a esgotar um bem finito. Isto é, por ele receber existe um outro (ou outros) que precisavam e mereciam que não estão a receber e ninguém tem o direito de influenciar dessa forma a vida de uma outra pessoa (Já agora este é também a minha filosofia para quem foge aos impostos).


P.S. Uma questão lateral: o que achaste do Liberalismo Social?
Stran a 14 de Maio de 2009 às 23:11

Eu não parto do pressuposto que o pleno emprego é possível. Não é. Mas acredita que se o mercado de emprego fosse mais flexível não havia uma situação muito injusta: uns que entram e nunca mais saem até à reforma e outros que nunca conseguem arranjar. Numa situação normal, o desemprego deveria 'calhar' a alguém num curto periodo de tempo ao longo da sua vida activa.

Sabes que defendo uma sociedade liberal, no entanto tempero o sonho com algum pragmatismo e percebo que, nesta altura, acabar com todos os benefícios sociais levaria ao caos interno. No entanto, acho que era mil vezes preferível resolver as coisas a montante e não a jusante. Stran, é impossível haver emprego para todos se o mercado não for liberalizado, é impossível que haja iniciativa privada por parte dos nacionais se se bombardeiam os investidores com cargas de impostos e obrigações que não lembram a ninguém. Assim, teremos um povo de empregados e alguns, desgraçados, ficam de fora do jogo.
Mandar dinheiro para os problemas não é solução e se aquelas pessoas têm casa, carro, comida na mesa, não deixam de ser pobres.

O liberalismo social, sinceramente, parece-me muito como a social-democracia: um sistema intermédio, híbrido, cuja génese é o ataque àquilo que pretende substituir. Repara, na definição de liberalismo social eles definem-se logo como positivos e aos liberais não sociais como negativos...

"uns que entram e nunca mais saem até à reforma e outros que nunca conseguem arranjar"

E porque razão é que devem sair?

"Numa situação normal, o desemprego deveria 'calhar' a alguém num curto periodo de tempo ao longo da sua vida activa."

O problema é que uma situação "normal" não é realistica por enquanto. A realidade é que existem muitos factores (extra-competencia) que influenciam a decisão de emprego como idade, nacionalidade, tom de pele, sexo, etc, ou seja a flexibilização não ajudariam em nada nestas questões de desemprego de longa duração.

"Stran, é impossível haver emprego para todos se o mercado não for liberalizado, é impossível que haja iniciativa privada por parte dos nacionais se se bombardeiam os investidores com cargas de impostos e obrigações que não lembram a ninguém"

É impossível haver emprego para todos ponto final. Se em alturas de expansão a taxa de desemprego desce em alturas de recessão elas aumentam e muito. E atenção que eu nem sequer estou a falar quanlitativamente deste tema. Quanto à iniciativa privada o problema não está claramente na carga fiscal, mas sim nos outros obstaculos (como a elevada burocracia).

Aliás a nossa iniciativa privada actual é miserável qualitativamente, não assume as suas responsabilidade, não compete, não traz quase nenhuma mais valia à sociedade portuguesa como um todo, é geralmente pouco qualificada, pouco ambiciosa e, em muitos casos, tem actitudes a roçar o "criminoso".

"Mandar dinheiro para os problemas não é solução..."

Sim é apenas um paliativo. No entanto é apenas com investimento na resolução dos problemas que eles se resolvem, não existe "mão invisivel" ou "acto de Deus" que solucione...

"O liberalismo social, sinceramente, parece-me muito como a social-democracia:"

Concordo que sejam parecidos. Embora não pelos motivos que tu apontaste.

"um sistema intermédio, híbrido, cuja génese é o ataque àquilo que pretende substituir"
Hibrido talvez, intermédio não. Quanto à sua génese, poderias explicar melhor a tua perspectiva?

"Repara, na definição de liberalismo social eles definem-se logo como positivos e aos liberais não sociais como negativos..."

Sim e faz todo o sentido. Não te esqueças que o termo "positivo" ou "negativo" não é utilizado como valoração (isto é, não significa "bom" ou "mau") mas mais a ver com acção e inacção.
Stran a 15 de Maio de 2009 às 15:28

O mercado de trabalho deve ser "rotativo", isto é, saírem uns e entrarem outros, por dois motivos: leva a maior competitividade e a aumentos de produtividade e porque permite que os problemas sociais sejam distribuidos 'pelas aldeias' não afectando tão negativamente cada um.

Discordo de ti em relação aos obstáculos à iniciativa privada. A taxação do capital é assustadora: dupla taxação de dividendos, etc, etc.

O investimento na resolução dos problemas sociais não envolve dinheiro ;)

O que me pareceu do liberalismo social é que 'não é nada'. Ou seja, quer um welfare sistem e liberalismo. É incompatível. Isto pode ser uma realidade numa fase transitória para uma sociedade liberal, mas nunca um ideal político.

"O mercado de trabalho deve ser "rotativo", isto é, saírem uns e entrarem outros, por dois motivos: leva a maior competitividade e a aumentos de produtividade e porque permite que os problemas sociais sejam distribuidos 'pelas aldeias' não afectando tão negativamente cada um"

Vamos então aplicar essa linha de raciocinio ao desporto:
- defendes que o Ronaldo, Messi, Moutinho fique um ano sem jogar para que outros tenham oportunidade?

