Um longo processo mal conduzido, por José Medeiros Ferreira
Astérix de Marx, por Henrique Raposo
Com 200 euros, por Francisco José Viegas
Um longo processo mal conduzido, por José Medeiros Ferreira
Astérix de Marx, por Henrique Raposo
Com 200 euros, por Francisco José Viegas
Acrescente-se uma coisa a este texto. É curioso como o João Galamba diz que «a direita tende a concordar com Hobbes, que tem uma visão sombria e pessimista da existência humana e que desvaloriza a dimensão criativa do debate democrático.» É curioso porque coloca a «Direita» como uma fiel devota de Hobbes e não coloca a «Esquerda» como uma fiel devota de Rousseau ou Marx. Isso deve ser porque a «Esquerda» evoluiu e até se tornou democrática!, enquanto a «Direita» ficou como era há duzentos anos atrás, igualzinha. Mas, João, temo que a avaliação pessimista do ser humano esteja mais presente na «Esquerda» (aqui falo dos socialistas, claro) do que na «Direita» (onde se costumam colocar conservadores e liberais). É que a primeira vê-se obrigada a impor ao homem que faça bem a si próprio (até o proíbe de comer pão com sal, que faz mal), enquanto a segunda deixa o homem viver como quer, atribuindo-lhe um grau de liberdade e independência que a «Esquerda» não tolera. Estaremos confusos?
(editei este texto, porque estava factualmente enganado na primeira edição. Hobbes não esteve na génese da Esquerda quando se criou o conceito. obrigado ao Miguel Madeira)
Eu estava a ler este enorme texto do João Galamba e confesso que a imagem que o João me transmitiu foi qualquer coisa como o mundo separado a meio por um rio, de um lado a margem Esquerda, do outro a margem Direita. O mundo dos esquerdistas era admirável, como o outro: sempre optimistas, idílicos, de olhos postos no futuro e tal. O mundo dos direitistas era um assombro: gente com o Leviatã na mão, recitando passagens, gente a falar dos antigamentes e como era bom o tempo sem televisão. No fim apercebi-me: o exercício do João foi um exercício fútil de mera assunção de um preconceito insanável.
Os blogues feitos por jornais e revistas são um nojo. Começou a Sábado com o blogue de direita e o blogue de esquerda. Dois blogues que reúnem gente que escreve extremamente bem, mas que mal se consegue ler, tal é a quantidade de ruido visual à volta do texto. O Aparelho de Estado, que tem um excelente colectivo, tem a letra minúscula, não tem um ligação para os textos todos e tem aquele mesmo ruído visual horrível à volta. Tratem lá disso, façam coisas mais limpinhas e mais legíveis que as minhas dezanove dioptrias no direito estão a dar cabo de mim.
Se eu pedir ao Pedro Vieira que faça um boneco parecido a este mas para os pontos de interrogação, terei de pagar muito, pergunto. É que os pontos de interrogação são tão feios!
Volto a discordar do Pedro Picoito em relação ao casamento homossexual. Apesar de não referir explicitamente a conclusão a que quer chegar, ela aqui é óbvia.
E essa questão traz um problema, a meu ver, muito grave. Enquanto num país como os EUA o povo conhece minimamente a sua Constituição, em Portugal essa é quase uma missão impossível. É essencial (apesar de já sabermos que estamos a pedir demais) que na próxima revisão se façam duas coisas: simplificar a Constituição e remover do texto qualquer tipo de marca ideológica. Podem começar pelo preâmbulo.
No debate político em Portugal, um indivíduo que defenda uma economia de mercado é, só por isso, um liberal. Ou neo-liberal, ó afronta parlamentar das afrontas parlamentares.
Este fenómeno deve-se, essencialmente, ao facto de aqueles que defendem a economia de mercado dizerem de si que são liberais. Estes «liberais», que se assumem como tal apenas por pose e porque ser liberal é como comer hamburgueres: very american thing; acabam por destruir à partida a imagem que a ideologia pode ter junto da massa que não se preocupa em investigar, mas apenas em absorver o que a televisão diz.
Não meus amigos. Ser liberal não é só defender a economia de mercado. Enquanto não se perceber isto, não poderá haver liberalismo no nosso país.
I. Recentemente foi noticiada uma medida que me parece muito, mas muito positiva por parte do Partido Socialista. A ideia é criar um espaço de livre circulação de bens, pessoas e capitais nos países da CPLP. Não sei até que ponto isto pode trazer complicações com a EU. Mas se não houver impedimentos, isto é um salto gigante na internacionalização da economia portuguesa. Os ingleses há muito têm a sua Common Wealth que deu resultados. Se for criado algo assim, as trocas comerciais e não só terão um grande crescimento. Além disso ficamos muito a ganhar à conta do Brasil e de Angola. Branco.
Não fazia ideia que ela pertencia à equipa. Isso explica tudo. É que é para mim impossível que alguém de fora do ministério leia, por exemplo, o 75/2008, e consiga dizer a seguir, sem se rir, que «A política educativa tem ido no sentido correcto». Então se tiver algum contacto com uma escola e com o seu funcionamento, a bizarria toma proporções bíblicas.
A necessidade que José Sócrates tem de, na apresentação das suas propostas, se ver rodeado de figurões como Isabel Alçada, que, aposto, não deve ter lido um único decreto sobre educação nos últimos anos, mostra simplesmente a incapacidade que tem de se fazer acreditar junto dos interlocutores. É o resultado de mais de quatro anos a destruir aos poucos a sua credibilidade com o seu estilo plástico, a sua voz ensaiada.
