Há, há algum tempo, um consenso generalizado em relação à má situação das finanças públicas. Temos uma administração pública francamente ineficiente, o que leva a défices orçamentais sucessivos (as pessoas já nem se lembram que o superavit existe), o que por sua vez leva a dívidas públicas insustentáveis. É também evidente que todo um país vive acima das suas possibilidades, pois as taxas de juro são absurdamente baixas, o que constitui um estímulo à contracção de crédito, o que resulta numa dívida externa que quase representa o total que produzimos ao longo de um ano. Começa também a haver algum consenso em relação ao falhanço do governo na estabilização destas contas públicas. Se é certo que actualmente estamos em crise e temos de ser mãos largas, entre 2005 e 2007 os efeitos da crise não se faziam sentir em Portugal - francamente, acho que a crise financeira ainda não se faz sentir propriamente no nosso país, apenas dá jeito que se pense que a estamos a viver. A prova deste falhanço é a descida do rating de Portugal na Standard & Poor's, o que na prática significa que é "arriscado" emprestar-nos dinheiro e, por conseguinte, teremos de pagar o risco com taxas de juro mais elevadas. É neste contexto, com juros da dívida pública a aumentar, com um défice excessivo e com uma situação financeira quase insustentável que José Sócrates entra em acção com os seus pacotes-anti-crise, com os grandes projectos de Obras Públicas (muito guterristas, diga-se) e com as grandes frases tipo "eu posso-me arrepender de muita coisa, mas há uma coisa de que não me arrependo: foi de não ter agido", com aquele ar dramático com olhos semi-cerrados e voz quase fantasmagórica. Pois que continue o circo, que aqui o palhaço vai acompanhando os acontecimentos.