A máfia da blogosfera
30
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:08link do post | comentar | ver comentários (13)

No Prós e Contras de ontem ouvi algo que não esperava ouvir. É certo que se esperava a cartilha costumeira dos sindicalistas e os paninhos quentes dos seus opositores, com excepção de Armindo Monteiro, mas aquilo que ouvi da boca de Júlio Gomes no fim da sua intervenção - sim, porque o meio teve muito que se lhe diga - foi de uma coragem e lucidez raras.

A critica mais que certeira à falta de legitimidade democrática dos sindicatos para intervirem na criação de legislação laboral era necessária há muito tempo. Num Estado de Direito, a lei é criada e discutida na Assembleia da República. É lá que estão os legítimos representantes do povo e não nos sindicatos. O diálogo com os sindicatos é, as mais das vezes, uma multiplicação da importância de pequenos partidos que não receberam o voto dos eleitores e que se querem colocar em bicos de pés para decidirem aquilo que não podem, ou pelo menos, não deveriam poder decidir. É imperativo que a chachada do diálogo com os parceiros sociais acabe quando se fala em legislação e que os sindicatos deixem de fazer lei. Não podem, não têm esse direito e de cada vez que o fazem, dão uma machadada no regime. Colocam mais um prego no caixão da democracia portuguesa.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:06link do post | comentar | ver comentários (1)

«Os sindicatos querem bater-se pelos direitos dos trabalhadores e amarrar os trabalhadores ao barco [empresas] sem se preocuparem com a qualidade do barco»

 

Armindo Monteiro, a propósito da desvalorização tremenda das empresas portuguesas.

 


29
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:27link do post | comentar | ver comentários (1)

Sinto que posso ter deixado dúvidas com o meu texto anterior e como os mal-entendidos são uns bastardos que só consigo ver longe, longe, vou tratar de explicar tudo.

Eu achei este programa do JPP mau. Provavelmente, e por isso mesmo, verei os próximos - acontece com alguns programas de opinião em Portugal. No entanto, nunca por nunca eu defenderia que o programa deve ser censurado pela ERC ou que polícia censória fosse. A Sic é uma empresa privada. O JPP é livre de dizer o que quiser e se lhe derem cobertura ainda é mais livre. Os pontos estão nos i's, isto é, o programa foi, desde o primeiro momento, dado como sendo de opinião parcial e pouco isenta e nunca como um trabalho técnico.

Defender que JPP seja calado é algo de muito grave para a democracia. O JPP na Sic ou outro qualquer num outro lugar qualquer.

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publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 19:32link do post | comentar | ver comentários (1)

José Pacheco Pereira, como já do conhecimento de toda uma vasta área que compreende Portugal e uns arredores, talvez exagero, tem um programa a título individual na Sic Notícias. Isto por si só não é bom nem mau - é uma decisão da televisão, que, ao que sei, ainda é privada. No entanto, não me parece disparatado que faça uma pequena, qual pequena, gigantesca crítica ao programa e à estação.

Aqueles quinze minutos, um período absurdamente curto, da dimensão de um intervalo, são apenas um tempo de antena do PSD. Não sei se é feito com o beneplácito da direcção, coisa que não me agradaria, mas a verdade é que ali não se comenta comunicação social, ali comenta-se política. Vamos analisar, ponto por ponto, o que disse JPP.

Começou com uma crítica à notícia do Expresso, que não li, sobre o novo porta-voz do PS. Se tinha alguma razão quanto à «lufada de ar fresco», foi infeliz ter aproveitado a maré para chamar atenção para as polémicas de Tiago Silveira. Aquele piscar de olho faz-se num artigo do Público, da Sábado, no Abrupto ou na Quadratura do Círculo - oportunidades não lhe faltam. Depois, quando pegou nos suplementos do Correio da Manhã, fez ali um exercício rebuscado que não se percebeu, ou melhor, percebeu-se, mas não se entende como é que encaixa no programa: afinal aquilo foi um elogio ao excelente trabalho jornalístico que é ter uma secção de classificados? Infeliz, mais uma vez. Quanto à crítica à utilização do termo tabu, JPP disse algo que me deixou um tanto, e pedoem o disfemismo, chocado, cito de memória: há palavras que a comunicação social não pode usar. Suponho, mas isto é apenas a minha desgraçada mania da liberdade e da democracia, que os órgãos privados de comunicação social têm o direito a utilizar as palavras que bem entendem. Se eles não podem utilizar termos como tabu, ou outros que JPP lá saberá, teremos então de criar uma poderosa polícia da comunicação, mais poderosa que a ERC, para riscar essas palavras feias que estragam os títulos.