"Discordo de ti em relação aos obstáculos à iniciativa privada. A taxação do capital é assustadora: dupla taxação de dividendos, etc, etc."

Talvez seja defeito da minha formação, sou gestor, estou habituado a resolver problemas concretos. Para mim a taxação não é um obstaculo, pois apenas é um input do negócio, no entanto quando tenho uma ideia de negócio não consigo implementar por motivos "logisticos" e não porque acho o imposto muito alto. Aliás quase todos os impostos são variavieis por isso se pagar impostos é muito bom sinal!!!

Eu pessoalmente julgo que existe dois tipos de iniciativa privada a que já está instalada e os "new comers". O problema é que existem muitos obstaculos à entrada de new players (e tenho de confessar muito por pressão de quem já está instalado), a taxação é algo comum a ambos e por isso não é um impeditivo real.

É por isso que eu digo que a nossa iniciativa privada é mediocre, porque é pouco competitiva e comletamente avessa ao risco (o caso da COSEC é um bom exemplo disso).

"O investimento na resolução dos problemas sociais não envolve dinheiro ;)"

Diz-me como, por exemplo, fazes um ringue de futebol sem dinheiro?

"O que me pareceu do liberalismo social é que 'não é nada'. Ou seja, quer um welfare sistem e liberalismo."

O liberalismo puro é uma utopia, assim como é o comunismo. Modeliza sociedades "ideais" e negligencia por completo a realidade humana. O liberalismo social e a social democracia são as respostas pragmáticas ao liberalismo e socialismo.

Olha por exemplo o liberalismo economico. Este sistema é assente em dois pressupostos completamente irrealistas (o egoismo e a racionalidade). E enquanto esses pressupostos fazem sentido na ciência economica, quando transpostos para outros campos, como o da politica, são simplesmente "nonsense".

Além de que o liberalismo puro encerra, na minha opinião, contradições insanáveis.
Stran a 16 de Maio de 2009 às 12:20

É óbvio que há sempre gente que nunca sai, naturalmente. Agora, impor que ninguém saia, através da obrigatoriedade de quadros, faz com que, muitas vezes, os maus estejam empregados e não precisem de trabalhar para melhorar e os bons fiquem de fora, mortinhos por uma aberta e cheios de formação. Sabes disto, não é novidade. Olha os professores!

Bom, a questão da taxação é subjectiva. Eu acho que é demasiado elevada. Pagar imposto sobre aquilo que já levou imposto é absurdo.

Um ringue de futebol não resolve problemas sociais. Os problemas sociais resolvem-se a montante: permitindo iguais oportunidades a todos, não beneficiando ninguém perante a lei. E o actual código laboral benefícia os empregados e prejudica os desempregados.

Eu não defendo liberalismo puro porque isso é anarquia. Eu defendo que o Estado deve ter as suas funções principais e que, até ter uma economia saudável, deve ter algumas boas políticas sociais: um sistema de saúde que permita aos mais pobres algum tratamento, uma educação pública enquanto as desigualdades forem muito grandes. No entanto, defendo uma mudança, uma via liberal, que liberte a economia e a sociedade de forma gradual e progressiva. Seria para mim excelente que o Estado não me obrigasse a ajudar os outros. Aí eu teria todo o gosto em ajudá-los.

"Olha os professores!"

Não concordo nada com esta visão dos professores. Quanto à questão de prender, como já disse, se for paga uma fore indemnização para a pessoa sair não vejo nenhum problema. Agora não sou a favor que uma empresa possa despedir ao seu bel-prazer. Tem de ter uma razão objectiva para isso.

"Bom, a questão da taxação é subjectiva"

Concordo, depende muito do modelo que defendes. No entanto em nada afecta a dinamica do mercado, ou sequer a abertura e competitividade. Vê o caso da Dinamarca, tem uma elevadissima carga fiscal (julgo que superior que a nossa) mas tem o mercado mais liberal do mundo.

"Eu defendo que o Estado deve ter as suas funções principais e que, até ter uma economia saudável, deve ter algumas boas políticas sociais:"

Assim que abres esta escepção permites que seja perfeitamente legitimo todas a acções do Estado (o raciocinio é exactamente o mesmo).

"Seria para mim excelente que o Estado não me obrigasse a ajudar os outros. Aí eu teria todo o gosto em ajudá-los."

Pois aqui é uma questão de visão. Eu para mim quero um Estado que exija dos seus cidadão igual esforço no financiamento do mesmo.

"Um ringue de futebol não resolve problemas sociais."
LOL É verdade, mas em alguns casos especificos poderá ajudar muito.

"Os problemas sociais resolvem-se a montante: permitindo iguais oportunidades a todos..."
No dia em que vivermos nesse mundo diz-me, que provavelmente eu concordarei contigo. Só
que sem um "re-startE em cada geração nunca existe uma efectiva igualdade de oportunidades.


"...não beneficiando ninguém perante a lei. E o actual código laboral benefícia os empregados e prejudica os desempregados."

O Codigo de Trabalho é o que é. Com outra mentalidade por parte dos portugueses seria perfeito. No entanto e como tu já disseste, não se mudam mentalidades por decreto.
Stran a 16 de Maio de 2009 às 22:20

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