Discordo do Tiago Loureiro, em relação ao que escreve sobre os liberais e os conservadores. O conservadorismo, mais que uma posição pessoal, é uma linha política com traços muito marcados. Provavelmente o melhor exemplo serão os tories ingleses. São traços marcados do conservadorismo, por exemplo, a defesa de uma solidariedade social próxima à preconizada pelos democratas-cristãos, a contenção no que respeita à imigração, as profundas reservas quanto à promoção de liberdades civis chamadas fracturantes e, até, em algumas situações, a defesa de uma política proteccionista para os Estados, através de limites ao comércio com o exterior. Nada disto se encontra na doutrina liberal. Não significa que conservador e liberal sejam opostos. São apenas diferentes.
O problema quando se fala disto é que conservadores se auto-assumem como liberais apenas porque é próprio do conservadorismo ser cuidadoso com o peso do Estado. É verdade que, e nisto conservadores e liberais estão umbilicalmente ligados, há uma verdadeira oposição a ideias estatizantes. No entanto, essa semelhança de posições não leva a que um conservador e um liberal seja a mesma coisa.
E aproveito até para dizer que o liberalismo está muito, muito mal visto em Portugal porque aqueles que se auto-intitulam de liberais são, as mais das vezes, conservadores numa linha próxima dos tories ingleses ou dos republicanos dos EUA. Um partido que perfilhe verdadeiramente uma doutrina liberal, em Portugal, não há. E faz falta.
Há em Portugal três grandes ideologias que obtêm a simpatia do eleitorado: a social-democracia, o liberalismo e o conservadorismo. Apesar disso, os partidos existentes não estão alinhados com estas ideias. A social-democracia está repartida entre o eleitorado (atenção: eleitorado é diferente de direcção) comunista, bloquista, socialista e social-democrata. O liberalismo está repartido em duas vertentes: na vertente económica, chamemos-lhe assim, está disseminado principalmente entre CDS, PSD e PS; na vertente social reparte-se entre bloquistas e socialistas. O conservadorismo reparte-se essencialmente entre PSD, CDS e, arrisco, PCP.
O principal problema desta indefinição ideológica dos partidos, que não têm qualquer tipo de doutrina na sua base - é o triunfo da realpolitik, dizem - é que o eleitorado que tem uma ideologia própria tem sempre de escolher pelo mal menor. Por exemplo, um indivíduo assumidamente liberal em todas as suas vertentes tem de fazer uma opção entre, lets say, o CDS, abdicando do seu carácter algo progressista; e o Bloco, cedendo às derivas estatizantes e repressivas que tão bem conhecemos.
Seria ideal que se recriasse o espectro: três grandes partidos, ideologicamente bem alicerçados: um grande partido social-democrata, um grande partido liberal e um grande partido conservador.
Após alguns cálculos toscos chega-se à conclusão que este ano sairá do erário público para os partidos uma quantia superior a 30 milhões de euros.
É um valor monstruoso e muito superior ao necessário para que se cumpra o objectivo inicial: o de haver partidos e, portanto, democracia. Em primeiro lugar, este principio de que é necessário um financiamento público para que haja partidos é assustador: é mais uma forma de o Estado decidir pelas pessoas de que modo estas devem viver. Em segundo lugar, esta forma de financiamento perpetua os mesmos partidos de sempre na AR, colocando-os num patamar muito diferente de um partido com o MEP ou o MMS, que me parecem ser ainda os mais promissores de todos os jovens partidos.
Gostaria muito, mas muito, que houvesse algum partido que apresentasse como proposta o fim desta forma de financiamento. O ideal seria o fim do financiamento público. Só assim a democracia pode respirar.
A blogoconferência de ontem, que reuniu José Sócrates e vinte bloggers correu bastante bem.
[também no Jamais]
No seguimento deste post alguns comentadores responderam, simplesmente, que o direito à saúde é uma questão de facto. Existe, ponto. O argumento maior era a consagração da saúde pública na Constituição. A discussão trouxe-me a este post.
"No Irão morreram mais de 20 pessoas em protesto contra os resultados eleitorais e exigindo mais democracia. As liberdades fundamentais foram suspensas. Nas Honduras, militares golpistas extraditaram o presidente democraticamente eleito. Os protestos já geraram duas vítimas mortais. As liberdades fundamentais foram suspensas. Na China, 140 pessoas morreram em protestos contra a suposta hegemonia de uma etnia. 1400 pessoas foram presas e as liberdades fundamentais foram suspensas.Estamos fartos disto! Estamos fartos de repressões e ditadurices. Estamos fartos de desrespeitos claros aos mais básicos direitos fundamentais. Estamos fartos de ver a liberdade ser suspensa. Estamos fartos de ver a democracia ser adiada em tantos países. Estamos fartos da paz ser constantemente hipotecada. Não pode ser! Estamos fartos e, dentro das possibilidades de cada um, vamos fazer barulho por isso! Temos dito!"
Este é uma espécie de manifesto que tem circulado pela blogosfera. O Stran sugeriu-me que o postasse com o melhor dos argumentos: não custa nada. No entanto, penso que este tipo de iniciativas peca por pura e simplesmente não ser nada. Isto não é nada. Este vídeo alerta algumas pessoas para o problema e é só. É apenas uma forma de, com tecnologia, dizermos que temos pena. Não chega.