Nem tudo foram coisas más. Aliás, estranho seria que assim fosse. A introdução foi muito certeira, na questão da submissão do povo ao Estado, do respeitinho parolo e tudo mais e a apresentação do livro do João Gonçalves foi também bastante positiva.

Enfim, muito PS, muito José Sócrates escondido aqui e acolá, muita campanha, pouca análise séria e objectiva. JPP bem avisa no início que o seu programa não será isento, que é de opinião, mas não é preciso chegar a tanto. É certo que uma opinião não é isenta por natureza, mas é sempre agradável quando contém alguma lucidez.

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publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 14:30link do post | comentar | ver comentários (3)

A lógica é, então, esta: Portugal não está a fazer uma boa execução do QREN, mas como os outros também não, não há problema. Não, caro Paulo Ferreira, ainda não funciona desse modo.

O facto de Portugal ser o 4º - até podia ser o 1º - na taxa de execução, por si só, não significa que esteja a fazer bem. Significa apenas que os outros estão a fazer pior. Nesta questão em particular não é honesto falar em contradição de Paulo Rangel, pois não houve nenhuma. A crítica é muito acertada, até porque, se é verdade que os outros fazem pior aproveitamento, é também verdade que a nossa situação é muito particular. O actual QREN foi um presente da Comissão, um último, para que descolássemos, depois de anos e anos a aproveitar mal aquilo que nos chegava - tão mal, que dos quatro da coesão somos o pior na actualidade. Não é bom brincar com esta situação, que é muito mais grave do que a generalidade pensa.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:47link do post | comentar | ver comentários (1)

«Será interessante constatar, no entanto, que Sócrates, não sendo complexo, possui vários complexos. O mais proeminente é, neste momento, o complexo de inferioridade provocado pelos resultados das eleições europeias. O primeiro-ministro sabe que, por culpa própria, parte em desvantagem para as legislativas, e portanto resolveu seguir a estratégia pueril das crianças mal comportadas na véspera de Natal: adoptam a postura suave e sonsa de quem nunca fez traquinices, comem a sopa até ao fim e prometem dotar mais generosamente o orçamento da cultura.»

 

Ricardo Araújo Pereira, na Visão


28
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 21:00link do post | comentar | ver comentários (3)

 

Amadeo Souza-Cardoso, Procissão Corpus Christi, 1913


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 17:01link do post | comentar | ver comentários (1)

José Sócrates parece ter aprendido alguns vícios com Vital Moreira. Se é certo que já noutras vezes tinha recorrido à fácil Ad Hominem, essa falaciazinha que no debate público em Portugal é elevada ao melhor dos argumentos, nomeadamente quando falou da «mundividência» de Manuela Ferreira Leite por várias vezes, nunca tinha sido tão estupidamente óbvio no ataque pessoal como agora. Vir insinuar aproximações de Manuela Ferreira Leite àquilo que eram os princípios do Estado Novo, a propósito da realização de eleições no mesmo dia, é de uma falta de carácter que só é suplantada pela estupidez política. Julgo que não há ninguém com plenas faculdades mentais que considere que Manuela Ferreira Leite uma maurrasiana tardia. Do mesmo modo que já ninguém acredita na conversa do grande partido da esquerda moderada, democrática e mais umas botas. José Sócrates foi baixo na argumentação, pensando que poderia tirar daí dividendos. Engana-se. Do mesmo modo que o eleitorado castigou a forma de fazer política de Vital Moreira, também castigará a de José Sócrates.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 11:16link do post | comentar

publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:14link do post | comentar

É curioso como em Portugal estas coisas são tão difíceis de perceber. Ide ler o texto de Daniel Hannan «Let's have lots of referendums».


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:12link do post | comentar | ver comentários (12)

 

Bloco de Esquerda: O Programa Eleitoral (6)

 

E, passados alguns dias, continuo a analisar o Programa Eleitoral do Bloco

 

6ª medida

Justiça acessível para todos e todas

Acesso ao apoio judiciário e diminuição das custas.

 

7ª medida

Saúde

Fim das taxas moderadoras. Nova política de medicamentos, para favorecer o acesso e a redução dos preços.

 

Ao contrário das medidas anteriores, das quais discordo por uma questão de princípio e por aquilo que têm subjacente, estas medidas não têm nada disso. São medidas meramente organizacionais, já que ambos os serviços são públicos.

No entanto, discordo do fim das taxas moderadoras e tenho dúvidas quanto à nova política de medicamentos. As taxas moderadoras são de extrema importância e, se calhar, até poderiam ser aumentadas. A questão é simples: o serviço nacional de saúde actual, tal como já escrevi anteriormente, promete algo impossível: um serviço ilimitado. É impossível que se satisfaçam todas as necessidades de saúde existentes com o dinheiro dos impostos, que, seja muito ou pouco, é sempre limitado. As taxas moderadoras são extremamente úteis para, precisamente, moderar os acessos aos serviços públicos de saúde, para que não tenhamos pessoas a ir para as urgências dos hospitais com uma simples dor de cabeça. Provavelmente a intenção do Bloco é muito boa, mas basta que se pergunte a uma recepcionista de um simples centro de saúde que se situe numa localidade mais ou menos populosa, como é que «a coisa» funciona e ela dirá que tem dois ou três cromos que aparecem lá todos os dias ou quase e sem necessidade nenhuma. Isto parece de loucos, mas acontece e basta que se pergunte. É necessário moderar o acesso à saúde, para bem de todos. É a velha questão de não se fazer abuso da nossa liberdade para que haja um maior equilíbrio. Se umas pessoas fazem uso abusivo dos serviços, outras, quando precisam, não o obtêm e isso não pode acontecer. Quanto à nova política dos medicamentos, não sei o que é que o Bloco têm em mente no concreto, mas tenho sérias dúvidas quando a um aumento ainda maior das comparticipações, a não ser que se trate de situações pontuais.


27
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 22:12link do post | comentar | ver comentários (2)

O manifesto dos não-sei-quantos tem um outro pecado original. É que para além de não apresentar ideia alguma, e, perdoem-me os signatários, mas esta é a mais pura das verdades, este manifesto não pode ser utilizado por quem convém que o utilize: José Sócrates.

Enquanto Manuela Ferreira Leite pôde piscar o olho ao manifesto do 28, que, apesar de tudo, junta personalidades relativamente independentes; José Sócrates não poderá utilizar este manifesto em particular. E isto deve-se a um factor muito simples: uma boa parte dos signatários é do Bloco de Esquerda e não convém a Sócrates dar razão a um signatário em particular: Francisco Louçã.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 17:29link do post | comentar | ver comentários (12)

Depois do manifesto dos 28, aquela monstruosidade neoliberal, surge agora o manifesto dos não-sei-quantos. Não sei mesmo quantos são, porque a televisão diz 51, o i diz 52 e o Público diz 60. Como gosto de rigor, prefiro não arriscar. Ora, este manifesto, coisa bem catita, não diz absolutamente nada. Qualquer pessoa que o leia fica a saber precisamente o mesmo que sabia antes de o ter lido. O exercício serviu apenas para que os signatários nos dissessem, que poderíamos eventualmente ter dúvidas, que discordam do outro manifesto. Porquê, em quê e o que pensam realmente, isso já é demais, não nos dizem. Ficamos apenas a saber deste manifesto que os seus signatários querem uma economia de esquerda, e quem não quer neste país?, que querem uma economia social e que querem muito investimento público. Eu por mim agradeço que tenham partilhado este pequeno desabafo comigo.

 

P.S.: E gostava de saber se as pessoas que se indignaram porque nem todos os signatários do outro manifesto eram economistas (havia dois engenheiros, um fiscalista e dois ou três gestores, segundo li) se irão também indignar por metade dos signatários deste segundo manifesto serem sociólogos. Só por curiosidade.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 15:07link do post | comentar

Podemos discordar do pensamento político, podemos tê-lo como um fútil socialite que se aventurou na política a ver o que dava e podemos considerá-lo a encarnação da incompetência em matéria de governação, seja nacional, seja local. Mas isto tudo, que se pode pensar de forma perfeitamente legítima, não leva a que se coloque em causa os valores pessoais e democráticos de Santana Lopes. A Palmira Silva coloca as declarações de Manuela Ferreira Leite taggadas como anedota e humor, mas, e isto não é contestável, não há nada de errado, incoerente ou mentiroso nas suas declarações. Santana Lopes pode ser um asno, pessoalmente não o avalio como tal, mas que tudo o que MFL disse é verdade, isso, é incontestável.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 12:05link do post | comentar

Golpaça bispal em tempos de eleições, por Palmira F. Silva.


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:08link do post | comentar

Numa democracia em cujo governo provém de uma força da esquerda moderna, moderada e democrática, seria de esperar que os ministros de prestassem a responder às perguntas jornalistas, quando estes as fazem. No entanto, em Portugal as coisas não funcionam assim. Curiosamente, isto não teve impacto nos media. Pergunto-me se tivesse sido no tempo do Santana Lopes. Que merda de sufoco.

 

vídeo via Blasfémias


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 09:16link do post | comentar | ver comentários (3)

Depois do Miguel Madeira e do Samuel de Paiva Pires, foi a vez do Stran me atribuir o prémio Lemniscata. Muito obrigado, ora portanto.


26
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 17:32link do post | comentar | ver comentários (3)

O amado líder indignou-se no Parlamento com a indecência dos senhores deputados da nação ao questionarem o seu governo sobre o negócio da Media Capital. Senhores deputados, com franqueza, isso é coisa de agentes privados e nós não nos intrometemos. E mesmo que fosse coisa nossa, qual é o problema? Têm medo que a Moura Guedes vá de férias até Outubro?

O Presidente da República, como lhe cabia, pronunciou-se sobre o assunto, pois não é coisa de somenos. Afinal, seria uma influência indirecta do Estado português sobre mais um meio de comunicação. Os fiéis apoiantes do senhor engenheiro vieram logo lançar twitteradas e posts contra essa bengala social-democrata que Cavaco Silva se revelou. Manuela Ferreira Leite aproveitou a entrevista para criticar duramente o papel do governo.

E, num instante, tudo mudou: José Sócrates e o seu governo, afinal, já tinham qualquer coisa a dizer. Tanto, que até chumbaram o negócio. E agora? José Sócrates também é porta-voz do PSD ou vão ceder uma vez mais ao double-thinking habitual?


publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 10:26link do post | comentar | ver comentários (4)

Não é novidade, mas agora que morreu, a coisa agudizou-se. Ao comentar a morte de Michael Jackson há sempre quem não resista a condená-lo, mais ou menos subtilmente, por ter renegado as suas origens, por ter feito tantas operações e por ter ficado aquilo que todos sabemos. Pois eu, por mim, não o condeno nem nunca conseguiria condená-lo. A culpa da angustia de um homem por não conseguir viver em paz com aquilo que é nunca pode ser sua. Se Michael Jackson não era feliz preto, é porque nunca o deixaram ser feliz. O nojo um homem por si mesmo não nasce com ele, não pode nascer, é-lhe causado por quem o rodeia. Por quem não lhe comprou um disco porque, afinal, era só um preto de merda a cantar umas cantigas. Quem condena Michael Jackson pelo que fez, deveria condenar-se a si próprio por todas as vezes que criou em alguém a vontade de fazer o mesmo, multiplicando-lhe a angustia por não o conseguir fazer. O homem que morreu ontem, que claramente não é o homem que nasceu há cinquenta anos, é um produto do nosso mundo, não é uma coisa à margem que se autodeterminou. Por isso, em vez de dizerem barbaridades, fiquem calados e, no máximo, oiçam as músicas e agradeçam-nas.


25
Jun 09
publicado por Tiago Moreira Ramalho, às 23:31link do post | comentar | ver comentários (3)

Quando morre alguém assim, é uma parte do mundo e uma parte de nós que também vai, mais não seja por nos termos habituado a viver com a sua arte na cabeça. Michael Jackson foi, é e será sempre o maior dos artistas. Cinquenta anos entre nós deram-lhe esse estatuto. Imaginemos o que seria se tivesse tido oportunidade de prolongar um pouco mais a sua vida.

 

 

 

 


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